O modesto crescimento reduziu a demanda por trabalho,
mas a oferta também está sendo feita num ritmo menor.
Marcelo Camargo / ABr
A economia brasileira tem crescido de forma
modesta desde 2011. Era esperado que a taxa de desemprego aumentasse.
Mas isto não ocorreu. Muitos dizem que ainda vai ocorrer, que existiria
uma suposta defasagem: primeiro a economia desacelera, depois vem o
aumento da taxa de desemprego. Há muitos que torcem por isso. Mas não é
provável que isto ocorra.
O ponto focal é que a taxa de desemprego depende da oferta e da demanda de mão de obra. A oferta de mão de obra é feita pelos trabalhadores. Já a demanda é feita pelos empresários. O modesto crescimento econômico reduziu o ritmo de crescimento da demanda por trabalho.
Contudo, ocorreu que a oferta de trabalho também reduziu o seu ritmo de crescimento. Isto explica a manutenção da taxa no patamar que está.
A geração de postos de trabalho formais (com carteira assinada, os celetistas) é o melhor indicador da demanda empresarial por mão de obra. Depois de 2010, a economia brasileira entrou numa fase de crescimento modesto e, portanto, a demanda por trabalho está desacelerando. Quando é feita a comparação da geração de empregos com carteira de janeiro a julho de 2009 a 2013 é revelado o tamanho do problema (ver o gráfico). Manobras não recomendadas da política econômica explicam grande parte da redução do ritmo de busca empresarial por novos trabalhadores.
A oferta de mão de obra depende de diversos fatores. Há fatores demográficos, entre outros. Os dados dos Censos de 2000 e 2010 revelam que está havendo uma desaceleração no ritmo de crescimento da população em idade laboral. A população entre 18 e 59 anos cresceu somente 20,8% entre os dois Censos. Muito importante também, a população de jovens de 18 anos caiu 10% e a de 19 decresceu 6,1%. Vale a pena comparar: entre 2003 e 2012, a demanda empresarial por trabalhadores formalizados cresceu 63% - resultado: o desemprego nas regiões metropolitanas caiu de 12,3%, em 2003, para 5,5%, em 2012.
Ademais, há outros motivos que estão retardando a entrada de jovens no mercado de trabalho.
As condições benéficas criadas no período 2003-2013 possibilitaram o ingresso de grande parte da juventude brasileira no ensino superior. São jovens que vão para a universidade e muitos não precisam simultaneamente buscar trabalho. Os números são reveladores.
Houve aumento significativo de matrículas no ensino superior. Em 2003, eram 3.989.366; em 2011, alcançaram 6.765.540. Aumento de 70%. As universidades federais tinham 583.843 matrículas, em 2003; este montante aumentou para 1.003.014, em 2011. Além disso, os programas do governo federal Fies e Prouni que concedem bolsas em instituições privadas de ensino superior alcançou um milhão de beneficiados em 2013.
A própria redução do desemprego e a elevação dos rendimentos do trabalho, que já ocorreram, também explicam a redução da oferta de mão de obra. É um caso típico aquela situação onde pai e mãe estão empregados com uma renda familiar minimamente satisfatória e, em consequência, podem oferecer aos filhos a oportunidade de estudar sem ter que buscar trabalho e engrossar o exército daqueles que ofertam mão de obra.
Em conclusão, a taxa de desemprego depende da demanda e da oferta de trabalho. No Brasil, a oferta tem sido “generosa” e, assim, o modesto crescimento econômico não tem se transformado em desemprego. Deve-se reconhecer que a diminuição do ritmo de crescimento da oferta de trabalho é também obra de políticas públicas corretas (do Ministério da Educação, principalmente). Contudo, a redução do ritmo de crescimento da demanda por trabalho é igualmente obra das políticas governamentais. Neste caso, foram e são políticas equivocadas.
Carta Capital
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