17 de dezembro de 2012
A sociedade não tinha ciência da precariedade do sistema judiciário nacional, a começar pelo Supremo
Danton, no tribunal em que foi condenado à guilhotina, disse que se tratava de um “julgamento político”, e portanto com escasso interesse por coisas como provas.
O julgamento do Mensalão, hoje enfim concluído, teve exatamente este
pecado: foi muito mais político que técnico. A rigor, você nem
precisaria de tanto tempo de discussões no STF. Cada juiz já parecia
desde antes saber exatamente como seria seu voto.
Houve, desde o início, uma intenção de dar ao caso uma dimensão
espetacularmente inflada. Lula, de certa forma, provou o próprio veneno.
Ele, que tantas vezes usara a expressão “nunca antes na história deste
país”, viu-a ser empregada repetidamente pelos juízes, e depois pelos
suspeitos de sempre nas colunas de jornais e revistas.
A opinião pública, expressa nas urnas, não concordou com a gravidade
que se quis dar ao caso. O mais notório exemplo disso foi a vitória de
Haddad em São Paulo, tirado do nada por Lula em pleno julgamento. É como
se o eleitor tivesse dito o seguinte: “Houve erro no PT no episódio?
Sim. Mas não deste jeito. Estão transformando um riacho num oceano. Por
quê? Alguma vantagem eles estão extraindo disso.”
Paradoxalmente, o Brasil aprendeu com o julgamento – e pode se tornar melhor, se corrigir absurdos que ficaram expostos.
Todos soubemos como se chega ao STF, a mais importante corte do
Brasil. O ministro Luiz Fux descreveu, à jornalista Mônica Bérgamo, sua
louca cavalgada. Foi atrás de Zé Dirceu, na busca de apoio para seu
nome, mesmo sabendo que teria que julgá-lo depois.
Como uma criança, rezou e se agoniou enquanto esperava a confirmação
de seu nome para uma vaga no STF. E então chorou. “As lágrimas dos
fracos secam as minhas”, escreveu Sêneca. Lembrei imediatamente dessa
grande frase ao ler sobre o choro de Fux.
Os brasileiros souberam também como Joaquim Barbosa chegou ao
Supremo: porque Lula queria um ministro negro. Não foi por talento, não
foi por notório saber. Foi por uma ação de Lula que pode ter sido
demagógica, simplesmente, ou nobre. E foi também porque Barbosa teve a
cara suficientemente dura para se apresentar a Frei Betto quando o acaso
os reuniu numa loja da Varig em Brasília.
Por tudo isso, o STF é um problema, e não uma solução. Se havia
dúvidas sobre a precariedade do judiciário, elas desapareceram. Para o
Brasil progredir, o judiciário terá que ser reformado. Isso ficou
patente quando o STF ficou sob os holofotes nestes últimos meses, e eis
um benefício para o país. Você pode debelar um incêndio apenas se tiver
ciência dele, e o fato é que o Supremo arde.
De resto, parece ter ficado na sociedade a percepção de que Barbosa
traiu a quem o pôs no Supremo. A acanhada opção por ele na pesquisa do
Datafolha publicada domingo é um sinal disso.
Numa lista espontânea, sem nomes sugeridos, ele sequer apareceu. Em
listas estimuladas, foi mediocremente escolhido. Teve 9% das indicações
num cenário em que Dilma (54%) concorreria. E 10% quando surgia o nome
de Lula (56%).
Isso dá bem a medida do que foi o Mensalão. O eleitor não se encantou
com JB e com o STF – e os torrenciais elogios derramados sobre eles na
mídia não surtiram efeito sobre a população. Está claro que o pelotão de
colunistas conservadores não está convencendo muita gente. Parece ser o
caso clássico de conversão de convertidos.
Para quem imaginava que JB podia ser o heroi capaz de derrotar Dilma
ou Lula em 2014, os primeiros indícios não são nada animadores.
O que se consolida é o seguinte: o partido que desejar o poder, no
Brasil destes tempos, tem que bater o PT no campo social. Tem que
mostrar aos brasileiros que possui políticas melhores para combater o
mal maior do país – a colossal, abjeta desigualdade social.
É um grande avanço.
O resto é silêncio, como escreveu Shakespeare.
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