A
presidenta Dilma Rousseff, o presidente Dmitri Medvedev (Rússia), o
primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, e os presidentes Hu Jintao
(China), e Jacob Zuma (África do Sul) durante foto oficial da 4ª Cúpula
do Brics, na Índia. Foto: Roberto Stuckert Filho/Presidência da
República
por Mauro Santayana, no JB Online, via seu blog pessoal
Atribui-se ao controvertido general Golbery do Couto e Silva a máxima
de que só os incompetentes perdem o poder. A frase, em si, pode ser
inteligente, mas deve ser submetida a uma investigação da lógica.
Devemos antes entender de que poder se trata. Há os que consideram o
poder como exercício do hedonismo puro; outros, a colheita da bajulação
ou da adoração. Outros ainda, de pragmatismo canalha, dele fazem o meio
de enriquecimento pessoal.
E há os que buscam o poder a fim de realizar projeto político
honrado. Na raiz da ideia milita a discussão entre os meios e os fins.
Sendo assim, o poder é apenas um meio. A ética aconselha não fazer
distinção entre uma coisa e outra; a prática vulgar da política faz dela
uma regra, quando o objetivo é o do poder pelo poder. O meio já
encerra, em si mesmo, o fim, como ocorre com qualquer caminho.
O governo da presidente Dilma Rousseff está diante desse dilema.
Ministros defenestrados entram pelos portais palacianos, inflados de
insolência, a fim de indicar seus sucessores. E, entre os ministros
atuais, há os que, com arrogada autonomia, sabotam projetos do governo,
agindo na contramão dos fins anunciados, como Paulo Bernardo, no caso da
banda larga e da Telebras e em suas concessões às empresas
estrangeiras.
Uma das grandes dificuldades do atual governo é a falta de
coordenação entre os seus integrantes. A boa prática administrativa
recomenda reuniões ministeriais periódicas e, no intervalo entre elas,
consultas bilaterais, sempre que for o caso. No governo atual elas são
quase inviáveis: como reunir 40 ministros, com a frequência
recomendável?
Argumenta-se que a chefe do poder executivo federal é refém do
parlamento e, para governar, tem que dar a cada partido, conforme sua
representação, fatias do poder. É verdade, mas um governo, com a
aprovação popular da atual presidente, pode virar a mesa, se quiser, e
reduzir o número de ministérios ao patamar da razoabilidade.
É difícil administrar sem projeto nacional que se apoie em programa
de ações coordenadas, como ocorreu, com seus acertos e erros, durante os
governos de Vargas e Juscelino. Vargas defrontou-se com a prolongada
crise econômica dos anos 30, agravada pela ascensão das potências do
Eixo, mas, ainda assim, iniciou a ocupação racional do território,
estabeleceu as bases de uma política social mais justa e, no momento
certo, fez a opção internacional que mais nos convinha, ao aliar-se aos
Estados Unidos. No segundo governo, avançou no desenvolvimento
econômico, o que lhe custou a vida – mas não se afastou do seu objetivo
de construir a grandeza nacional. Juscelino prosseguiu no mesmo caminho,
e governou de acordo com o seu programa de metas.
Os dois sofreram, tanto quanto o atual governo, a pressão dos
interesses antinacionais, exercida mediante parcela comprometida dos
meios de comunicação. A situação internacional, hoje, é mais favorável.
Não estamos submetidos ao maniqueísmo da Guerra Fria, e isso nos
possibilitou aproximação com países emergentes como o nosso – a China, a
Rússia, a Índia e a África do Sul. Não estamos aproveitando bem essa
aliança natural com os BRICS.
Estamos agora construindo submarinos movidos a energia nuclear em
parceria com a França, quando nos teria sido muito mais vantajosa
parceria com a Rússia, de tecnologia melhor. E mais: nada explica nossas
relações desiguais com a Espanha, que tem retirado do Brasil, por
intermédio de suas empresas aqui, alguns dos recursos com que vai
engambelando os seus credores. O BNDES tem sido mais do que generoso com
instituições espanholas, como o Banco Santander e a Telefônica.
Terça-feira os países do BRICS se reúnem novamente em Durban, na
África do Sul, com a presença de seus líderes maiores. É um bom momento
para que o Brasil aprofunde as parcerias econômicas com a China, a Índia
e a Rússia, que dispõem de recursos e tecnologia que ainda nos faltam –
a fim de que possamos retornar ao Grande Projeto Nacional de Vargas.
Mas é também necessário que coloquemos a administração nacional sob o
jugo da racionalidade.
Viomundo
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