A "síndrome de Collor" é comum em candidatos que
aparecem muito mal pontuados em pesquisas de opinião. Todos se acham
capazes de reverter os números e vencer. É um engano recorrente
Moreira Mariz / Ag. Senado
A irrupção meteórica de Fernando Collor no cenário nacional e o que aconteceu nos breves meses em que esteve à frente do governo federal marcaram a cultura política brasileira contemporânea.
Algumas consequências são óbvias, como o aumento da
aversão ao risco do eleitor comum, que desenvolveu, a partir daquela
experiência, ojeriza aos “candidatos-surpresa”, os que lhe são
apresentados na última hora e parecem sedutores. Como vimos nas
principais eleições realizadas desde então, o espaço para invencionismos
diminuiu de forma considerável. Na dúvida, a vasta maioria dos
eleitores prefere não arriscar.
Outros efeitos são menos evidentes, mas também significativos.
Um dos mais curiosos poderia ser chamado de “síndrome
Fernando Collor” e atinge os políticos profissionais e os aspirantes a
sê-lo.
É uma condição típica dos candidatos que as pesquisas
mostram ter poucas chances nas disputas majoritárias. Ante qualquer
ponderação realista a respeito de suas possibilidades de vencê-las,
respondem: “Se Collor terminou ganhando a eleição de 1989, apesar de não
ter mais de 5% no início do ano, por que isso não poderia ocorrer
comigo?”
Ao pensar assim, enchem-se de brios e vão adiante,
lançando-se a aventuras que o bom senso recomendaria evitar. Acham que
são Collor, no sentido de vencedores contra prognósticos razoáveis.
Já tivemos inúmeros
candidatos a prefeito, governador e presidente da República afetados
por essa síndrome. Nos institutos de pesquisas, aparecem a cada eleição,
sempre a carregar na algibeira aquele repto em tom de pergunta: “E se
eu for o Collor de agora?” É seu modo de lidar com a decepção de ver
números que desanimariam qualquer cidadão normal.
Nos dias de hoje, o mais saliente exemplo de político
acometido por essa moléstia é o governador de Pernambuco, Eduardo
Campos, do PSB. Não é o único.
Campos já esteve do outro lado: quando disputou seu
segundo mandato de governador, manteve-se durante toda a campanha
favorito a permanecer no Campo das Princesas, sede do governador
pernambucano. Se olharmos a série de pesquisas do Datafolha naquela
eleição, ele nunca obteve menos de 59% das intenções de voto.
O adversário mais próximo, o senador Jarbas Vasconcelos
(PMDB) – hoje seu aliado, diga-se de passagem –, chegou a 28%, mas não
se sustentou e foi a menos de 15% no último levantamento do instituto,
às vésperas das eleições. Os demais candidatos, entre eles Edilson Silva
(PSOL), Fernando Rodovalho (PRTB) e Sérgio Xavier (PV), alcançavam no
máximo cerca de 1%.
Ante Dilma, Campos é atualmente uma
espécie de nanico, não muito diferente, em termos numéricos, daqueles
seus antigos adversários. Ela beira atualmente os 60% e ele tem menos de
3%. O socialista por pouco não repete o desempenho dos Rodovalho em
2010.
Apesar de ter estofo e densidade política maiores, algo
semelhante acontece com o ex-governador Aécio Neves, do PSDB mineiro.
Também o tucano, quando disputou a reeleição em Minas Gerais, era uma
barbada. Segundo o mesmo Datafolha, sempre teve cerca de 70% das
intenções de voto, enquanto seu principal oponente, Nilmário Miranda
(PT), ficava, de acordo com o instituto, em torno dos 6% (na urna,
recebeu 22% dos votos válidos, mas essa é outra história).
Se Campos está para Dilma como Rodovalho estava para ele,
para Aécio o caso seria uma comparação a Nilmário. Candidatos
respeitáveis, mas, tudo indica, a caminho da derrota. E, de fato,
terminaram por perder a corrida eleitoral.
Mas lá está o “caso Fernando Collor” para
encher de esperança os dois oposicionistas. Ambos, juntamente com os
que torcem por eles e os que nem sequer os apreciam, mas querem que
derrotem o PT, preferem ignorar sua trajetória, a fim de continuar a
crer que a eleição de 2014 “está em aberto”.
O problema? O
“caso Collor” é irreproduzível. Nada daquela eleição vai se repetir no
próximo ano. O Brasil é outro, os eleitores são outros, o governo é
outro, os candidatos são outros. E porque o “caso” já aconteceu e deixou
sequelas.
De parecido, só uma coisa: em uma estranha coincidência, a
cada 12 anos, como se fosse um cometa que orbita o Sol nesse período,
surge, no Nordeste, um jovem governador, audaz e bem falante, querendo
ser presidente.
Em 1989, Collor conseguiu e sabemos em que acabou. Em 2002 foi a vez de Ciro Gomes, que ficou pelo caminho. E Campos?
Carta Capital
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