Vi o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciar que o governo
estuda a forma como trará médicos estrangeiros para atuar no Brasil,
principalmente nas localidades mais remotas e carentes do país, que têm
grande déficit de profissionais de saúde. O ministro não foi muito
preciso, nem deu detalhes dos estudos em andamento no governo e o ponto
mais esclarecedor que adiantou é que a intenção é que esses médicos
venham principalmente de Portugal e da Espanha, países às voltas com
séria crise econômica e onde eles estão sem emprego.
Sobre o
anúncio feito pelo Itamaraty no início deste mês, de que o Brasil
discute com Cuba um acordo para receber cerca de 6 mil médicos daquele
país, o ministro estranhamente não disse uma palavra. Não entendo esse
recuo com relação aos médicos cubanos. Pode ser mais uma decisão do
governo, mas que, na prática, é uma concessão à Rede Globo e à direita,
que engrossaram o coro corporativista das entidades médicas numa reação
com muitos protestos à notícia da contratação dos seis mil médicos
cubanos.
De qualquer forma, parece que o governo vai adotar um
modelo restrito de contratação de médicos estrangeiros, com critérios
razoáveis para evitar a revalidação dos diplomas, o que, na prática,
significa uma reserva de mercado para médicos brasileiros.
Outra
saída para a carência de médicos no interior do país, uma alternativa
ótima, mas que o governo não assume, é a obrigatoriedade do serviço
social para quem estuda em universidade pública: o médico se formaria em
escola pública e dedicaria seus primeiros anos de trabalho profissional
à essas populações e regiões. É uma prática comum em países
desenvolvidos ou não.
Sabemos que a oposição a contratação de
médicos estrangeiros é puro corporativismo e que a prova de validação
(exigida pelo Brasil e enaltecida por quantos criticaram agora a
contratação dos médicos cubanos) é outra forma de manter a reserva de
mercado. Sabe-se que milhares de médicos brasileiros não seriam
aprovados se submetidos à mesma prova de validação.
O mantra da
Rede Globo (no início do mês, quando do anúncio da contratação dos
cubanos) de que nossos médicos não aceitam trabalhar em regiões e
cidades remotas e pobres por falta de condições é uma mentira, porque
hoje eles já se recusam a trabalhar em cidades pequenas e médias com
condições iguais ou melhores do que nos hospitais das capitais. Daí a
grande concentração deles nas grandes metrópoles.
A recusa, na
verdade, é corporativismo e um comodismo de classe inaceitável,
especialmente no casos dos que se formaram em escolas públicas. Devemos
abrir esse mercado com todas as precauções adotadas pelo Ministério da
Saúde e estabelecer por lei a exigência da prestação do serviço social
obrigatório investindo, é óbvio, na melhoria do atendimento médico
hospitalar em todo o país, especialmente nos bairros mais carentes das
grandes cidades e nas regiões mais pobres e distantes do país.
Vejam, também, a nota acima Vinda de profissionais da saúde não pode ser tabu no Brasil.
Blog do Zé Dirceu
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