Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Detalhes da execução do casal João Antônio dos Santos Abi
Eçab e Catarina Abi Eçab foram revelados hoje (16) pelo soldado do
Exército Valdemar Martins de Oliveira em depoimento prestado à Comissão
da Verdade do Estado de São Paulo.
Os dois estudantes de filosofia foram mortos em 1968 e, segundo
Oliveira, o autor do crime foi o coronel Freddie Perdigão, apontado como
um dos criadores do Departamento de Operações de Informações – Centro
de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). “Ele se abaixou, quase de
joelhos, e deu um tiro na cabeça de cada um”, disse, detalhando que
Perdigão usou uma pistola Colt 45.
Oliveira garante ter participado de toda a operação que resultou na
execução do casal, desde a captura em uma casa no bairro de Vila Isabel,
na zona norte do Rio de Janeiro, até os dois serem levados para um
sítio à margem da Via Dutra, onde foram mortos. Segundo ele, antes da
execução, o casal foi torturado em uma chácara em São João do Meriti, na
Baixada Fluminense. “Um lugar tenebroso”, descreveu.
Algum tempo depois da execução, Oliveira disse que deixou o Exército
por não concordar com aquele tipo de violência e que chegou a passar um
ano no Chile para escapar das perseguições dos militares. Em 1998 foi
reintegrado, sendo dispensado no ano seguinte.
A versão oficial da época atribuiu a morte do casal Abi-Eçab à
detonação de explosivos que os dois estudantes transportavam enquanto
viajavam de carro pela BR-116, no trecho próximo a Vassouras. Mas, em
2000, o laudo da exumação dos restos mortais mostrou que os dois foram
executados. Militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), o casal era
suspeito de ter participado da execução do capitão do Exército
norte-americano Charles Rodney Chandler, em 12 de outubro de 1968.
Também participou da operação de sequestro e execução do casal, de
acordo com Oliveira, o sargento Guilherme do Rosário, que morreu no
atentado do Riocentro, quando a bomba que carregava explodiu no seu
colo, dentro do carro. O soldado reforçou a ligação de Rosário com o
coronel Perdigão, apontado como mentor do atentado à bomba mal-sucedido
ao Riocentro, onde ocorria o show comemorativo do Dia do Trabalho, em 1981. O coronel Perdigão morreu em 1997.
Em seu depoimento, Oliveira destacou ainda a participação de agentes
dos Estados Unidos na doutrinação de soldados brasileiros. Segundo ele,
nos treinamentos foram exibidos filmes de torturas cometidas pelos
norte-americanos na Guerra do Vietnã.
Agência Brasil
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