Numa primeira reflexão com auxiliares sobre a dramática vitória da MP
dos Portos na Câmara dos Deputados, por 210 a 172, em sessão que
terminou às 4h55 desta quarta-feira 15, presidente Dilma demonstra
gratidão por empenho de chefes da legenda aliada; cita nominalmente o
presidente da Câmara Henrique Alves, o líder Eduardo Braga, o presidente
do Senado Renan Calheiros e o vice-presidente Michel Temer como
extremamente leais; e espera enquadramento exemplar ao líder Eduardo
Cunha, que atuou como o maior dos oposicionistas; ele é mesmo o melhor
líder para o novo momento de paz e amor entre a presidente e o PMDB?
247 – O PMDB está em alta com a presidente Dilma Rousseff, na mesma medida em que, na outra ponta da gangorra, o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), estacionou na baixa. Emenda aglutinativa dele à MP original foi derrotada por 210 votos contra 172. O texto de Cunha iria "desfigurar" as intenções do governo com a MP.
Feita na manhã desta quarta-feira 15, a primeira avaliação da presidente após a aceitação, pela Câmara, do texto da Medida Provisória dos Portos, é de gratidão aos chefes da legenda no Congresso. Dilma considerou a auxiliares que os papéis do presidente da Câmara, Henrique Alves, do líder do governo, Eduardo Braga, do vice-presidente Michel Temer e do presidente do Senado, Renan Calheiros, foram desempenhados com grande lealdade ao governo - mas a presidente não consegue aceitar o comportamento ostensivo, contra os interesses da administração, do líder Cunha.
A votação dos destaques da MP dos Portos só foi encerrada às 4h55 da manhã desta quarta-feira 15. Dilma viu na sessão madrugadora um forte sinal do empenho pessoal de Alves em torno da MP. "Incansável" foi um dos termos usados sobre ele durante a conversa de resgate dos acontecimentos parlamentares. O preparo técnico do líder do governo no Congresso, o senador peemedebista Eduardo Braga (AM), na defesa da MP, igualmente foi elogiada. A campanha a favor da virada de votos recalcitrantes no PMDB, feita praticamente à base do corpo a corpo por Temer e Renan, que mergulharam na articulação governista, não ficaram de fora dos reconhecimentos da presidente.
O problema é Cunha.
O Palácio do Planalto já havia detectado nele uma rebeldia acima do aceitável na condução do alinhamento da bancada em torno da MP. Cunha esticou todas as cordas para o lado da oposição. Durante o processo, ele concedeu uma entrevista ao jornal Valor Econômico repleta de críticas e ameaças ao governo, apontada como indesculpável pelo Planalto. "Vamos ver como ficaremos em 2014", desafiou ele, praticamente lançando a semente para um rompimento, na sucessão presidencial, entre seu partido e o PT de Dilma.
O assanhamento de Cunha contra a MP dos Portos, criticado duramente por Dilma junto aos demais caciques do partido, acendeu um forte sinal de atenção entre os maiorais do PMDB. Se a situação criada pela oposição do líder não viesse a ser resolvida, com a aprovação da MP, avaliou-se que não haveria desculpas suficientes no mundo para fazer a presidente superar sua decepção.
Com o mapa da votação da MP dos Portos na mão, o governo adianta que vai "tratar como oposição" os parlamentares que votaram contra o texto do governo. O fato de a votação ter sido nominal deixa claro quem foi quem. "Agora sabemos exatamente quem está conosco", diz uma fonte palaciana. "E, claro, quem está contra nós".
No Planalto, acredita-se, à luz das primeiras avaliações da dramática vitória parlamentar, ainda não de todo consumada, que Cunha provou ser o líder menos adequado ao verdadeiro padrão de relacionamento entre o PMDB e o governo. Com Alves, Braga, Renan e o vice-presidente Temer, Dilma nunca vira as dificuldades internas da aliança serem explicitadas publicamente. Bastou, porém, a primeira oportunidade para Cunha, na prática, subir ao palanque da oposição.
O melhor que a presidente espera, agora, é o enquadramento político do líder a ser feito pelos chefes da legenda. Quanto mais Eduardo Cunha vier a ter suas "asas cortadas" pelo PMDB, tanto mais Dilma ficará ainda mais satisfeita com a legenda.
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