Numa Europa
mergulhada em seis trimestres consecutivos de recessão, mídia
tradicional representada pelo Financial Times não tem moral para
ministrar lições a quem cresceu 1% no primeiro semestre (contra 0,5% do
Japão, por exemplo), criou 200 mil empregos no mês passado e mantém a
inflação dentro da meta do BC; só pode ser dor de cotovelo de quem vê o
velho continente ficar cada vez mais conturbado – e velho, sem condições
de compreender uma politica econômica que, contra tudo e todos, vai
dando certo; hoje, a pretexto de comentar saída de Nelson Barbosa da
secretaria executiva do Ministério da Fazenda, FT aposta num racha na
equipe econômica que, como seu viu pelo desfecho, foi resolvido; como
disse o professor de Harvard Dani Rodrik, que o Financial Times não
ouviu, "o Brasil é um país normal, o que nos dias de hoje quer dizer
muita coisa"
247 – O Estado de Bem Estar brasileiro estampa a edição do dia do
principal jornal de economia do planeta, o Financial Times. O Brasil,
afinal, cresceu 1% no primeiro trimestre, o dobro da elevação da
economia japonesa, elogiada no mundo dos países ricos pela elevação de
0,5% no mesmo período. Um por cento que vale por muito mais, à medida em
que a Europa apresentou no mesmo período o sexto trimestre consecutivo
de crescimento negativo, ou seja, 18 meses com os pés e as mãos da zona
do euro atolados na recessão.
O Brasil, para chamar a atenção do Financial Times, criou 200 mil
empregos no mês de abril, apontando para um segundo semestre de economia
animada, enquanto países como Espanha e Portugal mantêm-se ancorados em
taxas de desemprego de dois dígitos. Em razão de programas
assistenciais como o Bolsa Família, que contribuiu decisivamente para
tirar 40 milhões de brasileiros do estado de miséria, não há, no Brasil
dos últimos dez anos, cenas comparáveis às batalhas campais de cidadãos
gregos contra suas forças de segurança, em protesto contra as políticas
de austeridade determinadas para salvar a primeira democracia do mundo
da bancarrota econômica.
O FT com sua redação de alto gabarito deve ter se interessado, ainda,
pela taxa brasileira de inflação que se mantém na meta estipulada pelo
Banco Central, apurada em 6,9% nos últimos dozes meses, associada à
criação de 4,1 milhões de empregos formais desde janeiro de 2011, quando
tomou posse o governo da presidente Dilma Rousseff. Um número,
repita-se, de 4,1 milhões de novos empregos repleto de contratações de
estrangeiros, expulsos, na prática, de uma Europa deprimida e sem
coragem para mudar sua política econômica.
No entanto, apesar do quadro objetivo, o vetusto Financial Times fez
foco na economia brasileira como um corvo olha para a carniça que lhe
interessa, de maneira invejosa e predadora. Porque, diz a editorializada
matéria do FT, o Estado de Bem Estar brasileiro seria apenas e tão
somente de fachada, ou, como se diz aqui, para inglês ver.
Nada mais falso. Instalado no coração da crise, na City londrina da
Libor desmoralizada (a secular taxa de juros inglesas está sendo trocada
por outro indexador, ainda a ser criado, em razão da manipulação
fraudulenta sofrida pela ação ilícita de bancos locais), o Financial
Times pendurou a humildade junto com suas galochas e segue acreditando
ser capaz de ministrar ao mundo as fórmulas ultrapassadas que não estão
dando certo nem no perímetros avistados de seus janelões – quanto mais
além mar.
Hoje, o FT versa sobre a saída do secretário executivo do Ministério
da Fazenda, Nelson Barbosa, já em férias. A aposta, mais uma vez, não
corre pelo lado positivo, a partir do ponto óbvio da permanência do
titular Guido Mantega, mas da pior hipótese, como perda do melhor quadro
entre os auxiliares do ministro. Um texto feito para dividir e
intrigar. De resto, um texto ultrapassada, porque a silenciosa saída de
Barbosa do governo não provocou nenhum abalo interno, como muitos
gostariam, mas consumou-se como um episódio natural em qualquer governo,
onde os divergentes, sem formar consenso ou maioria, perdem e saem.
Como disse o professor de Harvard Dani Rodrick, em passagem pelo Brasil
na semana passada, "este é um país normal, o que nos dias de hoje
significa muita coisa".
Buscar humildade num jornalista, inglês ainda por cima, curvado à uma
das realezas mais caras e empoeiradas do mundo, nunca é fácil. Mas pelo
visto, na redação do Financial Times, a missão é mesmo impossível.
Todos os números, projeções e retrospectivas mostram que a experiência
brasileira de aposta no mercado interno como sustentação do crescimento
têm dado certo até aqui. Por mais que quem esteja de fora não a entenda
ou, simplesmente, pela desvão do velho e sempre presente imperialismo,
não as queira compreender e, como seria correto, admirar.
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