segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Com Liliana e ciberespiões, Obama testa limite de Dilma

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Diplomacia americana aumenta tensão com o Brasil; primeiro foi a nomeação, em junho, da embaixadora Liliana Ayalde; com a experiente executiva da Usaid em Brasília veio junto a lembrança do golpe parlamentar no Paraguai, em 2011, onde ela ocupava o mesmo posto; na semana passada, visita do secretário John Kerry reafirmou ciberespionagem sobre cidadãos; agora, Casa Branca é informada especialmente de detenção de brasileiro em Londres por governo inglês e não se explica; Barack Obama amplia rede de espionagem americana para se tornar o Grande Irmão; visita da presidente a Washington confirmada para outubro
19 de Agosto de 2013 


247 – Se se pode chamar a política externa americana de prática de diplomacia, pode-se dizer, enfim, que a diplomacia americana retrocedeu no tempo e está testando os limites dos integrantes do Itamaray, em geral, e da presidente Dilma Rousseff, em particular.

Uma sequência de atos combinados entre si estabelece, neste momento, um ambiente de profundo descontentamento do Brasil em relação ao governo do presidente Barack Obama. Ele não apenas está confirmando a sensação generalizada de que administrações democratas são piores para as relações com o País, como assumindo o papel destinado ao Grande Irmão do livro 1984, de George Orwell. Isso era tudo o que não se esperava dele.

Como o personagem principal, Obama ampliou a tal ponto a rede de ciberespionagem americana que hoje detém, na prática, informações detalhadas sobre milhões de cidadãos de dezenas de países. Elas são obtidas pelos computadores do Departamento de Estado, da CIA, da NSA e de outros órgãos do governo americano por toda a sorte de meios, entre eles a colaboração direta dos serviços de espionagem de outros países.

Confirmando a antiga aliança e cooperação, o governo inglês informou à Casa Branca a detenção, no aeroporto de Londres, do brasileiro David Miranda, companheiro do jornalista inglês Gleen Greenwald, que publicou no The Guardian informações transmitidas pelo ex-militar americano Edward Snowden. Num gesto pouco cortês com os ingleses, os americanos, em pronunciamento oficial na Casa Branca, afirmaram que "isso é algo que eles fizeram independentemente da nossa direção", referindo-se ao governo britânico. Mais que uma gafe, a declaração do porta-voz Josh Earnest é uma autêntica confissão de estratégia comum com os ingleses. Ele não adiantou, porém, nenhuma explicação pela ocorrência e, muito menos, algum pedido de desculpas ao Brasil pelo fato de os Estados Unidos estarem participando, ainda que como observadores privilegiados, de um ato contra um cidadão brasileiro.

O primeiro gesto de marcação da nova postura dos EUA frente ao Brasil – mais rude e crua – se deu com a nomeação da embaixadora do país em Brasília, Liliana Ayalde, em junho. O governo brasileiro concedeu o agrément, mas não sem ter uma lembrança bastante clara da passagem dela pela embaixada do Paraguai. Dali, Liliana presenciou o golpe parlamentar que, em 2011, destituiu o presidente Fernando Lugo. Antes, com sua atuação de 24 anos na Usaid – oficialmente, Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional e, na prática, braço operacional dos órgãos de segurança do país --, Liliana se tornou uma especialista em América Latina, com passagens por Nicarága, Bolívia e Colômbia.

Nos últimos tempos, a embaixada dos EUA em Brasília tem se esmerado em acompanhar muito de perto as ações comerciais e políticas do Brasil no exterior. Companheiro do brasileiro David Miranda, detido por nove horas no aeroporto de Londres, na semana passada, o jornalista Greenwald já depôs na Comissão de Relações Exteriores do Senado sobre as revelações contidas nos documentos obtidos por Snowden. Ele garantiu que o embaixador americano Thomas Shannon, antecessor de Liliana em Brasília, chegou a comemorar uma vitória comercial dos EUA sobre o Brasil baseada, supostamente, numa informações obtida por meio de ciberespionagem.

"Tem uma carta muito interessante assinada por Thomas Shannon onde ele festeja com a NSA a espionagem que os Estados Unidos fizeram no País antes de uma conferência internacional onde foi fechado um acordo econômico. A espionagem deu ao governo americano muita vantagem para saber as estratégias do Brasil", revelou o jornalista do The Guardian.

A justificativa do governo americano é que a espionagem tem o objetivo de prevenir e identificar ações terroristas, mas o jornalista refuta a hipótese. "Desde o 11 de Setembro a desculpa é que os americanos fazem tudo pela segurança nacional, mas realidade é o oposto. Há muitos documentos que não falam em terrorismo ou proteção nacional, mas falam sobre competição entre empresas, sobre acordos econômicos, sobre levar vantagem em contratos multilaterais", disse.

No momento, os Estados Unidos olham com desconfiança a aproximação do Brasil com a Rússia e a França em acordos para a fabricação e compra de equipamentos militares como helicópteros e aviões. 

Em outubro, a presidente Dilma Rousseff será recebida por Obama em Washington, com direito a jantar de gala na Casa Branca. Apesar da configuração amistosa, a agenda será envolvida em muita tensão. Afinal, os Estados Unidos estão bisbilhotando cidadãos brasileiros, e nem se preocupam em negar essa nefasta iniciativa.



Brasil 247

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