Diplomacia americana aumenta tensão com o Brasil;
primeiro foi a nomeação, em junho, da embaixadora Liliana Ayalde; com a
experiente executiva da Usaid em Brasília veio junto a lembrança do
golpe parlamentar no Paraguai, em 2011, onde ela ocupava o mesmo posto;
na semana passada, visita do secretário John Kerry reafirmou
ciberespionagem sobre cidadãos; agora, Casa Branca é informada
especialmente de detenção de brasileiro em Londres por governo inglês e
não se explica; Barack Obama amplia rede de espionagem americana para se
tornar o Grande Irmão; visita da presidente a Washington confirmada
para outubro
247 – Se se pode chamar a política externa
americana de prática de diplomacia, pode-se dizer, enfim, que a
diplomacia americana retrocedeu no tempo e está testando os limites dos
integrantes do Itamaray, em geral, e da presidente Dilma Rousseff, em
particular.
Uma sequência de atos combinados entre si estabelece, neste momento,
um ambiente de profundo descontentamento do Brasil em relação ao governo
do presidente Barack Obama. Ele não apenas está confirmando a sensação
generalizada de que administrações democratas são piores para as
relações com o País, como assumindo o papel destinado ao Grande Irmão do
livro 1984, de George Orwell. Isso era tudo o que não se esperava dele.
Como o personagem principal, Obama ampliou a tal ponto a rede de
ciberespionagem americana que hoje detém, na prática, informações
detalhadas sobre milhões de cidadãos de dezenas de países. Elas são
obtidas pelos computadores do Departamento de Estado, da CIA, da NSA e
de outros órgãos do governo americano por toda a sorte de meios, entre
eles a colaboração direta dos serviços de espionagem de outros países.
Confirmando a antiga aliança e cooperação, o governo inglês informou à
Casa Branca a detenção, no aeroporto de Londres, do brasileiro David
Miranda, companheiro do jornalista inglês Gleen Greenwald, que publicou
no The Guardian informações transmitidas pelo ex-militar americano
Edward Snowden. Num gesto pouco cortês com os ingleses, os americanos,
em pronunciamento oficial na Casa Branca, afirmaram que "isso é algo que
eles fizeram independentemente da nossa direção", referindo-se ao
governo britânico. Mais que uma gafe, a declaração do porta-voz Josh
Earnest é uma autêntica confissão de estratégia comum com os ingleses.
Ele não adiantou, porém, nenhuma explicação pela ocorrência e, muito
menos, algum pedido de desculpas ao Brasil pelo fato de os Estados
Unidos estarem participando, ainda que como observadores privilegiados,
de um ato contra um cidadão brasileiro.
O primeiro gesto de marcação da nova postura dos EUA frente ao Brasil
– mais rude e crua – se deu com a nomeação da embaixadora do país em
Brasília, Liliana Ayalde, em junho. O governo brasileiro concedeu o
agrément, mas não sem ter uma lembrança bastante clara da passagem dela
pela embaixada do Paraguai. Dali, Liliana presenciou o golpe parlamentar
que, em 2011, destituiu o presidente Fernando Lugo. Antes, com sua
atuação de 24 anos na Usaid – oficialmente, Agência dos EUA para o
Desenvolvimento Internacional e, na prática, braço operacional dos
órgãos de segurança do país --, Liliana se tornou uma especialista em
América Latina, com passagens por Nicarága, Bolívia e Colômbia.
Nos últimos tempos, a embaixada dos EUA em Brasília tem se esmerado
em acompanhar muito de perto as ações comerciais e políticas do Brasil
no exterior. Companheiro do brasileiro David Miranda, detido por nove
horas no aeroporto de Londres, na semana passada, o jornalista Greenwald
já depôs na Comissão de Relações Exteriores do Senado sobre as
revelações contidas nos documentos obtidos por Snowden. Ele garantiu que
o embaixador americano Thomas Shannon, antecessor de Liliana em
Brasília, chegou a comemorar uma vitória comercial dos EUA sobre o
Brasil baseada, supostamente, numa informações obtida por meio de
ciberespionagem.
"Tem uma carta muito interessante assinada por Thomas Shannon onde
ele festeja com a NSA a espionagem que os Estados Unidos fizeram no País
antes de uma conferência internacional onde foi fechado um acordo
econômico. A espionagem deu ao governo americano muita vantagem para
saber as estratégias do Brasil", revelou o jornalista do The Guardian.
A justificativa do governo americano é que a espionagem tem o
objetivo de prevenir e identificar ações terroristas, mas o jornalista
refuta a hipótese. "Desde o 11 de Setembro a desculpa é que os
americanos fazem tudo pela segurança nacional, mas realidade é o oposto.
Há muitos documentos que não falam em terrorismo ou proteção nacional,
mas falam sobre competição entre empresas, sobre acordos econômicos,
sobre levar vantagem em contratos multilaterais", disse.
No momento, os Estados Unidos olham com desconfiança a aproximação do
Brasil com a Rússia e a França em acordos para a fabricação e compra de
equipamentos militares como helicópteros e aviões.
Em outubro, a presidente Dilma Rousseff será recebida por Obama em
Washington, com direito a jantar de gala na Casa Branca. Apesar da
configuração amistosa, a agenda será envolvida em muita tensão. Afinal,
os Estados Unidos estão bisbilhotando cidadãos brasileiros, e nem se
preocupam em negar essa nefasta iniciativa.
Brasil 247
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