O juiz Sergio Moro, do Paraná, surpreendeu ao não acatar o pedido de réus da Lava Jato, que queriam conhecer o teor da delação premiada de Pedro Barusco (alto à esq.), aquele que havia dito desviar recursos da Petrobras há pelo menos 16 anos, ou seja, desde o governo FHC; a negativa de Moro surpreende porque ele deu publicidade total às delações premiadas de Augusto Mendonça (alto à dir.), que disse que a doação declarada de campanha ao PT era propina, e também de Júlio Camargo (abaixo à dir.), outro executivo da Toyo Setal; outra delação que vem sendo mantida em sigilo é a de Paulo Roberto Costa (abaixo à esq.), que disse que seus US$ 23 milhões de propina vieram da Odebrecht, empreiteira até agora não alcançada pela Lava Jato; qual é a lógica de Moro?
22 de Dezembro de 2014 às 08:14
247 - O executivo Pedro Barusco, que aceitou devolver praticamente US$ 100 milhões em valores desviados da Petrobras, fez uma revelação importante em sua delação premiada. Disse que começou a roubar desde 1996, ou seja, no governo FHC, quando a estatal pôde passar a contratar sem licitações (leia mais aqui).
"Essa era a parte da casa", teria dito Barusco, negando que a roubalheira fosse partidária – era coisa de executivos corruptos mesmo.
Não se conhece, no entanto, a íntegra de sua delação. Ontem, uma reportagem do jornalista Fausto Macedo revelou que o juiz Sergio Moro, do Paraná, negou acesso a réus da OAS que pleiteavam a íntegra da delação de Barusco, para saber do que são acusados. Sérgio Moro argumenta que "por ora, ainda se faz necessário o sigilo para fins de investigação e corroboração do por ele declarado" (leia mais aqui).
A decisão de Moro, no entanto, contradiz o que ele fez em relação a outras duas delações premiadas: as de Augusto Mendonça e Julio Camargo, executivos da Toyo Setal, às quais foram dadas total publicidade (leia mais aqui).
Numa delas, a de Augusto Mendonça, dizia-se que as doações legais ao PT, declaradas ao TSE, eram propina – o que poderia ampliar o discurso de criminalização do Partido dos Trabalhadores, no momento em que a presidente Dilma Rousseff ainda não tivera suas contas aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral. Moro tornou pública a delação exatamente um dia depois do habeas corpus concedido pelo ministro Teori Zavascki a Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras.
Não se pode dizer que, no caso de Mendonça, suas acusações estejam mais provadas, por exemplo, do que as de Barusco. Mendonça é aquele que disse haver na Petrobras um 'clube de empreiteiras', com regras de um campeonato de futebol e presidido pela UTC – algo que foge à lógica, pois é improvável que uma empresa de porte médio possa mandar em gigantes como Odebrecht e Andrade Gutierrez, ainda não atingidas pela Lava Jato.
Sobre a Odebrecht, há também uma delação que vem sendo mantida em sigilo por Moro: a de Paulo Roberto Costa. Ele disse ter recebido US$ 23 milhões da Odebrecht e os promotores de sua força-tarefa já foram à Suíça onde, segundo consta, confirmaram as transferências das propinas. Não se pode dizer que, neste caso, a delação de Costa, que já cumpre prisão domiciliar, esteja menos provada do que a de Barusco.
Ao não conferir o mesmo tratamento a casos semelhantes, Moro contribui para a percepção de que os vazamentos da Lava Jato são seletivos, por razões políticas ou econômicas, o que fere a lisura do processo.
Brasil 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário