quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Aceitar os fatos

Mais cedo ou mais tarde a oposição vai acordar e descobrir a vitória de Dilma Rousseff

por Marcos Coimbra — publicado 10/12/2014 05:54



  Geraldo Magela/Agência Senado
   
O ano de 2014 está terminando


Há fatos de todos os tipos, dos imperceptíveis àqueles impossíveis de ignorar. Também na política existem os irrelevantes e os acachapantes.

O ano de 2014 está prestes a terminar e só não vê quem não quer o fato político mais acachapante do ano: Dilma Rousseff ganhou a eleição. Com a vitória, o PT garantiu a permanência no poder por mais um período, o que significa 16 anos seguidos no comando do País.

Como o futuro a Deus pertence, mas suas mais prováveis configurações podem ser estimadas, é possível dizer que nunca um partido esteve tão perto de realizar o sonho acalentado por todos: completar 20 anos no poder. Não é um aniversário tão extraordinário, mas encanta as legendas.

Todos os vencedores das eleições realizadas desde a redemocratização tinham planos de celebrá-lo. O projeto de Fernando Collor logo ficou pelo caminho. Ele nem sequer terminou o terceiro ano no poder. O do PSDB, com Fernando Henrique Cardoso, chegou apenas ao oitavo, para decepção do próprio e dos companheiros, que tinham certeza de que nunca seriam derrotados. Só falta uma vitória para o PT atingir a marca e está em seus quadros o favorito da eleição de 2018.

A renovação do mandato da presidenta é a prova de que a maioria da sociedade brasileira está basicamente satisfeita com o que seu antecessor e ela fizeram à frente do governo a partir de 2003. As pesquisas realizadas daí em diante mostram serem poucos aqueles que consideram que, nos últimos 12 anos, tudo sempre correu às mil maravilhas, mas são unânimes ao apontar o entendimento da maioria de que o caminho trilhado pelos governos petistas foi fundamentalmente correto.

Contra o fato da reeleição de Dilma pode haver esperneio, muxoxo e tentativa de desqualificação. Nada muda, porém, a realidade. Será ela a ocupante daquela cadeira no Palácio do Planalto até 31 de dezembro de 2018. Salvo, é claro, para quem não tem o menor apreço pela democracia e passa os dias a arquitetar uma maneira de impedi-la de tomar posse ou de derrubá-la via golpe de Estado.

Curiosa a parcela golpista de nossa elite. Acha-se cosmopolita e moderna, mas é fascinada pelas aventuras antidemocráticas mais atrasadas e bregas. Adoraria fazer uma quartelada venezuelana ou uma encenação paraguaia.

Quem, nas oposições à direita, fez cálculos de que Dilma não conseguirá governar no segundo mandato não a conhece. E ilude-se ao acreditar que o Congresso atravessará quatro anos em rebelião contra o governo. A vasta maioria dos deputados e senadores é sensível aos argumentos de quem cuida da chave do cofre.

A suposição do “derretimento” de Dilma deve ter origem no acontecido a Fernando Henrique Cardoso entre 1999 a 2002. De fato, o tucano fez um segundo mandato tão ruim que o PSDB nunca mais se recuperou. De trambolhão em trambolhão, chegou ao fim do governo com 15% de avaliação positiva.

Além de ser mais competente que o tucano, a presidenta é realista. Sabe que o Brasil precisa crescer para garantir a oferta de empregos e assegurar a arrecadação necessária ao custeio dos investimentos e dos programas sociais. E reconhece que a maioria do empresariado nacional não queria sua vitória. Fez a coisa mais inteligente: nomeou, para os ministérios econômicos, nomes para ajudá-la a vencer a resistência de quem decide a respeito dos investimentos privados.

A mídia conservadora reagiu com a costumeira hipocrisia: cobrou “coerência” da presidenta, como se ela estivesse obrigada a agir assim ou assado, em razão de algum dever ideológico. Esqueceu-se do fato relevante. Dilma ganhou a eleição e pode montar o ministério que considerar adequado. Escolhê-lo é prerrogativa presidencial e é ela a chefe de governo.

Quem também, ao que parece, não se deu conta do fato de termos uma presidenta reeleita é o senador Aécio Neves. Acontece com ele o inverso do sistema político: quanto mais no passado fica a eleição, mais ele teima em permanecer no palanque.

Em Minas Gerais, há quem desconfie de seu recente radicalismo. Seria quiçá uma estratégia de defesa, de atacar para se proteger. Quem mais conhece os intestinos das empresas públicas mineiras nos últimos 12 anos? Quem mais tem motivos para temer o que podem revelar as auditorias que o governador eleito deve realizar?

Talvez seja assim mesmo. Até os fatos acachapantes precisam de tempo para ser percebidos. Mais dia, menos dia, as oposições vão acordar e descobrir que Dilma Rousseff ganhou a eleição e governará pelos próximos quatro anos.
 
 
 
Carta Capital

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