terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Palmeiras, a dor e a paixão que nos habitam



Crédito: Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação

Em algum momento de novembro, simplesmente deixei o drama do rebaixamento em segundo plano. Na verdade, eu só precisava que aquilo acabasse. A indefinição, as derrotas sucessivas, o elenco se deteriorando, o técnico dando sinais de que já não tinha qualquer controle sobre quem colocava em campo ou quem deixava de fora. E o presidente reeleito prometendo que o Palmeiras não cairia. Baseado em nada. Como um bom jargão eleitoral.

O Palmeiras, que ficou por duas vezes na lanterna do Campeonato Brasileiro e chegou a ser dado como desenganado por médicos e cronistas, também esteve rebaixado nesse domingo. Aos 10 minutos de jogo, sofreu o gol do Atlético Paranaense e o Bahia abria o placar contra o Coritiba. Naquele momento, não havia otimismo que pudesse sobrepor as reminiscências de nossas tão conhecidas tragédias.

Como já era previsto, o Palmeiras não se salvou pelas próprias pernas. A vitória bastaria. Como se não estivéssemos pedindo quase um milagre de Natal. Porque nada basta ao Palmeiras. Principalmente quando se trata de transformar o simples no impossível. O juiz apitou o final do jogo em São Paulo, mas ainda faltava o desfecho entre Vitória e Santos. E o gol no último minuto do time da baixada fez a Arena Parmera protagonizar uma cena tão humana quanto insólita: por 20 segundos, explodiu em alegria; nos 20 seguintes, direcionou todas as suas ofensas a Paulo Nobre.

A vaidade do presidente é um capítulo à parte. Paulo Nobre tem ideias boas e parece ser alguém que verdadeiramente deseja trazer o Palmeiras de volta a um nível mínimo de protagonismo. Mas a sua crença de que teria a habilidade necessária para implantar uma remuneração por produtividade e, ao mesmo tempo, negociar centavos de salários com empresários e jogadores fracassou por completo. Transformou um ano de festa em um constrangimento sem fim. Moralmente, o Palmeiras continua na lanterna do campeonato.

Fernando Prass e Valdívia foram fundamentais na conquista dos míseros pontos que sobraram ao Palmeiras, mas também escancararam o desequilíbrio de um elenco forçado a apostar em jovens como titulares em meio à turbulência. Na verdade, foi a torcida que, dessa vez, leva o maior mérito pela fuga do rebaixamento. Porque logo percebeu que estava sozinha, à deriva, e que cabia a ela não aceitar a terceira queda. Você já viu uma torcida urrando o hino em meio ao desespero? É uma das cenas mais lindas do futebol. Foi o que os palmeirenses fizeram até o limite da dignidade.

Não se comemora o 16º lugar. Não se esquece o que novamente fizeram com o Palmeiras. A sensação é apenas de alívio, mesmo que não tenham afugentado os indícios de que a tragédia só foi postergada. O Centenário não teve brilho. No dia 26 de agosto, o único alento era o time estar fora da zona de rebaixamento. No dia 7 de dezembro, o palmeirense está completamente esgotado. A sensação é que, em alguns meses, lhe tiraram alguns anos de vida. A euforia de se manter na elite mistura-se à raiva pela falta de reciprocidade.

O Palmeiras sobreviveu, apesar do ferimento grave que lhe deixou uma cicatriz de 40 pontos. Pelas lágrimas espalhadas por arquibancadas, ruas, lares, botecos, é possível vislumbrar algo muito maior que o futuro do clube. Porque o amanhã do Palmeiras é uma eterna dúvida. Mas a paixão do palmeirense, por mais contraditório que seja, enraizou-se ainda mais. A dor, a vergonha e o choro já fazem parte da rotina. Quem sabe isso muda um dia. Quando isso acontecer, nós ainda estaremos lá. Torcendo e gritando que a nossa vida é o Palmeiras.




Carta Capital

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