Mídia silencia e confirma que o comportamento
do PSDB e de sua imprensa aliada continua o mesmo: varrer a corrupção
dos seus para debaixo do tapete
por Helena Sthephanowitz, para a Rede Brasil Atual
publicado
11/12/2014 13:39,
última modificação
11/12/2014 14:11
Sem manchete "espetaculosa", sem repercussão nos portais de seus jornais e sem chamada no televisivo Jornal Nacional, a revista Época,
da Globo, publicou na terça-feira (9) que, a operação Lava Jato da
Polícia Federal (PF) apreendeu, três semanas atrás, na sede da
empreiteira Camargo Corrêa, uma tabela que relaciona políticos, obras e valores em dólares. Suspeita-se que a lista indique propinas pagas pela empreiteira entre os anos de 1990 e 1995.
Entre os políticos listados, segundo a revista, estão o ex-governador
de São Paulo Mario Covas (PSDB), falecido em 2001; o vice-presidente
Michel Temer (PMDB), que nos anos 1990 foi deputado federal; Jorge
Maluly Netto (falecido em 2012), que foi deputado e depois prefeito de
Araçatuba pelo então PFL (hoje DEM); e o atual suplente de José Serra
no Senado, José Aníbal (PSDB), na época também deputado federal.
José Aníbal aparece três vezes na lista. Os valores associados a
ele, segundo o documento, somam US$ 90 mil. O primeiro, de US$ 40 mil,
relacionado a um projeto de "canalização, pavimentação e ponte" em
Botucatu (interior de São Paulo). Os demais valores (US$ 30 mil e US$ 20
mil respectivamente), a um projeto que envolvia canalização,
pavimentação e a construção de uma barragem em Jundiaí, também no
interior paulista.
Esta não é a primeira vez que uma investigação da Polícia Federal encontra digitais dos tucanos nos cofres de empreiteiras.
Em 2009, a mesma Camargo Corrêa foi alvo da operação Castelo de
Areia, que apurava suspeitas de corrupção e pagamento de propina a
políticos para a obtenção de contratos com o governo. Na casa de um
diretor da empresa, a PF apreendeu uma planilha cheia de siglas, nomes e
números. Na ocasião, muitos atribuíram àquela planilha o caráter de
prova definitiva de como o caixa dois da Camargo era gerido. Siglas e
nomes da planilha foram entendidos como se fossem de políticos a quem se
destinavam propinas.
Isso nunca foi comprovado, faltou uma investigação aprofundada e a
Castelo de Areia teve curta duração e pouco impacto. O Superior Tribunal
de Justiça suspendeu a investigação em 2010 e anulou todas as provas,
entre elas a tal planilha. A Procuradoria-Geral da República recorreu ao
Supremo Tribunal Federal, mas depois de quatro anos o STF ainda não se
manifestou.
A reportagem da Época desta terça não cita todos os nomes de
políticos e os partidos da oposição que foram flagrados na operação
Castelo de Areia, mas de acordo com mesma revista, que em 2009 publicou
reportagem sob o título "Lavagem, doações ilegais a políticos, superfaturamento...",
os policiais federais passaram um ano ouvindo telefonemas e abrindo
mensagens de e-mails de conhecidos doleiros de São Paulo e do Rio de
Janeiro, em busca de provas sobre uma rede de evasão de divisas e
lavagem de dinheiro dentro da Camargo Corrêa.
Quando, porém, passou a ouvir os diretores que faziam negócios
com os doleiros investigados, a PF esbarrou também no caixa de
contribuições políticas da construtora – e encontrou indícios de doações
ilegais para os partidos PSDB, DEM, PMDB, PPS, PDT, PP e PSB. O
senador José Agripino Maia (DEM-RN) é citado nominalmente na reportagem .
Na ocasião, a Polícia Federal em São Paulo prendeu, também em 2009,
quatro diretores da empreiteira, duas secretárias e três doleiros, todos
acusados de praticar crimes como evasão de divisas, formação de
quadrilha, lavagem de dinheiro e operação de instituição financeira sem
autorização. De acordo com decisão do juiz Fausto de Sanctis, que
determinou a prisão de todos, a PF demonstrou que o grupo teria usado
pelo menos quatro empresas de fachada para remeter irregularmente
recursos da empreiteira para o exterior e poderia ter participado de um
esquema de superfaturamento na construção de uma refinaria.
Em conversas gravadas pela Polícia Federal com autorização da
Justiça, os quatro tratavam dos negócios por códigos que envolviam nomes
de animais. A PF calculou que o grupo teria remetido para o exterior
mais de R$ 20 milhões por meio daquele esquema.
Havia ainda indícios de que o grupo pode ter participado do
superfaturamento da construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
As conversas gravadas mostram o diretor Pietro Bianchi pedindo, com
urgência, o transporte de dinheiro vivo em Recife. De acordo com a PF, o
pedido poderia estar relacionado à construção da refinaria. Naquele
ano, o Tribunal de Contas da União (TCU) já suspeitava de
superfaturamento em alguns itens da obra.
Agora, com a Lava Jato em curso e novos fortes indícios de
participação de tucanos de alta plumagem em negócios obscuros, parece
até que estamos assistindo uma refilmagem da mesma história. Se os
acontecimentos das planilhas sobre os anos 90 e a Operação Castelo de
Areia não tivessem sido engavetados, a depuração que se pretende fazer
hoje já poderia ter ocorrido no passado.
No entanto, por se tratar de políticos do PSDB, a imprensa
tradicional tirou logo de pauta e os tucanos trataram de abafar. Assim, o
assunto caiu no esquecimento, os inquéritos foram arquivados ou
continuam parados nas gavetas, e a Polícia Federal não pode prosseguir
na investigação sem ordem judicial para seguir o caminho do dinheiro e
chegar aos destinatários finais de propinas.
Aliás, a CPMI da Petrobras, criada pela oposição para coincidir com a
campanha eleitoral, perdeu o ímpeto quando as investigações da Lava
Jato passaram a "ir longe demais" atingindo o tucanato, seus aliados nos
estados e seus altos financiadores de campanha. Já está encerrando seus
trabalhos sem alarde.
Hoje, quem está no papel de presidente do PSDB é o senador Aécio
Neves. Não cabe acusá-lo por supostos atos de seus sucessores no comando
do partido, mas o comportamento tucano e de sua imprensa aliada
continua o mesmo: varrer a corrupção dos seus para debaixo do tapete, em
vez de investigar a todos e "cortar na própria carne", se for preciso.
Rede Brasil Atual
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