8 de dezembro de 2014
por Paulo Moreira Leite
Aprovação de Dilma mostra que essa palavra só interessa a quem tenta enfraquecer a presidente
Velhos amigos reclamam que os jornalistas têm usado e abusado da palavra impeachment para se referir aos ataques da oposição ao governo Dilma Rousseff. Pensando bem, é uma crítica correta.
Em primeiro lugar, impeachment é uma forma democrática de um país declarar o impedimento de um presidente que, condenado gravemente numa investigação criminal, tornou-se incapaz de responder pelas responsabilidades de governar.
Não é isso o que assistimos no Brasil de hoje: temos uma oposição que faz ensaios para um golpe de Estado, mascarado pelo apoio de uma parcela do Judiciário e dos meios de comunicação, na esperança de dar ares de legalidade a uma infâmia. A palavra ” impeachment” aqui serve como um eufemismo, equivalente a dizer que a Republica do Galeão que levou Getúlio ao suicídio pretendia apurar o atentado da rua Toneleiros.
(Não pretendia. Como lembra Lira Neto, não se fez sequer uma perícia no ferimento de Carlos Lacerda, coberto por um gesso minutos depois do atentado. Não se identificou sequer a arma que teria –sim, teria — sido usada naquela noite, matando o major Vaz, que o acompanhava).
Não há um fiapo de prova capaz de sustentar a tese de que esse movimento tenha base em fatos verdadeiros. Há manchetes tendenciosas, suposições, ilações, fantasias. Mas não há um enredo crível, demonstrado, com começo, meio e fim, capaz de envolver a presidente nem qualquer um de seus auxiliares em qualquer trapaça contra a honra do Brasil e dos brasileiros.
Nesta circunstância, a palavra impeachment tem um único efeito: enfraquecer uma presidenta que se movimenta para dar novas bases ao segundo mandato.
Num bolivarianismo ao contrário, a oposição tenta ir às massas na tentativa de construir uma base social para um jogo sujo. Encontra o vazio político, que é produto da aprovação do governo, que permanece em patamares vergonhosamente altos para seus adversários. Enquanto gatos pingados carregam cartazes que pedem intervenção militar, 66% da população confirma seu apego a democracia — um valor que cresceu na ultima década, e nós sabemos muito bem por quê. E quem não sabe só precisa entender que as verdadeiras democracias do século XX só criaram raízes quando concordaram em integrar os trabalhos e os mais pobres em sistemas de bem-estar social.
A aprovação da própria Dilma segue no patamar que permitiu sua vitória numa campanha que teve até uma tentativa de golpe midiático nas ultimas 72 horas.
Um governo se faz basicamente por dois elementos químicos: o poder e a perspectiva de poder. Poder é materia morta: envolve aquilo que o governante já fez, ontem, anteontem, no ano passado. Acaba ao fim de cada dia. O que interessa é a materia viva, que se encontra na perspectiva do poder: aquilo que se pode fazer no futuro, no amanhã e no ano que vem, em 2016 e 2018. A perspectiva do poder se alimenta da capacidade de atender compromissos, confirmar sua lealdade e assegurar o progresso de seus aliados. O impeachment coloca em questão, justamente, a perspectiva de poder, corroi sua credibilidade. Joga uma dúvida desnecessária, funciona como um sinal de fraqueza.
O golpismo de 2014, que se inspira em 1964 e 1954, deve ser repudiado como aquilo que é: um ataque a democracia, que prefere entregar o país à treva em vez de respeitar a vontade da maioria.
A melhor forma do governo enfrentar aventuras dessa natureza é manter seus compromissos históricos, e, mesmo em circunstâncias externas e internas menos favoráveis, deixar claro quem está ao lado da maioria dos brasileiros.
(Agradeço a Laurez Cerqueira pelas sugestões que ajudaram a produzir este artigo)
Paulo Moreira Leite - Brasil 247
Em primeiro lugar, impeachment é uma forma democrática de um país declarar o impedimento de um presidente que, condenado gravemente numa investigação criminal, tornou-se incapaz de responder pelas responsabilidades de governar.
Não é isso o que assistimos no Brasil de hoje: temos uma oposição que faz ensaios para um golpe de Estado, mascarado pelo apoio de uma parcela do Judiciário e dos meios de comunicação, na esperança de dar ares de legalidade a uma infâmia. A palavra ” impeachment” aqui serve como um eufemismo, equivalente a dizer que a Republica do Galeão que levou Getúlio ao suicídio pretendia apurar o atentado da rua Toneleiros.
(Não pretendia. Como lembra Lira Neto, não se fez sequer uma perícia no ferimento de Carlos Lacerda, coberto por um gesso minutos depois do atentado. Não se identificou sequer a arma que teria –sim, teria — sido usada naquela noite, matando o major Vaz, que o acompanhava).
Não há um fiapo de prova capaz de sustentar a tese de que esse movimento tenha base em fatos verdadeiros. Há manchetes tendenciosas, suposições, ilações, fantasias. Mas não há um enredo crível, demonstrado, com começo, meio e fim, capaz de envolver a presidente nem qualquer um de seus auxiliares em qualquer trapaça contra a honra do Brasil e dos brasileiros.
Nesta circunstância, a palavra impeachment tem um único efeito: enfraquecer uma presidenta que se movimenta para dar novas bases ao segundo mandato.
Num bolivarianismo ao contrário, a oposição tenta ir às massas na tentativa de construir uma base social para um jogo sujo. Encontra o vazio político, que é produto da aprovação do governo, que permanece em patamares vergonhosamente altos para seus adversários. Enquanto gatos pingados carregam cartazes que pedem intervenção militar, 66% da população confirma seu apego a democracia — um valor que cresceu na ultima década, e nós sabemos muito bem por quê. E quem não sabe só precisa entender que as verdadeiras democracias do século XX só criaram raízes quando concordaram em integrar os trabalhos e os mais pobres em sistemas de bem-estar social.
A aprovação da própria Dilma segue no patamar que permitiu sua vitória numa campanha que teve até uma tentativa de golpe midiático nas ultimas 72 horas.
Um governo se faz basicamente por dois elementos químicos: o poder e a perspectiva de poder. Poder é materia morta: envolve aquilo que o governante já fez, ontem, anteontem, no ano passado. Acaba ao fim de cada dia. O que interessa é a materia viva, que se encontra na perspectiva do poder: aquilo que se pode fazer no futuro, no amanhã e no ano que vem, em 2016 e 2018. A perspectiva do poder se alimenta da capacidade de atender compromissos, confirmar sua lealdade e assegurar o progresso de seus aliados. O impeachment coloca em questão, justamente, a perspectiva de poder, corroi sua credibilidade. Joga uma dúvida desnecessária, funciona como um sinal de fraqueza.
O golpismo de 2014, que se inspira em 1964 e 1954, deve ser repudiado como aquilo que é: um ataque a democracia, que prefere entregar o país à treva em vez de respeitar a vontade da maioria.
A melhor forma do governo enfrentar aventuras dessa natureza é manter seus compromissos históricos, e, mesmo em circunstâncias externas e internas menos favoráveis, deixar claro quem está ao lado da maioria dos brasileiros.
(Agradeço a Laurez Cerqueira pelas sugestões que ajudaram a produzir este artigo)
Paulo Moreira Leite - Brasil 247
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