14 setembro 2015 Miguel do Rosário
Vai vendo.
No meio daquele dilúvio de contas vazadas de quase todas as grandes empresas de engenharia do país, a Polícia Federal descobriu um depósito de R$ 120 mil na conta de Leonardo Attuch, responsável pelo site Brasil 247.
Foi o bastante para a PF, que virou uma polícia política anti-governo, fazer uma série de ilações levianas contra todos os blogs do país que, de uma maneira ou outra, apoiavam o governo e faziam "críticas às autoridades".
O próprio Sergio Moro declara - e isso vai para as manchetes dos jornais - que se tratava de dinheiro ilícito para defender o PT.
Tudo sem prova nenhuma, como sempre.
Merval Pereira, arriscando levar um processo bonito na cara, que eu só não dou por ser contra a judicialização da política, usa o lance do depósito para jogar lama em todos os blogs: fala em "blogs rastreados pela Lava Jato".
No relatório que indicia Dirceu, o delegado federal vai mais longe e fala num esquema de jornalistas para atacar autoridades envolvidas no julgamento do mensalão.
Não satisfeitos de prender um monte de gente num julgamento midiático, sensacionalista, as conspirações midiático-judiciais querem também prender blogueiros, jornalistas, intelectuais, juristas, cientistas políticos, enfim todos aqueles que "criticaram as autoridades".
Para os novos tiranetes do país, a única autoridade que pode ser criticada é a Dilma, presidenta da república. Essa pode ser xingada à vontade. Até mesmo os delegados responsáveis pela Lava Jato a xingam nas redes sociais.
Juízes, procuradores, esses são divinos, representantes do que eles entendem ser o verdadeiro poder no país: os estamentos judiciários (PF, MP e juízes), cujo poder não tem aquele horrível vício de origem, o voto dos pobres.
São um bando de golpistas, loucos para censurar os blogs, isso sim, desta vez usando táticas muito mais inteligentes e diabólicas do que na ditadura, quando a censura transformava os jornais em mártires e os jornalistas em herois.
Os caciques tucanos, acostumados ao mundinho encantado onde a imprensa lhe paparica dia e noite, simulando aqui e ali algum escândalo que logo abafa em seguida, também passaram a atacar os blogs com incrível agressividade.
A coisa é mais uma prova de como o PT é um partido de otários.
Ao invés de lançar grande programa republicano, transparente, corajoso, defendido por ministros e pela presidenta, para financiar uma imprensa alternativa, o governo do PT continua dando dinheiro (sim, o verbo é dando, visto que é o PT que comanda a Secom e dita as suas diretrizes) para a grande mídia e dando margem para que os sites que lhe dão apoio sejam linchados e perseguidos - ao menos em relatórios, o que já é gravíssimo - pela polícia política.
Polícia política do governo do PT, diga-se de passagem - ô paisinho esquizofrênico, sô!
Os tucanos, não.
Esses sim, são espertos.
Os tucanos dão dinheiro para quem eles querem. Diretamente. Na lata. Na maior cara de pau.
João Dória, que é mais tucano do que qualquer tucano, edita meia dúzia de revistas mal ajambradas, dessas que servem apenas enfeitar a sala de espera de consultórios frequentados por super-ricos.
Ninguém jamais leu nem jamais lerá uma revista editada por João Dória.
Mesmo assim, suas revistas receberam mais de R$ 1,5 milhão do governo Alckmin.
É uma coisa linda, né. De um lado, a polícia política tenta manchar a honra de centenas de blogueiros porque descobriu que o dono de um dos maiores sites do país recebeu - com apresentação de nota fiscal e referente, segundo ele, a um serviço particular que prestou - R$ 120 mil de uma empresa privada.
Verba privada, olha só.
De outro, os tucanos dão R$ 1,5 milhão de verba pública para uma revista que ninguém lê, editada por um membro do partido cuja missão de vida se divide entre promover encontros de cãezinhos de luxo e levar seus coleguinhas tucanos para passear em Nova York, e isso não vem ao caso.
Verba pública, olha só.
E nem falei do mensalão de R$ 70 mil para aquele blogueiro tucano de São Paulo.
Esses liberais tucanos são um caso extraordinário! Todo mundo vivendo de verba pública, de cargos públicos, e cagando regras sobre a diminuição do Estado!
Vejam a notícia abaixo, do Comunique-se.
O Comunique-se é um site pró-tucano, pró-patrões, subserviente a Ali Kamel (quando noticia os processos de Kamel contra blogueiros, só dá a versão dele, nunca a nossa), e à mafiazinha corporativa Folha/Abril/Globo.
Ele dá a notícia, obviamente, porque os barões ficaram com ciúmes do dinheiro dado às revistinhas do João Dória.
***
No Comunique-se.
Governo do PSDB gastou mais de R$ 1 milhão em anúncios em editora comandada por integrante do partido
O empresário João Doria Jr, um dos pré-candidatos do PSDB à prefeitura de São Paulo, recebeu R$ 1,5 milhão do governo do Estado de São Paulo por meio de sua empresa, a Doria Editora. Os valores, referentes a anúncios, foram repassados do início de 2014 a abril de 2015, sendo intermediados por duas agências de propaganda, a Mood e a Propeg, ambas escolhidas em licitação. As negociações seguiram os passos que regulam a publicidade estatal. As informações são da Folha, que levantou os dados.
Segundo a apuração do jornal, a editora da Doria possui 19 marcas. A reportagem fala, em específico, de sete títulos. Entre eles, o caso que recebeu mais dinheiro. Trata-se de publieditorial veiculado em nove páginas da Caviar Lifestyle pelo valor de R$ 501 mil. Em outro registro, a Meeting & Negócios recebeu R$ 259 mil para dedicar oito folhas à publicidade. A Líderes do Brasil arrecadou R$ 202 mil por anúncio de quatro páginas. As outras revistas envolvidas são: Lide, Fórum & Negócios, Sustentabilidade e Lide Varejo. Nenhum dos títulos é certificado pelo Instituto Verificador de Comunicação (IVC).
Sobre o caso, o governo do Estado de São Paulo disse à Folha que "filiação partidária não foi, é ou será o critério que condiciona a escolha de veículos de comunicação que vão divulgar as campanhas publicitárias da administração paulista".
"O planejamento de propaganda do governo do Estado é elaborado com base em critérios técnicos, de forma a alcançar diretamente o público-alvo para cada campanha, garantindo o bom uso do recurso público. Os mesmos critérios técnicos levaram a iniciativa privada, outros governos estaduais, entidades de classe e também órgãos do governo federal a veicular anúncios em suas publicações", afirmou a nota enviada ao impresso.
O Cafezinho
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