sab, 03/08/2013
Jornal GGN - O economista Paulo Nogueira Batista
Jr., atual representante do Brasil no FMI (Fundo Monetário
Internacional), vem de uma linha heterodoxa, e era conhecido, antes da
assumir o posto, por ser um crítico da política econômica do governo FHC
(Fernando Henrique Cardoso) e da gestão Lula, de juros altos,
dolarização versus ameaça da sobrevivência da moeda nacional e de
política fiscal baseada no superávit primário.
Crítico ácido das políticas neoliberais e desmonte do Estado e da
Nação, Nogueira expressou sua visão nos livros, nos quais exala uma
preocupação constante com a independência e autonomia do Brasil. Em
relação às negociações comerciais do país, o economista via com cautela a
relação com a Alca, com receio de que resultassem em perda de autonomia
para as políticas comercial e econômica brasileiras.
Nogueira foi professor e pesquisador da FGV (Fundação Getúlio Vargas)
em São Paulo, de 1989 até ir para o FMI. De 1985 a 1986 foi secretário
especial de assuntos econômicos do Ministério do Planejamento, durante a
gestão de João Sayad. Nos dois anos seguintes, foi assessor para
assuntos da dívida externa do ministro da Fazenda, Dilson Funaro, quando
o Brasil decretou moratória. Entre 1986 e 1989, chefiou o Centro de
Estudos Monetários e de Economia Internacional da FGV-RJ. Foi
pesquisador visitante de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo
duas vezes: entre 1996 a 1998, e 2002 a 2004.
Três anos depois, foi alçado ao posto de diretor-executivo do Brasil
no FMI, em 2007, indicado pelo Ministro da Fazenda Guido Mantega a
substituir o então diretor Eduardo Loyo, de visão ortodoxa, que deixou o
cargo por motivos pessoais. Na época, o ministério não justificou o
motivo da escolha, mas sua indicação ao cargo foi criticada, já que ele
iria assumir posto em uma instituição da qual sempre foi crítico. Na
ocasião, Nogueira declarou que não via contradição em assumir o cargo, e
que representava uma corrente de economistas mais preocupados com o
desenvolvimento do Brasil, e que, por isso, ocuparia o cargo não para
defender o FMI e sim, os interesses do Brasil e do conjunto de países
que o país representa.
Um renomado economista da UFRJ, por ocasião da indicação, declarou
surpresa apesar de considerá-la excelente. Para ele, Nogueira havia se
destacado na crítica de políticas que o próprio de FMI estava revendo:
os acordos de 1990 e empréstimos condicionados a uma lista de demanda. O
economista declarou também que o colega traria uma perspectiva
diferente e crítica, o que poderia ser bom para o próprio Fundo, já que
este buscava novos caminhos. “O Fundo está mudando, e pode mudar para
melhor com a participação de pessoas críticas como Paulo Nogueira
Batista Jr”, disse na época..
Na mudança para Washington, levou a postura intempestiva na bagagem.
Sua gestão na instituição, que já dura seis anos e meio, vem acumulando
polêmicas. A última delas ocorreu na semana passada, quando se absteve
de votar a nova liberação de ajuda financeira à Grécia no valor de 1,72
bilhão de euros. O FMI tem 24 diretores que representam diversos países
que podem aprovar, rejeitar e se abster dos variados temas com que a
instituição lida. Além do Brasil, que tem posição majoritária, Nogueira
representa outros dez países: Cabo Verde, República Dominicana, Equador,
Guiana, Haiti, Nicarágua, Panama, Suriname, Timor-Leste e Trinidad e
Tobago.
Apesar de achar otimistas as projeções de crescimento econômico e de
sustentabilidade fiscal da Grécia, Nogueira justificou sua abstenção
dizendo que “a implementação das reformas tem sido insatisfatória em
quase todas as áreas”. O diretor-executivo argumenta que, na percepção
dos técnicos do FMI, o risco de a Grécia atrasar ou não honrar seus
passivos aumentou.
Apesar de Nogueira ter alegado que a decisão de se abster foi como
diretor do FMI e não a do Brasil, o ministro Mantega o desautorizou, por
meio de uma ligação para a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, e
afirmou que o país apoia a ajuda a Grécia. Apesar da abstenção, os
recursos foram liberados para a República Helênica, mas, segundo o
ministro, para o Brasil, pegou mal: “simbolicamente não é bom, porque
não é nossa posição”.
Essa foi apenas mais uma na lista das contradições do diretor. Na
época de sua indicação ao posto, disse que estaria ali para representar
os interesses do Brasil. Na semana passada, que a decisão de abster da
votação foi dele. Tamanho constrangimento poderia ter sido evitado se
tivesse votado a favor e listado as ressalvas. Dada sua postura crítica,
sabida mesmo antes de assumir o cargo no no Fundo, as polêmicas que
Nogueira vem gerando ao longo mandato não chegam a surpreender.
Na sexta-feira, o jornal O Globo publicou um levantamento dos
principais embates que envolvem Nogueira. O principal foi a decisão, em
março de 2010, de demitir Maria Inês Agudelo, representante colombiana
do FMI, por considerá-la “sem qualificações adequadas e pouco leal”. A
demissão irritou o governo da Colômbia, e Mantega teve que se explicar, e
o Brasil foi trocado de grupo. Outro embate listado pelo jornal é a
reforma de cotas - que representa o peso dos votos dos países-membros -
sobre a qual o Brasil votou contra e também causou saia justa.
Na sequência, Mantega chamou o diretor-executivo ao país, para que se
explicasse melhor. Será desta vez que Paulo Nogueira Batista Jr. sairá
do FMI? Ou a polêmica será varrida para debaixo do tapete, como das
vezes anteriores? Resta aguardar mais um pouco para se saber.
GGN - Blog do Luis Nassif
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