publicado em 12 de agosto de 2013
por Luiz Carlos Azenha
O cartaz que os Metroviários de São Paulo distribuiram convocando para a manifestação de quarta-feira me chamou a atenção.
Apenas a ponta do iceberg, menciona o título.
Como assim?
Fui conversar com alguém do ramo: Paulo Pasin, secretário-geral do
Sindicato dos Metroviários e presidente da Fenametro, a Federação
Nacional dos Metroviários.
Segundo ele, as denúncias que chegaram ao Cade, o Conselho de Defesa
Econômica, através da Siemens, a gigante alemã — de que teria havido
formação de cartel pelas empresas do setor, com consequente elevação dos
preços pagos pelo governo paulista — apenas tangenciam o problema
principal, que envolve decisões equivocadas e mesmo temerárias para os
passageiros.
Trata-se da tentativa de modernização do sistema de controle do Metrô
paulistano, que passaria de uma tecnologia considerada mais antiga —
ATC — para o chamado CBTC, communications-based train control, controle
de trens baseado em comunicação. O resultado final do processo
possibilitaria, em tese, colocar 20% a mais de trens rodando nas linhas
existentes, reduzindo o sufoco diário dos passageiros paulistanos.
Porém, isso exigiria várias reformas e adequações nos trens, plataformas e no sistema de controle.
O contrato para a mudança do sistema foi fechado com a francesa Alstom, em 2008, no valor de R$ 780 milhões.
O prazo para implantação era de 36 meses. Embora a francesa faça
propaganda do serviço prestado em São Paulo como se tivesse sido bem
sucedido, Pasin diz que todos os testes realizados até agora, na linha
2, em horários não comerciais, fracassaram. Dentre outros motivos, por
acusar em testes “trens fantasmas”, que somem no sistema, um óbvio risco
de segurança.
O fracasso chama atenção para outro contrato, de R$ 1,8 bilhão, para a
reforma dos trens. Paulo admite que a reforma era necessária, visto que
os trens rodam há 35 anos. Porém, como deveriam ser adequados para
compatibilidade com o CBTC, os custos subiram de tal forma que teria
valido a pena comprar trens novos.
Foram R$ 1,8 bilhão pela reforma de 98 vagões, envolvendo as empresas
Siemens, Iesa, Bombardier, MPE, Tejofran, Temoinsa, Alstom e Siemens.
Segundo Paulo Pasin, este valor representaria, à época do fechamento do
contrato, cerca de R$ 18 milhões por unidade, quase o valor de um vagão
novinho em folha (cerca de R$ 21 milhões). Importante notar que um trem
novo tem 10 anos de garantia; um reformado tem apenas dois anos.
Detalhe importante: segundo Paulo Pasin, até hoje, em todo o planeta,
nunca foi bem sucedida uma operação de mudança do sistema antigo, o
ATC, para o CBTC.
Ele acredita que a expansão do Metrô paulistano sofreu com a decisão,
que considera equivocada. Já os fornecedores do Metrô não perderam
nada, uma vez que um trem reformado significa a garantia de um mercado
substancial de peças de reposição.
Paulo Pasin lembra que a implantação do CBTC também exige a
instalação de portas de plataformas. O contrato original, de R$ 72
milhões, previa a instalação de 48 portas em 18 estações. Em seguida,
houve a redução do contrato para a implantação de apenas 24 portas em 10
estações. Porém, o valor do contrato foi reduzido em apenas 1%!
O fato, segundo Paulo Pasin, é que o programa de modernização do
Metrô paulistano deveria estar concluído em 2011. Porém, gastou-se o
dinheiro, estamos em 2013 e não houve o aumento previsto, de 20%, na
circulação dos trens. Siemens e Alstom se deram bem. O passageiro
paulistano, que pagou a conta, não.
Clique abaixo para ouvir a íntegra da importante entrevista (Paulo
Pasin cometeu um equívoco, que corrigiu posteriormente; o preço de um
vagão novo do Metrô é de R$ 21 milhões e o preço pago pela reforma foi
de cerca de R$ 18 milhões):
Viomundo
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