Apesar dos esforços em contrário de alguns comentaristas, o
noticiário político do mês passado foi dos menos emocionantes dos
últimos tempos. Bem que quiseram torná-lo interessante, tentando
enxergar novidades onde nenhuma havia, mas não funcionou.
O que terminaram por fazer foi vender gato por lebre.
A tese inventada é que, em fevereiro, o sistema político deu a largada para a corrida eleitoral de 2014, algo que, se tivesse efetivamente acontecido, seria um fato relevante. Implicaria duas coisas: que não havia começado antes e que estaríamos em campanha desde então.
Na opinião desses analistas, PT e PSDB, cada um a seu modo, teriam
“precipitado” a eleição. Ao fazê-lo, levaram outras forças políticas a
antecipar seus movimentos tendo em vista a próxima sucessão
presidencial.
Só que nada realmente significativo aconteceu.
Do lado do PT, a tal antecipação viria de Lula ter afirmado, na
reunião de comemoração dos dez anos de governos populares, ser Dilma
candidata. Ela teria todo o direito de disputar a reeleição e seria a
favorita para vencer.
Como diria Mino Carta, até o mundo mineral sabia disso.
Desde a posse de Dilma, ninguém ouviu Lula afirmar algo diferente.
Mais especificamente, nunca manifestou a vontade ou a intenção de ser o
candidato de seu partido no ano que vem.
Está claro: isso não significa que seria impossível que o fosse, na
hipótese de Dilma não querer ou não poder se reapresentar. Contando com a
preferência de dois terços do eleitorado, o ex-presidente era, é e
continuará a ser forte candidato em potencial. Só se surpreendeu com a
sua declaração quem apregoou o oposto, que Lula cultivava o “desejo
secreto” de ser o candidato do PT em 2014. Esses, supostamente capazes
de conhecer suas “motivações íntimas”, se esquecem do óbvio.
Na cultura política desenvolvida após adotar a reeleição, nunca é demais lembrar que por iniciativa dos tucanos, que pretendiam permanecer no poder por muitos anos, apenas o administrador fracassado deixa de disputar o segundo mandato. Com a exceção de Itamar Franco, apto a fazê-lo em 2002, mas que se absteve por razões filosóficas (e assim abriu caminho para a primeira eleição de Aécio Neves ao governo de Minas), todos os minimamente bem-sucedidos o buscaram.
Tirar de Dilma essa possibilidade equivaleria a considerar que faz um
péssimo trabalho e que não merece sequer a chance de pleitear a
recondução.
Vendo como as pessoas a avaliam e quão elevada é a sua aprovação, a
ideia não faz sentido. Ainda mais para quem conhece minimamente como
pensa Lula. Negar a ela o direito de se reeleger seria assumir um erro
cometido ao indicá-la e a apresentá-la ao País como gestora competente.
Ou seja, a declaração de Lula de que Dilma é a candidata do PT em 2014 é apenas a reiteração do evidente. Nela não houve qualquer “antecipação” da próxima eleição.
O segundo fato de fevereiro que nada teve de extraordinário foi o
discurso do senador Aécio Neves, com críticas ao governo e ao PT.
Inusitado seria se tivesse subido à tribuna para elogiá-los.
O desafio do ex-governador de Minas não é afirmar-se como candidato.
Por seus méritos e muitos deméritos de seus correligionários, é a
escolha natural do PSDB.
Mas ele não dispõe, como seus antecessores, do direito de determinar o conteúdo e os discurso de sua candidatura. Ninguém disse a Covas, Fernando Henrique, Serra ou Alckmin o que deveriam falar, como e para quem. Ninguém escalou seus assessores e consultores.
A candidatura de Aécio nasce com dois problemas. De um lado, precisa
se libertar dos radicais de direita, que na política, na sociedade e na
mídia querem fazer dele o porta-voz. De outro, precisa se livrar do
engessamento do passado e da obrigação de carregar o fardo da defesa do
“legado de FHC”.
Os paradoxos de Aécio não foram resolvidos no pronunciamento. Nele voltou a ser o novo que o velho pretende manter sob tutela.
Resta o terceiro não fato de fevereiro: o lançamento da “Rede” de Marina Silva.
Como todo projeto individualista, esse é outro cuja relevância só
será estabelecida pelo tempo. Hoje parece que será pequena. Com até o PV
a relutar em apoiá-la, quantos parlamentares se disporão a segui-la?
Sem eles, terá, na eleição, a mídia de qualquer nanico.
À distância, Eduardo Campos ficou vendo essas movimentações, rezando para que não o esquecessem. Tampouco tinha algo a dizer.
Mas nem Aécio, nem Marina, nem ele precisam se preocupar. Mesmo que
nada façam, sempre terão a nossa “grande imprensa” para fazer marola.
Carta Capital
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