Heloisa Cristaldo
Enviada Especial
São Luís – Uma aula de química atraiu a atenção de centenas de
participantes hoje (24) na 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência. O professor foi o cientista israelense
Daniel (Dan) Shechtman, ganhador do Prêmio Nobel de Química de 2011, que
explicou como descobriu uma nova categoria de materiais sólidos, os
quasicristais.
De acordo com Shechtman, antes de suas conclusões sobre os
quasicritais, os cientistas acreditavam que a matéria sólida era feita
sempre de átomos organizados em uma ordem definida, que podia ser
repetida diversas vezes para formar uma estrutura de cristal. Mas sua
descoberta mostrou que os átomos não tinham apenas um arranjo que podia
ser repetido. Em 1982, ao analisar as imagens de um material se deparou
com um formato que seria impossível de existir até então.
Shechtman contou que, na época, encontrou várias objeções e
resistências no meio acadêmico e que chegou a ser retirado do seu grupo
de pesquisa. Segundo ele, outros pesquisadores o acusaram de ter
cometido um erro muito simples. O cientista israelense não desistiu de
sua pesquisa e, dois anos depois, em 1984, publicou seu trabalho na
revista Physical Review Letters.
Após
a descoberta dos quasicristais, os sólidos passaram a ser classificados
como cristais, amorfos e quasicristais. A partir do novo material, a
empresa sueca Sandvik criou uma espécie de aço, usado em produtos como
lâminas de barbear e em agulhas finas feitas especificamente para
cirurgia de olhos. Shechtman afirmou que sua persistência e confiança na
pesquisa foram essenciais para concluir seu trabalho. Ele incentivou os
jovens que lotaram sua conferência a ouvir sempre as opiniões dos
outros, mas lutar pelo que se acredita.
Em sua apresentação, o cientista apontou o que considera serem os três
gargalos da ciência: a limitação do idioma, o investimento em educação e
o orçamento. “A ciência é universal, mas o idioma pode ser um
obstáculo. A língua do mundo científico é o inglês e nem todos
cientistas falam o idioma. A educação tem que começar muito cedo e ter
alta qualidade. Crianças devem ter contato com a ciência já na
pré-escola”. O pesquisador disse ainda que orçamento para pesquisa deve
ter um fluxo contínuo, pois sem ele “não há ciência”.
O ganhador do Prêmio Nobel rejeitou a conexão entre ciência e religião.
“As duas coisas não estão ligadas e têm caminhos diferentes. Assuntos
éticos e morais vão ficar cada vez mais profundos com a proximidade da
manipulação genômica. A humanidade deve se preparar para esses debates”,
disse.
Shechtman
nasceu em 1941 em Tel Aviv e é professor dos departamentos de
Engenharia de Materiais do Instituto Tecnológico de Haifa, em Israel, e
de Ciências dos Materiais da Universidade Estatal de Iowa, nos Estados
Unidos. O cientista conquistou o prêmio da Sociedade Europeia de
Investigação de Materiais (2008), o Gregori Aminoff da Real Academia das
Ciências da Suécia (2000), o Wolf de Física (1999), o Rothschild de
Engenharia (1990) e o Prêmio Internacional por Novos Materiais da
Sociedade Física Americana (1988).
Agência Brasil
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