O presidente uruguaio José Mujica disse "elementos políticos" pesaram
que "elementos jurídicos" na decisão de aprovar o ingresso da Venezuela
como membro pleno do Mercosul.
O ingresso da Venezuela no bloco econômico, aprovado na semana passada
enquanto o Paraguai teve sua participação suspensa, gerou controvérsia,
quando o chanceler uruguaio Luis Almagro declarou que essa mudança
somente ocorreu por "intervenção do Brasil".
Pressão do Brasil forçou entrada da Venezuela no Mercosul, diz Uruguai
Vice uruguaio diz que Venezuela é 'agressão' ao Mercosul
Não fizemos pressão sobre nenhum país, diz Marco Aurélio Garcia
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A declaração de Almagro, feita no início da semana, foi reforçada ontem
por uma entrevista do vice-presidente uruguaio Danilo Astori, que chamou
de "agressão institucional" a decisão dos participantes do Mercosul.
Hoje, o presidente Mujica baixou o tom dessas declarações em uma
entrevista ao jornal uruguaio La República, embora sem desautorizar o
chanceler Almagro.
"Eu sou o responsável [pela posição do Uruguai na reunião do Mercosul] e
não o chanceler. Estou de acordo com seu desempenho. Ele atuou bem e
quanto mais o criticam, mais o grudam na poltrona do Ministério [das
Relações Exteriores] porque eu vou defendê-lo", disse ele, em
declarações reproduzidas pelo jornal.
Leo La Valle/Efe | ||
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Cristina Kirchner (à esq.), presidente Dilma Rousseff e José Mujica, presidente do Uruguai, durante cúpula do Mercosul |
Em relação ao imbróglio do Mercosul, Mujica disse que, durante a reunião
reservada entre os três dirigentes --Dilma Rousseff, Cristina Kirchner
(Argentina) e ele- surgiram "novos elementos políticos" que levaram À
decisão de aprovar o ingresso da Venezuela.
Sem esclarecer quais foram os "novos elementos", ele admitiu que o fator
político superou amplamente o fator jurídico na decisão.
Mujica reservou suas palavras mais duras para o Senado paraguaio, que votou a destituição de Fernando Lugo.
"Esse mesmo Senado que há cinco anos (...) [nega] o ingresso da
Venezuela ao Mercosul com argumentos imorais e triviais, agora destitui
um presidente, o substitui como quem troca de camisa e desconhece o
pedido de mais de uma dezena de chanceleres", afirmou.
A Venezuela, declarou, "é muito mais que um governo, é uma nação irmã
exportadora de energia e compradora de comida. E ficamos muitos anos
mendigando ao Senado paraguaio para que permita o ingresso no Mercosul",
acrescentou.
"Em virtude disso, o Uruguai não podia vetar o eventual ingresso da
Venezuela quando foi o parlamento uruguaio que decidiu aprovar sua
incorporação", concluiu.
ENTENDA
No início da semana, o governo uruguaio, na figura do chanceler Almagro,
declarou que não esteve de acordo com a forma como foi decidida a
entrada da Venezuela no Mercosul na cúpula realizada na sexta-feira
passada em Mendoza, na Argentina.
Em uma entrevista à rádio uruguaia "El Espectador", Almagro chegou a
afirmar que a entrada da Venezuela, concretizada após a suspensão do
Paraguai, foi tomada pela intervenção "decisiva" da presidente do
Brasil, Dilma Rousseff, secundada pela da Argentina, Cristina Kirchner,
na reunião de chefes de governo.
A declaração foi rebatida pelo assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia.
"Isso não corresponde ao estilo da política externa brasileira e menos ainda da presidenta Dilma", afirmou.
Folha de São Paulo
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