quarta-feira, 4 de julho de 2012

Mujica admite que política pesou mais na decisão sobre a Venezuela

O presidente uruguaio José Mujica disse "elementos políticos" pesaram que "elementos jurídicos" na decisão de aprovar o ingresso da Venezuela como membro pleno do Mercosul.
O ingresso da Venezuela no bloco econômico, aprovado na semana passada enquanto o Paraguai teve sua participação suspensa, gerou controvérsia, quando o chanceler uruguaio Luis Almagro declarou que essa mudança somente ocorreu por "intervenção do Brasil".
A declaração de Almagro, feita no início da semana, foi reforçada ontem por uma entrevista do vice-presidente uruguaio Danilo Astori, que chamou de "agressão institucional" a decisão dos participantes do Mercosul.
Hoje, o presidente Mujica baixou o tom dessas declarações em uma entrevista ao jornal uruguaio La República, embora sem desautorizar o chanceler Almagro.
"Eu sou o responsável [pela posição do Uruguai na reunião do Mercosul] e não o chanceler. Estou de acordo com seu desempenho. Ele atuou bem e quanto mais o criticam, mais o grudam na poltrona do Ministério [das Relações Exteriores] porque eu vou defendê-lo", disse ele, em declarações reproduzidas pelo jornal.

Leo La Valle/Efe

Cristina Kirchner (à esq.), presidente Dilma Rousseff e José Mujica, presidente do Uruguai, durante cúpula do Mercosul
Em relação ao imbróglio do Mercosul, Mujica disse que, durante a reunião reservada entre os três dirigentes --Dilma Rousseff, Cristina Kirchner (Argentina) e ele- surgiram "novos elementos políticos" que levaram À decisão de aprovar o ingresso da Venezuela.
Sem esclarecer quais foram os "novos elementos", ele admitiu que o fator político superou amplamente o fator jurídico na decisão.
Mujica reservou suas palavras mais duras para o Senado paraguaio, que votou a destituição de Fernando Lugo.
"Esse mesmo Senado que há cinco anos (...) [nega] o ingresso da Venezuela ao Mercosul com argumentos imorais e triviais, agora destitui um presidente, o substitui como quem troca de camisa e desconhece o pedido de mais de uma dezena de chanceleres", afirmou.
A Venezuela, declarou, "é muito mais que um governo, é uma nação irmã exportadora de energia e compradora de comida. E ficamos muitos anos mendigando ao Senado paraguaio para que permita o ingresso no Mercosul", acrescentou.
"Em virtude disso, o Uruguai não podia vetar o eventual ingresso da Venezuela quando foi o parlamento uruguaio que decidiu aprovar sua incorporação", concluiu.
ENTENDA
No início da semana, o governo uruguaio, na figura do chanceler Almagro, declarou que não esteve de acordo com a forma como foi decidida a entrada da Venezuela no Mercosul na cúpula realizada na sexta-feira passada em Mendoza, na Argentina.
Em uma entrevista à rádio uruguaia "El Espectador", Almagro chegou a afirmar que a entrada da Venezuela, concretizada após a suspensão do Paraguai, foi tomada pela intervenção "decisiva" da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, secundada pela da Argentina, Cristina Kirchner, na reunião de chefes de governo.
A declaração foi rebatida pelo assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia.
"Isso não corresponde ao estilo da política externa brasileira e menos ainda da presidenta Dilma", afirmou. 

Folha de São Paulo

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