sábado, 17 de novembro de 2012

Considerações de Diogo Costa sobre o período pré-mansalão

Por Diogo Costa


Fazendo essa ressalva, passamos ao arrazoado posterior. Marcio Thomaz Bastos foi peça chave, fundamental, de grande valia e de grande abrangência para barrar as inúmeras tentativas de golpe que houveram contra Lula em 2005 e 2006. Foi uma das mais destacadas figuras do governo federal, atuando, ao lado de Dilma Rousseff, Ciro Gomes, Luiz Inácio Lula da Silva e do próprio José Dirceu para impedir, por exemplo, que um pedido de impeachment contra Lula vingásse no Congresso Nacional. A não inclusão de Lula na denúncia do MPF, feita em abril de 2006, teve a ingerência direta de Marcio Thomaz Bastos. Se Lula fosse incluído naquela denúncia, seu governo acabaria ali mesmo e sua reeleição restaria deveras prejudicada. Também é bom sempre relembrar que a OAB teve uma reunião tensa e decisiva para o futuro da democracia brasileira, em maio de 2006. Nesta reunião, foi arquivado o pedido de impeachment que alguns de seus integrantes solicitaram contra o presidente Lula. E porque foi arquivado? Justamente porque a denúncia feita pelo MPF, menos de um mês antes, não tinha o nome do presidente! Mais uma vez Marcio Thomaz Bastos se utilizou de todas as suas ferramentas, enquanto Ministro da Justiça, para abortar a tentativa de golpe. 
Isso sem falar da Câmara... A oposição e a mídia venal elegeram Severino Cavalcanti (PP-PE) presidente da Câmara em 2005, com a articulação direta e decisiva de FHC. Derrotaram o então candidato do PT, Luiz Eduardo Grennhalg, da seção paulista. Pois bem, quando estourou o "mensalão", a oposição se viu diante do quadro mais maravilhoso do mundo! Todos sabemos que qualquer processo de impeachment só tem sequência com a anuência do presidente da Câmara dos Deputados, que pode arquivar ou dar sequência a qualquer pedido desta natureza. Acontece que Severino Cavalcanti, eleito pela oposição, traiu a oposição e cerrou fileiras em apoio ao presidente Lula logo em seguida (o PP recebeu o Ministério das Cidades, que comanda até hoje...). O que fizeram os fracassados oposicionistas diante da traição de Severino, que eles mesmos elegeram presidente da casa contra o candidato do PT? Logo logo arranjaram um jeito de destituí-lo da presidência, com aquela história do "mensalinho" do Severino, relativo à cantina da casa... A oposição então tratou de bancar a eleição de José Thomaz Nonô (PFL-AL) para a presidência da casa, esta era a última esperança da oposição para entrar com o pedido de impeachment de Lula. Ocorre que o vencedor, por escassa margem, foi Aldo Rebelo (PC do B-SP) e ali se abortou definitivamente (no Congresso Nacional) mais uma tentativa de golpe. Abortado o golpe no Congresso, FHC, cínico como sempre, surge com a 'tese do sangramento', ou seja, quando viu que o golpe que pretendia fazer contra Lula fracassou, saiu pela tangente dando uma de "magnânimo"... 
O que pretendo dizer com tudo isso? Pretendo dizer que o governo federal, Lula e o PT fizeram o que era possível de ser feito naquela altura dos acontecimentos. As pessoas não se dão conta de que a interrupção do governo Lula esteve por um fio!!! Não foi feita por detalhes minúsculos, não foi feita porque todas a máquina do governo federal se movimentou para barrar o impeachment de Lula e a tentativa de golpe branco. É uma falácia, uma rotunda mentira dizer que o governo federal e o PT não se mobilizaram naquela época para defender o governo. Isso é mentira! Foi mobilizado meio mundo para garantir a não inclusão de Lula na denúncia do MPF (poderosíssimos setores oposicionistas pressionaram para que isto acontecesse), foi mobilizado meio mundo para que a presidência da Câmara não caísse nas mãos da oposição em 2005, foi mobilizado meio mundo para que a OAB não entrasse com um pedido de impeachment contra Lula em maio de 2006, etc, etc e etc... É uma sonora e rematada bobagem dizer que as pessoas do governo federal e do PT ficaram vendo a banda passar quando da eclosão desses acontecimentos. E, por tudo isto que acabei de escrever, repito mais uma vez, Marcio Thomaz Bastos foi peça fundamental, crucial para que o governo Lula pudésse sobreviver àqueles intensos bombardeios de 2005 e 2006. 
Por fim, cumpre destacar que traição não vem de fora, vem de dentro. Se viésse de fora, não seria traição... Esqueceram-se de Augusto Pinochet e Salvador Allende? Ninguém em sã consciência poderia imaginar, até o início do julgamento farsesco da AP 470, em agosto, que estaria prestes a assistir um circo de horrores fraudulento de tamanha monta. Ninguém imaginava isso, nem mesmo a quadrilha máfio-midiática! A "sacada" de barbosa, ao defender o estupro da nazista teoria do "domínio do fato" para estiolar réus sobre os quais não pesáva nenhuma prova esculhambou com todo mundo, pegou todo mundo de surpresa. O mundo jurídico brasileiro jamais esperáva que o STF fosse se afastar de sua jurisprudência majoritária e nunca imaginaria que a sanha condenatória dos verdugos togados os levasse até mesmo a torturar a nazista teoria do "domínio do fato" para fazê-la 'confessar' que alguns dos réus eram culpados. O Tribunal de Exceção esmerou-se para que todos os que tem mais do que dois neurônios pudessem chamá-lo de Tribunal Inquisitorial, de Exceção e Medieval. 
Valeria bem mais a pena estudar o mundo das traições na história da política. Os traidores geralmente estão próximos, muito próximos daqueles que um dia, mais cedo ou mais tarde, irão trair... Antes de tudo, os traidores traem as suas próprias consciências, alguns por dinheiro, outros por fama, poder, etc... Existe, por exemplo, alguém que tenha sido mais traidor nessa história toda do que Carlos Ayres Britto?


Blog do Luis Nassif

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