EUGÊNIA LOPES E RICARDO BRITO - Agência Estado
No mesmo dia em que a Justiça determinou a libertação do
contraventor Carlos Augusto Ramos, o relator da CPI do Cachoeira,
deputado Odair Cunha (PT-MG), pressionado pela cúpula do PT, cedeu e
propôs no texto que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)
investigue o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e o
indiciamento do jornalista Policarpo Junior, redator-chefe da Revista
VEJA. Cunha apresentou o relatório final com a proposta de indiciamento
de 46 pessoas envolvidas com o bicheiro, entre elas o governador de
Goiás, o tucano Marconi Perillo, e o prefeito de Palmas, o petista Raul
Filho.
No relatório, Odair Cunha alega que Gurgel suspendeu "sem
justificativa" as investigações da Operação Vegas, ação da Polícia
Federal iniciada em 2009 que apontou os primeiros indícios de ligação do
contraventor com parlamentares, entre eles o senador cassado Demóstenes
Torres (sem partido-GO). Durante os trabalhos da comissão, o
procurador-geral da República informou à CPI que decidiu parar as
investigações da Vegas para encontrar elementos mais fortes da atuação
de Cachoeira. Segundo Gurgel, isso só ocorreu quando a Polícia Federal
deflagrou a Operação Monte Carlo, que prendeu Cachoeira em 29 de
fevereiro.
Entretanto, o relator da CPI sustenta que as duas operações têm
origens distintas, não havendo motivo para a paralisação da Vegas. "Não
estou afirmando nada, estou colocando essa questão do PGR na pauta. Ele
precisa se explicar", afirmou Odair Cunha ao Estado. Ele vai apresentar
hoje seu parecer, que só irá à votação na semana que vem.
Desde o início da CPI, o chefe do Ministério Público Federal
tornou-se alvo dos petistas e do ex-presidente e atual senador Fernando
Collor (PTB-AL). Gurgel foi o responsável por defender a condenação das
principais personalidades do PT envolvidos no escândalo do mensalão,
como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-presidente do
partido José Genoino. Incentivado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, a comissão de inquérito foi idealizada para tentar neutralizar o
julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. O relator nega
ter sido pressionado a incluir Gurgel no seu texto final.
Odair Cunha pediu o indiciamento do jornalista Policarpo Junior por
formação de quadrilha, sob a alegação das relações "constantes e
permanentes" com o chefe do esquema. As conversas entre o jornalista e o
contraventor levaram a várias reportagens publicadas na revista
semanal. "Todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram em favor
dos interesses da quadrilha tiveram o pedido de indiciamento. E ele
(Policarpo Junior) sabia dos interesses da quadrilha", afirmou.
No texto, o relator da CPI sugere que o indiciamento de Marconi
Perillo por seis crimes, entre eles corrupção passiva e formação de
quadrilha. Para Cunha, o esquema criminoso comandado por Cachoeira
estava incrustado no governo do tucano. Oito pessoas ligadas a Perillo,
entre secretários, ex-secretários e assessores, tiveram o seu
indiciamento pedido. É o caso do ex-presidente do Departamento de
Trânsito de Goiás Edivaldo Cardoso.
O relatório, que tem cinco mil páginas, livrou o governador do
Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz. Havia a suspeita de que o
governo de Brasília havia favorecido a empreiteira Delta, ligada a
Cachoeira, em um milionário contrato para a coleta de lixo na capital do
país. Contudo, Odair Cunha não encontrou elementos para implicar Agnelo
com o esquema. Outro governador que não figurou no texto final é o do
Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB).
O Estado de São Paulo
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