Mauricio Dias
Maurício Dias é jornalista, editor especial e colunista da edição impressa de CartaCapital. mauriciodias@cartacapital.com.br
Desde julho, portanto há quase meio ano, a Câmara dos Deputados é a
única instituição sem representação no Conselho Nacional do Ministério
Público (CNMP), integrado por 14 representantes de variadas instituições
nacionais. Essa demora já seria ruim se resultasse de entraves
burocráticos. Mas a razão é outra. E é bem estranha. A indicação da
Câmara está bloqueada pelas ações do procurador-geral da República,
Roberto Gurgel, contra a posse do professor Luiz Moreira, aprovado
inicialmente para um segundo mandato de dois anos na função.
Eis algumas evidências do bloqueio que Gurgel faz ao que a Câmara
aprovou. Malsucedido naquela casa, o procurador-geral transferiu o palco
de sua trama para o Senado. Em e-mail do dia 5/6/2012 da Rede Membros
do Ministério Público Federal, o procurador Matheus Magnani (MP-SP)
relata desabridamente a campanha contra Moreira, que obteve 359 votos no
plenário da Câmara, após ter sido indicado pela unanimidade dos líderes
partidários.
“Pessoal: conversando com o assessor parlamentar do MPF (Ministério Público Federal)
acabo de receber a informação de que a recondução do Luiz Moreira (…)
apenas ocorrerá por falta de uma iniciativa concreta em sentido
contrário. Portanto, ela é absolutamente evitável (…) O mesmo assessor
disse que uma iniciativa concreta (…) tornará a recondução muito mais
difícil. Pergunto: nada será feito?”
Outros procuradores se envolveram na trama desse procurador-geral
“pantagurgélico”. Que Rabelais perdoe a singela insinuação com a troca
de letras.
Um dos integrantes do complô propôs uma campanha
capitaneada pela Associação Nacional dos Procuradores, após o “assessor
parlamentar” José Arantes propor “algo concreto” como uma carta aberta
do MPF com pelo menos 30 assinaturas de diversas regiões do País. Se
possível encabeçada pelo presidente da citada associação supostamente
para dar “mais peso” ao veto.
Uma campanha apócrifa, um dossiê de quatro páginas, precedeu a tudo
isso e circulou pelo Congresso. A acusação mais grave contra Moreira é a
mais frágil. Ele teria sido reprovado no exame da OAB. Bacharel em
Direito, ele, porém, nunca exerceu a advocacia. Por isso não se submeteu
ao exame da Ordem. Optou pela academia. É Doutor em Direito e Mestre em
Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais, além de Diretor
Acadêmico da Faculdade de Direito de Contagem.
Moreira pediu ao CNMP a apuração administrativa, cível e criminal das
denúncias do dossiê. Um já foi arquivado. Dos outros dois não se tem
notícia. Vai ver que também descansam em paz nas gavetas de procuradores
do Distrito Federal.
Gurgel tentou evitar a sabatina de Luiz Moreira na Comissão de
Constituição e Justiça do Senado. E chegou a pedir isso ao presidente da
casa, José Sarney. Falou com mais gente: Eduardo Braga, líder do
governo, e Renan Calheiros. A sabatina só não foi cancelada porque o
deputado Marco Maia, presidente da Câmara, não aceitou o adiamento. Ele
foi aprovado.
O procurador-geral contra-atacou e conta com o esforço de dois Pedros: Taques (PDT) e Simon (PMDB). Eles conseguiram adiar o ato final. Pediram o sobrestamento da votação em plenário para que sejam ouvidos os procuradores anti-Moreira.
O procurador-geral contra-atacou e conta com o esforço de dois Pedros: Taques (PDT) e Simon (PMDB). Eles conseguiram adiar o ato final. Pediram o sobrestamento da votação em plenário para que sejam ouvidos os procuradores anti-Moreira.
Gurgel conta com alguns senadores para tentar derrotar os deputados.
Carta Capital
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