Os nomes escolhidos para a Comissão da Verdade têm história, mas não
tem a experiência necessária para o desafio de prospectar os porões.
Não basta apenas convicção. É preciso uma boa dose de experiência na
área para não ser enrolado nas pesquisas. E, com exceção do
ex-Procurador Geral Cláudio Fonteles, nenhum dos indicados dispõe dessa
experiência.
Por exemplo, anos atrás decidiu-se investigar o cemitério do
Araguaia. Técnicos com equipamentos que detetavam corpos, mas apenas em
curta distância, foram colocados em áreas imensas, sem nenhuma indicação
concreta da localização. O segredo estava com os mateiros da época.
Há mil e um truques para esconder a memória. A Comissão exigia maior experiência e disposição e tempo para investigar.
Da Folha
Dilma anuncia integrantes da Comissão da Verdade
KELLY MATOS
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
A presidente Dilma Rousseff anunciou nesta quinta-feira (10) os nomes das sete pessoas que vão integrar a Comissão da Verdade.
Os
nomes devem ser publicados na edição de amanhã do "Diário Oficial da
União" e a cerimônia de posse dos novos integrantes será no próximo dia
16.
Os
ex-presidentes José Sarney (PMDB), Fernando Collor (PTB), Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já confirmaram
presença na cerimônia.
Farão parte do grupo:
José Carlos Dias
Gilson Dipp (ministro do STJ e do TSE)
Rosa Maria Cardoso da Cunha (amiga e ex-advogada de Dilma)
Cláudio Fonteles
Maria Rita Kehl
José Paulo Cavalcanti Filho
Paulo Sérgio Pinheiro (atual presidente da Comissão Internacional Independente de Investigação da ONU para a Síria)
Antes
do anúncio oficial, Dilma esteve reunida no Palácio do Planalto com os
integrantes da comissão e os ministros ligados ao tema.
Ainda hoje, os sete membros indicados serão recepcionados pela presidente em um jantar no Palácio da Alvorada.
A
indicação dos integrantes ocorre quase seis meses após a lei que cria a
Comissão da Verdade ser sancionada pela presidente Dilma Rousseff.
A
Comissão da Verdade vai investigar e narrar violações aos direitos
humanos ocorridos entre 1946 e 1988 (que abrange o período do Estado
Novo, ditadura do governo de Getúlio Vargas, até a publicação da
Constituição Federal).
O
grupo apontará, sem poder de punir, responsáveis por mortes, torturas e
desaparecimentos na ditadura e vai funcionar por dois anos. Ao final
deste prazo, a Comissão deverá elaborar um relatório em que detalhará as
circunstâncias das violações investigadas.
MILITARES
Em
fevereiro, grupos de militares da reserva reagiram contra a Comissão da
Verdade. Em nota, clubes das três Forças Armadas, que representam
militares fora da ativa, criticaram a presidente Dilma Rousseff por ela
não ter demonstrado "desacordo" em relação a declarações de ministras e
do PT sobre a ditadura militar (1964-1985).
A
reclamação tratava, entre outros temas, sobre uma declaração da
ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos), segunda a qual a Comissão
da Verdade pode levar à responsabilizações criminais de agentes
públicos, a despeito da Lei da Anistia. O texto dos militares, que havia
sido publicado na internet, acabou sendo retirado do ar após pressão do
governo.
Dias
depois, também em nota, 98 militares da reserva reafirmaram os ataques
feitos por clubes militares à presidente Dilma e disseram não reconhecer
autoridade no ministro da Defesa, Celso Amorim, para proibí-los de
expressar opiniões. A nota, intitulada "Eles que Venham. Por Aqui Não
Passarão", também atacava a Comissão da Verdade: "[A comissão é um] ato
inconsequente de revanchismo explícito e de afronta à Lei da Anistia com
o beneplácito, inaceitável, do atual governo", dizia o texto, endossado
por, entre outros, 13 generais.
Blog do Luis Nassif
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