Wálter Maierovitch
Uma vergonha a resposta de Roberto Gurgel, procurador geral da República, à desacreditada Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI).
Para Gurgel, o “engavetamento de mais de dois anos foi uma
estratégia”. Só não pensou ter sido também uma estratégia para Cachoeira
continuar a delinquir.
E quem aproveitou a ilegal estratégia de Gurgel ? Com a palavra, o
senador Demóstenes Torres, Fernando Cavendish, responsável à época pela
construtora Delta e Carlinhos Cachoeira. Será que teriam coragem de
dizer que foram prejudicados pelo engavetamento ?
Por evidente, a sociedade civil e a legalidade foram as principais vítimas do engavetamento.
Volto a afirmar, pela lei processual penal, Gurgel tinha o prazo de 15 dias para se manifestar. Levou dois anos.
Mais ainda, como descobriu Gurgel que outro inquérito (Monte Carlo)
seria aberto? E foi aberto por requisição de dois promotores estaduais
(nada a ver com o Ministério Público Federal) e em face de ilegalidade
decorrentes de exploração de jogos eletrônicos ilegais. E o inquérito
(Monte Carlo) foi instaurado anos depois da conclusão do inquérito da
Operação Vegas. Pelo jeito, Gurgel tem bola de cristal.
Na resposta apresentada à CPI, o procurador-geral da República nada
diz a respeito das trapalhadas feitas pela sua mulher quando entrou em
cena como biombo para não atingir Gurgel. Para quem não sabe, ele era
muito conhecido no Ministério Público Federal, pois fazia política
associativa, interna. Não é, portanto, um diletante na arte de acordos
políticos.
Só para lembrar, a subprocuradora sustentou, e foi desmentida pela
direção da Polícia Federal, que houve pedido para “segurar” os autos.
Ora, se fosse para ganhar tempo, o delegado pediria a volta dos autos
para completar diligências. E ele não fez isso. Ao contrário, deu o
inquérito por concluído.
Para usar uma expressão popular, não “cola a história” contada por
Gurgel à CPI. E o delegado responsável pelo inquérito não iria
concluí-lo para depois pedir ao procurador Gurgel, por meio de sua
mulher, sentar em cima dos autos.
Abaixo, a notícia publicado, hoje, no Valor Econômico, por Maíra Magro, Yvna Sousa e Bruno Peres:
“O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, enviou ontem, no
limite do prazo, seu depoimento escrito à Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) do Cachoeira, com respostas às perguntas feitas por
parlamentares. O documento, de sete páginas, repete o argumento de que a
decisão de segurar o inquérito da Operação Vegas, em 2009, fez parte de
uma estratégia do Ministério Público Federal para permitir novas
investigações. Mas não entra na guerra de versões entre a Polícia
Federal e a Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre quem teria
solicitado a paralisação do inquérito”
Carta Capital
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