por Sergio Lirio
Na primeira vez que a triangulação Veja-Demóstenes Torres-Gilmar
Mendes funcionou, coube ao então presidente do Supremo Tribunal Federal o
papel mais absurdo. Veja divulgou um suposto grampo de
ministros do STF e reproduziu uma irrelevante conversa entre Mendes e
Torres como prova. Algo que poderia ter sido gravado por qualquer um dos
dois ou simplesmente relatado ao repórter. O áudio da conversa nunca
apareceu.
Por causa do suposto grampo, o ministro chamou o então presidente
Lula “às falas”. O episódio resultou na demissão do delegado Paulo
Lacerda da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e no posterior
enterro da Operação Satiagraha, para a glória do banqueiro Daniel
Dantas.
A Polícia Federal investigou a denúncia, fez uma varredura e não
localizou nenhum grampo. Diante do fato, Mendes saiu-se com esta: “se a
história não era verdadeira, era ao menos verossímil”. Romances e filmes
de ficção costumam ser verossímeis. Mas até ai… Ficou tudo por isso
mesmo.
Agora o ministro do Supremo reedita uma dobradinha com a Veja (desta
vez não foi possível contar com os serviços do senador Torres, por
motivos de força maior, como sabemos). Mendes acusa uma suposta pressão
do presidente Lula para abafar o julgamento do mensalão. Dois
participantes da reunião desmentem: o próprio Lula e o ex-ministro
Nelson Jobim. São dois contra um.
E o que acontece? Na entrevista ao Jornal Nacional exibida na segunda-feira 28 (leia mais AQUI),
Mendes requebra no palavreado. Diz ter “inferido” que Lula queria
pressioná-lo a tentar adiar o julgamento do mensalão. Registre-se: o
ministro inferiu.
Carta Capital
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