terça-feira, 30 de abril de 2013
Mauro Santayana: Hora de reagir
Em sua cruzada contra o totalitarismo, Arthur Koestler disse que é
possível explicar o racismo e identificar a origem da brutalidade dos
torturadores e dos genocidas. Mas é necessário combatê-los, isolá-los,
impedir que nos agridam e matem. Em alguns casos, podemos até mesmo
curá-los. Mas isso não significa que devamos perdoá-los.
Por Mauro Santayana*, para o Jornal do Brasil
A
aceitação das ideias alheias, que é o sumo das sociedades democráticas,
tem limites e eles se encontram na intolerância dos fanáticos e
extremistas.
Na verdade, dois são os vetores da brutalidade: o medo e a loucura. Os grandes assassinos são movidos pela paranoia, e a paranoia oscila entre o ilusório sentimento de absoluta potência e a frustração da impotência. É dessa forma que Adorno, em Mínima moralia, diz que o fascista é um masoquista, que só a mentira transforma em sádico, em agente da repressão.
Quem são esses jovens embrutecidos que agrediram um nordestino junto à Estação das Barcas, em Niterói — e foram contidos pelas pessoas que ali se encontravam? São trastes humanos, ainda que sejam trabalhadores e estudantes, tenham família e amigos. O que os faz reunir-se, armar-se, sair às ruas, a fim de agredir e — quando podem — matar outras pessoas?
Individualmente, apesar de suas artes marciais, seus socos ingleses, seus punhais e correntes de aço, são apenas seres acoelhados, agachados atrás de si mesmos, que só crescem quando se agrupam e se multiplicam, em suas patas, seus punhos, suas armas.
Eles não nasceram com garras, nem tendo a cruz suástica e outros símbolos riscados na pele. Foram crianças iguais às outras, que encontraram pela frente uma sociedade brutalizada pelo egoísmo.
Não é difícil que tenham sentido no lar o eco de uma civilização corrompida pela competição e destruída, em sua alma, sob o capitalismo sem freios. Às vezes nos esquecemos que só um por cento dos homens controla toda a riqueza do mundo.
Tampouco nasceram assim os que matam os moradores de rua, movidos pelo mesmo medo e pela mesma ideia de que é preciso manter as cidades “limpas”. Nestes últimos meses, tem aumentado o número de moradores de rua assassinados em todo o país — mas mais intensamente em São Paulo, no Rio, em Belo Horizonte, em Goiânia.
De acordo com as estatísticas, 195 deles foram mortos em 2012 e nos primeiros meses deste ano. A imprensa internacional está debitando o massacre à conveniência de “sanear” as maiores cidades, antes do afluxo de visitantes que se esperam para a Jornada Mundial da Juventude, neste ano, e para a Copa do Mundo, no ano que vem.
É bom lembrar que a matança de crianças na Candelária foi atribuída a uma “caixinha” de comerciantes da região, interessados em varrer as ruas desses bichos “incômodos e sujos”, que são os meninos pobres.
Há historiadores e antropólogos que amenizam o mal-estar contemporâneo diante dessa realidade, com a afirmação de que, desde as cavernas, o homem é naturalmente predador. Ocorre que, contra essa perturbadora condição de bichos que somos, prevaleceu o sentimento de solidariedade que nos tornou humanos, e foi possível sobreviver às catástrofes naturais, como os terremotos e as pestes, e às guerras continuadas. Mas, dentro da ideia dialética de que a quantidade altera a qualidade, chegamos a um ponto insuportável.
Há dois caminhos na luta contra essa nova barbárie. Um é o da fé religiosa, outro o da razão materialista. A fé — um acordo entre o homem primitivo e o mistério da vida, a que ele deu o nome de Deus — tem sido o principal suporte da espécie, sempre e quando ela não se perde no fanatismo.
A razão se encontra com a fé no exercício do humanismo. Mas há sempre razão na fé, como há fé na lógica do ateu. As duas posturas são de autodefesa da sociedade humana e se realizam na coerente ação política. Como disse Tomás de Aquino, a filosofia das coisas humanas só se concretiza com a prática da política.
Há novos pensadores, sobretudo na velha França, que buscam recuperar o humanismo de Marx, o do jovem filósofo dos Manuscritos econômicos e filosóficos, de 1844, e as suas reflexões sobre a alienação. O trabalho de Marx correspondeu à necessidade de defesa dos trabalhadores contra o liberalismo do século 19, e a desapiedada exploração dos pobres pelas oligarquias burguesas, substitutas do velho feudalismo.
Retornar a Marx é buscar novas e mais eficazes respostas contra o neoliberalismo de nossos dias. É ainda possível a aliança entre o humanismo cristão e os pensadores agnósticos, fundada em uma constatação fácil, a de que é preciso salvar o homem de si mesmo. É urgente salvá-lo do barbarismo reencontrado na estupidez do egoísmo neoliberal. Isso faria do planeta o seguro espaço da vida. O retorno esperado à Teologia da Libertação é uma das vias de acesso à Terra Prometida.
O filósofo francês Dany-Robert Dufour, em um de seus ensaios, pergunta que homem emergirá do ultraliberalismo de hoje. Não é necessária a pergunta: ele já está aí, no corpo volumoso adquirido nas academias e nutrido de anabolizantes; na cabeça reduzida pelas mensagens de uma cultura castradora, fundada no efêmero e no inútil; na pele usada como o anúncio de cada um, mediante as tatuagens; na ilusão da fama e da eternidade, nas postagens arrogantes no Facebook; no ódio ao outro, celebrado no culto à morte.
Essa visão nublada do mundo está contaminando grande parte de nossa juventude, nas escolas e universidades. É preciso que as escolas deixem o tecnicismo que as reduz, e voltem ao módulo ético, para fazer dos homens, homens, e deles afastar os instintos dos predadores.
É preciso reagir. Os alemães dos anos 20 e 30 não reagiram, quando grupos de nazistas atacavam os judeus e os comunistas. Os democratas europeus não reagiram contra as chantagens de Hitler no caso do Sarre, da anexação da Áustria, do ultimato de Munique. Dezenas de milhões pagaram, com o sofrimento e a vida, essa acovardada tolerância.
*Mauro Santayana é jornalista autodidata e colunista político.
Na verdade, dois são os vetores da brutalidade: o medo e a loucura. Os grandes assassinos são movidos pela paranoia, e a paranoia oscila entre o ilusório sentimento de absoluta potência e a frustração da impotência. É dessa forma que Adorno, em Mínima moralia, diz que o fascista é um masoquista, que só a mentira transforma em sádico, em agente da repressão.
Quem são esses jovens embrutecidos que agrediram um nordestino junto à Estação das Barcas, em Niterói — e foram contidos pelas pessoas que ali se encontravam? São trastes humanos, ainda que sejam trabalhadores e estudantes, tenham família e amigos. O que os faz reunir-se, armar-se, sair às ruas, a fim de agredir e — quando podem — matar outras pessoas?
Individualmente, apesar de suas artes marciais, seus socos ingleses, seus punhais e correntes de aço, são apenas seres acoelhados, agachados atrás de si mesmos, que só crescem quando se agrupam e se multiplicam, em suas patas, seus punhos, suas armas.
Eles não nasceram com garras, nem tendo a cruz suástica e outros símbolos riscados na pele. Foram crianças iguais às outras, que encontraram pela frente uma sociedade brutalizada pelo egoísmo.
Não é difícil que tenham sentido no lar o eco de uma civilização corrompida pela competição e destruída, em sua alma, sob o capitalismo sem freios. Às vezes nos esquecemos que só um por cento dos homens controla toda a riqueza do mundo.
Tampouco nasceram assim os que matam os moradores de rua, movidos pelo mesmo medo e pela mesma ideia de que é preciso manter as cidades “limpas”. Nestes últimos meses, tem aumentado o número de moradores de rua assassinados em todo o país — mas mais intensamente em São Paulo, no Rio, em Belo Horizonte, em Goiânia.
De acordo com as estatísticas, 195 deles foram mortos em 2012 e nos primeiros meses deste ano. A imprensa internacional está debitando o massacre à conveniência de “sanear” as maiores cidades, antes do afluxo de visitantes que se esperam para a Jornada Mundial da Juventude, neste ano, e para a Copa do Mundo, no ano que vem.
É bom lembrar que a matança de crianças na Candelária foi atribuída a uma “caixinha” de comerciantes da região, interessados em varrer as ruas desses bichos “incômodos e sujos”, que são os meninos pobres.
Há historiadores e antropólogos que amenizam o mal-estar contemporâneo diante dessa realidade, com a afirmação de que, desde as cavernas, o homem é naturalmente predador. Ocorre que, contra essa perturbadora condição de bichos que somos, prevaleceu o sentimento de solidariedade que nos tornou humanos, e foi possível sobreviver às catástrofes naturais, como os terremotos e as pestes, e às guerras continuadas. Mas, dentro da ideia dialética de que a quantidade altera a qualidade, chegamos a um ponto insuportável.
Há dois caminhos na luta contra essa nova barbárie. Um é o da fé religiosa, outro o da razão materialista. A fé — um acordo entre o homem primitivo e o mistério da vida, a que ele deu o nome de Deus — tem sido o principal suporte da espécie, sempre e quando ela não se perde no fanatismo.
A razão se encontra com a fé no exercício do humanismo. Mas há sempre razão na fé, como há fé na lógica do ateu. As duas posturas são de autodefesa da sociedade humana e se realizam na coerente ação política. Como disse Tomás de Aquino, a filosofia das coisas humanas só se concretiza com a prática da política.
Há novos pensadores, sobretudo na velha França, que buscam recuperar o humanismo de Marx, o do jovem filósofo dos Manuscritos econômicos e filosóficos, de 1844, e as suas reflexões sobre a alienação. O trabalho de Marx correspondeu à necessidade de defesa dos trabalhadores contra o liberalismo do século 19, e a desapiedada exploração dos pobres pelas oligarquias burguesas, substitutas do velho feudalismo.
Retornar a Marx é buscar novas e mais eficazes respostas contra o neoliberalismo de nossos dias. É ainda possível a aliança entre o humanismo cristão e os pensadores agnósticos, fundada em uma constatação fácil, a de que é preciso salvar o homem de si mesmo. É urgente salvá-lo do barbarismo reencontrado na estupidez do egoísmo neoliberal. Isso faria do planeta o seguro espaço da vida. O retorno esperado à Teologia da Libertação é uma das vias de acesso à Terra Prometida.
O filósofo francês Dany-Robert Dufour, em um de seus ensaios, pergunta que homem emergirá do ultraliberalismo de hoje. Não é necessária a pergunta: ele já está aí, no corpo volumoso adquirido nas academias e nutrido de anabolizantes; na cabeça reduzida pelas mensagens de uma cultura castradora, fundada no efêmero e no inútil; na pele usada como o anúncio de cada um, mediante as tatuagens; na ilusão da fama e da eternidade, nas postagens arrogantes no Facebook; no ódio ao outro, celebrado no culto à morte.
Essa visão nublada do mundo está contaminando grande parte de nossa juventude, nas escolas e universidades. É preciso que as escolas deixem o tecnicismo que as reduz, e voltem ao módulo ético, para fazer dos homens, homens, e deles afastar os instintos dos predadores.
É preciso reagir. Os alemães dos anos 20 e 30 não reagiram, quando grupos de nazistas atacavam os judeus e os comunistas. Os democratas europeus não reagiram contra as chantagens de Hitler no caso do Sarre, da anexação da Áustria, do ultimato de Munique. Dezenas de milhões pagaram, com o sofrimento e a vida, essa acovardada tolerância.
*Mauro Santayana é jornalista autodidata e colunista político.
Vermelho
Aos poucos, a realidade se impõe
Aos poucos, a realidade se impõe. Nada de apagão ou racionamento de energia, até porque o país tem gás e termoelétricas e, para azar da oposição, chove e muito. As ações da Petrobras se recuperam (ontem subiram mais de 6%) e a empresa gradualmente retoma seu ritmo normal.
O tomate virou piada e vai voltando ao seu preço de sempre, e a inflação despenca. Na contramão da gritaria histérica de certa mídia e da oposição, os brasileiros e brasileiras continuam os mais otimistas com a sua economia, segundo levantamento do IPSOS.
A pesquisa em 24 países mostra que, no Brasil, 70% dos entrevistados dizem que a economia estará melhor daqui a seis meses. Em seguida, aparece a Arábia Saudita, com 53%. Para 48% dos brasileiros, a economia hoje está boa.
Royalties
Mas não podemos nos esquecer de construir um futuro ainda mais promissor. Isso envolve a educação e a tecnologia. É por isso que é extremamente importante a decisão da presidenta Dilma Rousseff de insistir em direcionar os recursos dos royalties do petróleo integralmente para a educação.
Dilma anunciou ontem que vai encaminhar uma nova proposta ao Congresso Nacional. O governo já tinha editado uma Medida Provisória em dezembro, mas ela não foi votada pelo Congresso e vai perder a validade no próximo dia 12.
“Nós, nessa questão da educação, somos teimosos, insistentes. E nós vamos enviar uma nova proposta para uso dos recursos, royalties e participações especiais, e o recurso do pré-sal para chegar exclusivamente na educação.Vamos teimar, o Brasil tem que destinar essa grande riqueza para ser gasta em educação", afirmou a presidenta.
A resistência dos governadores e prefeitos que preferem o uso não vinculado dos recursos é um perigo, já que podem ser destinados a custeio e pessoa. Já os recursos do Fundo Social são vinculados à educação, à inovação e ao meio ambiente.
Não haverá como superar a concorrência externa e as importações e impulsionar a nossa indústria apenas com as necessárias reduções do custo Brasil, juros e impostos, melhor infraestrutura e logística mais barata.
É preciso uma revolução educacional e tecnológica, sem a qual não há como sobreviver. Muito menos aumentar o salário e a renda média dos brasileiros. Isso só pode ser feito com tecnologia, com maior valor agregado, que exige um nível educacional maior de todo o nosso povo, rumo à cidadania.
Blog do Zé Dirceu
A autodestruição de Marina
Ao associar seu nome ao de figuras como Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa,
ela dá adeus ao eleitorado progressista que poderia ver nela uma opção
em 2014.
Autodestruição: Marina
Marina está abatendo a si própria antes de sequer levantar vôo.
Dois passos recentes foram particularmente desastrosos para quem tem,
ou tinha, a ambição de fisgar um eleitorado de esquerda e
centro-esquerda insatisfeito com o PT.
O primeiro foi um vídeo, divulgado ontem, no qual ela associa seu
nome ao de Gilmar Mendes, uma das figuras mais rejeitadas do país.
No vídeo, ela agradece a Gilmar por ter evitado dificuldades para a
criação da Rede, o partido com o qual ela pretende disputar a
presidência em 2014 – desde que sejam alcançadas as 555 000 assinaturas
requeridas.
Bater palmas para Gilmar, amplamente detestado pelo eleitorado
progressista, é um erro colossal. Associar-se a ele é o equivalente, em
termos eleitorais, a associar-se a José Serra.
O segundo passo foi tão autodestrutivo quanto o primeiro. Marina
marcou um encontro com Joaquim Barbosa, também ele um anátema para os
progressistas.
Marina não ganha nada com o encontro: Barbosa jamais apoiaria um
projeto que pudesse remotamente favorecer o partido que ele tratou com
rigor avassalador – e cheio de buracos, pelo que os fatos vão mostrando
— no julgamento do mensalão.
Se não lucra nada, Marina perde muito ao vincular sua imagem à de JB,
outro personagem que causa repulsa ao eleitores progressistas.
Parece aquela propaganda da Gilette, em que a barba desaparecia com
uma dupla lâmina, em que a primeira fazia tchan e a segunda
tchantchantchantchan.
As aspirações presidenciais de Marina podem ter se encerrado aí. Gilmar faz o tchan e JB o tchantchantchantchan – e adeus votos.
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O jornalista Paulo Nogueira, baseado em
Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises
Diário do Centro do Mundo.
Diário do Centro do Mundo
Rótulo 'bolivariano' é o novo tomate contra o PT
Assim
como na inflação do tomate, há mais um movimento orquestrado nos meios
de comunicação; a moda, agora, é dizer que o PT e a presidente Dilma
atentam contra a democracia; o que parecia apenas uma tomatada
ideológica na revista Veja do fim de semana, já ganhou a adesão de
Ricardo Noblat, de Reinaldo Azevedo e de Dora Kramer, em suas colunas, e
de João Roberto Marinho, em editorial do Globo; no Brasil de hoje, ter
ampla base de apoio parlamentar e exercê-la virou sinônimo de ditadura,
quase um crime; enquanto isso, democrático parece ser recorrer ao
Judiciário para reverter decisões tomadas pela maioria do Congresso
Nacional
247 -
Parecia apenas mais uma tomatada ideológica da revista Veja. No fim de
semana, sob o título "A República Bolivariana do Brasil", a publicação
acusava o PT de tentar esmagar a democracia no Brasil. Tudo porque o
deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) havia apresentado, dois anos antes,
uma Proposta de Emenda Constitucional, a PEC 33, que amplia o quórum
para que o Supremo Tribunal Federal tome algumas decisões relacionadas a
Ações Diretas de Inconstitucionalidade. O objetivo, em vez de combater a
separação entre os poderes, cláusula pétrea da Constituição Federal, é
justamente fortalecê-la, uma vez que o STF tem sido useiro e vezeiro em
invadir a seara alheia, anulando, muita vezes de forma liminar, decisões
tomadas pela maioria do Parlamento. Por isso mesmo, o projeto, relatado
pelo deputado tucano João Campos (PSDB-GO), foi aprovado na Comissão de
Constituição e Justiça, da Câmara dos Deputados.
No entanto, o que deveria
ser apenas um projeto a mais em tramitação no Congresso Nacional deu
vazão a um discurso histérico contra o PT – e a mais uma agressão
institucional contra o parlamento, cometida pelo ministro Gilmar Mendes,
que, numa liminar, impediu a tramitação de um projeto sobre fidelidade
partidária aprovado pela Câmara dos Deputados. Agindo politicamente,
Gilmar condenou a decisão dos parlamentares, como se, numa democracia,
fosse crime ter maioria parlamentar e exercê-la.
O problema é que a
imprensa tradicional, em vez de criticar a decisão de Gilmar, que poderá
ser corrigida pelo plenário do STF em maio, tem-se concentrado em
espalhar a tese do bolivarianismo. Ontem, Ricardo Noblat, colunista do
Globo, acusou o PT e a própria presidente Dilma Rousseff de patrocinarem
golpes contra a democracia (leia mais aqui).
Hoje, Reinaldo Azevedo afirma que o PT inveja a Bolívia, onde Evo
Morales conseguiu autorização para concorrer a um terceiro mandato (leia
aqui).
E o mais curioso é que nem Lula, nem Dilma jamais mexeram nas regras
eleitorais. Foi FHC quem aprovou a emenda da reeleição e é agora Aécio
Neves quem pretende acabar com ela, porque assim terá condições de
costurar um pacto com Eduardo Campos.
O rótulo "bolivariano"
inspirou também a colunista Dora Kramer, do Estadão, que, a pretexto de
comentar o documentário "O Dia que durou 21 anos", sobre a ditadura
militar, alerta para o risco que o PT hoje representaria para a
democracia. E fez também o jornal O Globo afirmar, em editorial, que o
"bolivariano" Partido dos Trabalhadores tenta arrancar cláusulas pétreas
da Constituição Federal.
Leia abaixo o artigo de Dora:
O Dia que Durou 21 Anos é
um documentário para ser visto e compreendido em duas dimensões, a
explícita e a implícita. Trata da influência do governo dos Estados
Unidos no golpe militar de 1964, mas não é só isso.
Subjacente às urdiduras
norte-americanas no Brasil, o argumento do jornalista Flávio Tavares
confere nitidez à linha tênue que separa as palavras ditas das intenções
pretendidas quando o nome do jogo é Poder.
No filme, Newton Cruz, um
dos mais coléricos personagens do período, diz uma frase que surpreende
pela autoria e deixa patente a diferença entre o discurso de defesa da
democracia que justificou a conspirata para derrubar João Goulart e a
prática que logo revelaria o intuito de instalar uma ditadura militar
longeva no País.
"Disseram que iriam
arrumar a casa, mas ninguém leva 20 anos para arrumar uma casa", aponta o
aposentado general quase ao final dos 77 minutos de projeção. Para além
do relato em si, a constatação convida o pensamento a passear pelo
terreno das razões alegadas e dos métodos utilizados por aqueles com
vocação autoritária.
Gente refratária ao
contraditório, obstinada na perseguição de seus objetivos, convicta de
que seus fins justificam o emprego de quaisquer meios e, sobretudo,
partidária da ideia de que alternância no exercício do poder é
praticamente um crime de lesa-pátria.
O procedimento mais
tradicional observado nesses grupos é o uso da força, a truculência sem
ambiguidades, a ilegalidade impudente. Assim foi a partir daquele dia de
março/abril do qual se ouvirá falar muito, junto com Copa e eleições,
em 2014 por ocasião da passagem de seu meio século.
Há, porém, outras
maneiras de o autoritarismo se expressar. Ladinas, sorrateiras, mas
sempre ao abrigo do discurso de defesa de ideais democráticos. Ambas as
formas são perigosas, mas a segunda pode ser mais ruinosa justamente
porque não ataca de frente preferindo comer o mingau pelas beiradas.
Persistentemente,
construindo o cerco à atuação dos adversários, o enfraquecimento das
instituições e a debilitação dos instrumentos de guarda da legalidade,
nos detalhes. Um aqui, outro ali, sem nunca descuidar de distribuir
benesses pontuais e promover uma sensação geral de bem-estar a fim de
que seus propósitos não despertem reações.
E, se despertarem, que
possam ser atribuídas aos invejosos, aos conspiradores, aos
preconceituosos, aos inimigos do povo, aos que não se conformam com o
êxito dos locatários do poder que pretendem dele se tornar
proprietários.
De onde é preciso estar
atento. Não se deixar confundir nem iludir. Nunca menosprezar gestos
aparentemente laterais, insignificantes, pitorescos até.
Nada tem de inocente a
proposta apresentada por um deputado supostamente secundário do PT para
que se derrube o pilar do sistema republicano de equilíbrio entre
Poderes e se submetam decisões da Corte Suprema ao crivo do Legislativo
ou de plebiscitos.
Não houvesse imprensa
livre para denunciar e Judiciário independente para reagir, a proposta
poderia prosperar. Se hoje tivéssemos o conselho de controle e
fiscalização dos meios de comunicação proposto no início do primeiro
mandato de Lula, se os ministros indicados por governos do PT ao STF
tivessem se curvado à lógica de que à indicação deveria corresponder
conduta submissa, talvez a ideia do deputado Nazareno não fosse tratada
como a ignomínia que é.
De onde é preciso prestar
muita atenção à tal de Comissão Especial de Aprimoramento das
Instituições instalada em novembro na Câmara por iniciativa do PT, com a
tarefa de rediscutir os papéis do Executivo, Legislativo e Judiciário.
Disso já trata a Constituição que, uma vez respeitada, cuida bem de manter afastados do Brasil os males do arbítrio.
Leia ainda o editorial do Globo:
Fúria legiferante do PT passa por cima da boa tradição jurídica, e flerta abertamente com o modelo bolivariano
Temporariamente esfriada a
tensão entre o Congresso e o Supremo, continuam a germinar na beira do
campo propostas que visam a constranger o STF, culpado da ousadia
imperdoável que foi o julgamento do mensalão. Desde julho de 2012,
existe uma entidade criada pelo ex-presidente da Câmara, Marco Maia, que
atende pelo sugestivo nome de Comissão Especial de Aprimoramento das
Instituições Brasileiras. A ela foi entregue, pelo sucessor de Maia — o
deputado Henrique Alves —, o nada modesto projeto de “delimitar o
terreno do Executivo, do Legislativo e do Judiciário”.
Qualquer pessoa de
bom-senso imaginaria que isto é função de uma Assembleia Constituinte.
Mas não há limites para a imaginação de alguns legisladores do PT — como
o deputado Nazareno, que surgiu de capa e espada, dentro da Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara, para alterar os pesos e medidas do
nosso sistema institucional.
Agora temos outro
legislador-mor: é o deputado Rogério Carvalho (PT-SE), relator da
mencionada Comissão de Aprimoramento das Instituições Brasileiras. Para
ele, a fixação de limites e competências dos Poderes é o “debate
central” da comissão (pensava-se que esses limites e competências já
estariam inscritos na letra da Constituição).
A intenção do deputado,
explicada antes mesmo de qualquer debate, é fortalecer os poderes
eleitos (Executivo e Legislativo), sob o argumento de que o julgamento
das urnas proíbe a formação de “instituições absolutistas”. A essa pecha
submete o deputado a antiga ideia de Montesquieu, a do equilíbrio dos
poderes. O que o deputado pretende é exatamente desmanchar esse
equilíbrio recorrendo ao voto popular. Modelo que o chavismo praticou
até arrasar com as instituições venezuelanas.
Sociedades, com certeza,
não são mecanismos estáticos. Pode haver o desejo de adaptar o texto
constitucional a novas necessidades. Mas há limitações para isso,
destinadas a evitar uma deformação contínua do tecido constitucional. O
exemplo extremo é o dos EUA, cujo texto constitucional mantém-se
impávido há 200 anos.
Segundo uma sábia
tradição, o poder de reforma não é o mesmo que o poder constituinte
original. Exemplo disso são as famosas cláusulas pétreas, que não podem
ser modificadas. Sua função é prevenir um processo de erosão da
Constituição. Pretende-se evitar que a sedução de apelos próprios a cada
momento destruam um projeto duradouro. Assim, diz o artigo 60 da
Constituição brasileira: “Não será objeto de deliberação a proposta de
emenda tendente a abolir a forma federativa, o voto direto, secreto,
universal e periódico, a separação dos poderes e os direitos e garantias
individuais”. Os legistas do PT precisam ler a Constituição.
247
Desde quando exercer maioria é antidemocrático?
O fim da ditadura militar, em 1985, com a eleição pelo Congresso dos
civis Tancredo Neves e José Sarney; a Constituição de 1988 e a definição
do mandato de cinco anos para Sarney; a reeleição de Fernando Henrique,
em 1997; todos esses fatos políticos se deram pela força de maiorias
parlamentares; aconteceram pelo voto dos representantes eleitos pelo
povo, os deputados e senadores; agora, porém, busca-se criminalizar o
exercício da maioria; votos que contrariam as elites não valem, é isso?
247 _ Desde 1985, quando Tancredo Neves e José Sarney foram eleitos
presidente e vice-presidente do Brasil pelo Congresso Nacional
transformado em Colégio Eleitoral, com 480 votos (72,4%) contra 180
(27,3%) para Paulo Maluf e 26 abstenções, todas, sem exceção, todas as
grandes mudanças políticas no País se deram pelo voto de maiorias
democraticamente constuídas. Nunca mais, a partir de 1985, voltou-se ao
caminho da ruptura com as instituições e suas regras, como o que foi
trilhado por militares e civis no golpe de 1º de abril de 1964.
Para
conseguir cinco anos de mandato, José Sarney, em 1988, construi a sua
própria maioria no Congresso. Naquele mesmo ano, igualmente foi por
maioria de votos, o mesmo Congresso aprovou a Constituição "Cidadã",
como a batizou o então presidente da casa, Ulysses Guimarães. Anos
depois, em 1997, a iniciativa do então presidente Fernando Henrique
Cardoso de ter mais uma mandato foi igualmente a voto – e por maioria,
aprovou-se a reeleição, a começar pelo próprio FHC.
Qual é o
problema, então, no fato de, agora, ao menos aparentemente, por meio da
chamada base aliada, o governo da presidente Dilma Rousseff ter sua
própria maioria parlamentar?
A interrogação veio à tona do noticiário político em razão dos largos espaços, dados pela mídia tradicional, aos reclamos dos que projetam perder, por estarem em minoria, votações congressuais sobre a criação de novos partidos políticos e, também, de ajustes na na relação institucional entre o Congresso e o STF. Do ponto de vista dos opositores, o projeto de lei e a proposta de emenda constitucional que tratam desses assuntos são ruins, péssimos, inadequados, anacrônicos, enfim, não servem de modo algum ao País. Ok! Para quem com eles se agrada, porém, os mesmos instrumentos de ação parlamentar são ótimos, perfeitos, importantes, modernos, em resumo, representarão importante contribuição institucional ao País.
A interrogação veio à tona do noticiário político em razão dos largos espaços, dados pela mídia tradicional, aos reclamos dos que projetam perder, por estarem em minoria, votações congressuais sobre a criação de novos partidos políticos e, também, de ajustes na na relação institucional entre o Congresso e o STF. Do ponto de vista dos opositores, o projeto de lei e a proposta de emenda constitucional que tratam desses assuntos são ruins, péssimos, inadequados, anacrônicos, enfim, não servem de modo algum ao País. Ok! Para quem com eles se agrada, porém, os mesmos instrumentos de ação parlamentar são ótimos, perfeitos, importantes, modernos, em resumo, representarão importante contribuição institucional ao País.
Para
resolver a dúvida entre quem tem a avaliação correta, a solução, apontam
todas as democracias em funcionamento no mundo, entre as quais a
brasileira, é votar. E vence a maioria. Uma questão política dirimida
pela matemática mais simples e cristalina.
Só não aceita o exercício da maioria quem é contra a democracia – um regime de aceitação de contrários, no qual se busca praticar a vontade das maiorias que vão se constituindo diante dos acontecimentos. Pode-se, na democracia, recorrer-se à Justiça para dirimir conflitos. E este é o último estágio. Perder em minoria, ser derrotado judicialmente e, ainda assim, querer impor vontade é autoritarismo, o oposto da democracia. É golpismo.
Só não aceita o exercício da maioria quem é contra a democracia – um regime de aceitação de contrários, no qual se busca praticar a vontade das maiorias que vão se constituindo diante dos acontecimentos. Pode-se, na democracia, recorrer-se à Justiça para dirimir conflitos. E este é o último estágio. Perder em minoria, ser derrotado judicialmente e, ainda assim, querer impor vontade é autoritarismo, o oposto da democracia. É golpismo.
Pela
mídia tradicional, o que se vê hoje, na maioria das páginas, é a
ultrapassagem dessa noção básica da democracia – a de que quem determina
o rumo dos acontecimentos é a maioria. Às minorias são garantidos todos
os direitos, aindan que esses venham por conquistas e com luta dentro,
outra vez, dos parâmetros democráticos.
Na mídia tradicional, vai-se
tentando criminalizar o legítimo direito da mairia governista no
Congresso de votar unida. No ano passado, o ex-prefeito Gilberto Kassab
aproveitou uma janela de oportunidade e montou, nas regras vigentes, o
seu PSD. Hoje, quando Marina Silva e Roberto Freire querem fundar os
seus Rede Sustentabilidade e Mobilização Democráticas, as condições
políticas no Congresso são outras – e vai se formando uma maioria contra
esses projetos.
De resto, uma maioria que tem argumentos sólidos contra
o argumento da minoria, por exemplo, de que um parlamentar que se
transfere de partido político leva com ele o tempo de exposição na
televisão para o novo partido (que teria seu tempo baseado na soma de
parlamentares que conseguiu obter). Isso significa dizer, para a atual
maioria, que o tempo de tevê passa a ser do político em pessoa, e não do
partido pelo qual ele foi eleito. Argumentam que isso seria a
desorganização completa do bagunçado sistema partidário.
Os que
acreditam estar em minoria não concordam e foram ao Supremo Tribunal
Federal pedir a interrupção da tramitação desse projeto de lei, de
autoria do deputado Edinho Araújo (PMDB-SP). Ganha-se tempo, mas não há
como o Supremo confirmar a liminar dada pelo ministro Gilmar Mendes sem
interferir diretamente nos assuntos do Poder Legislativa, cuja autonomia
e garantida pela Constituição.
A crise, portanto, é muito mais de não
aceitação da maioria pela minoria, o que deveria ser algo já assimilado,
tantas as experiências teve o Brasil neste sentido: eleição de
Tancredo, cinco anos para Sarney, reeleição de Fernando Henrique etc.
Tudo foi por maioria. Agora, diante de um projeto de lei de muito menor
envergadura que os casos citados, se diz que exercer a maioria é
antidemocrático? Isso parece só estar acontecendo porque das outras
maiorias a elite gostava, e dessa atual, não.
247
segunda-feira, 29 de abril de 2013
Reeleger porquê
Marcos Coimbra
Adotado no Brasil em 1997 em
condições inesquecíveis (com o jogo em pleno andamento, faltando apenas
um ano para a eleição seguinte, Fernando Henrique Cardoso persuadiu o
Congresso a alterar a Constituição para que pudesse se manter no cargo),
o instituto da reeleição no Executivo foi rapidamente aceito. As
pesquisas mostram que 80% da população o aprovam.
Desde então,
fizemos oito pleitos. Se contarmos as escolhas de prefeitos,
governadores e presidentes da República, são alguns milhares de
processos eleitorais. Quantidade mais que suficiente para que possamos
identificar os fatores que explicam os sucessos (e os fracassos) dos
candidatos que a buscam.
O que leva alguém a se reeleger? Em que circunstâncias o mandatário tem maiores chances de obter novo mandato?
A
questão é central para avaliar as perspectivas da próxima eleição
presidencial, pois Dilma é candidata. Não precisava, mas Lula deixou
isso claro e assim “precipitou” a eleição para “surpresa” (fingida) de
alguns.
Olhando o que aconteceu nas eleições entre 1998 e 2012, a primeira constatação é que é elevada e crescente a proporção de êxitos dessas candidaturas.
Olhando o que aconteceu nas eleições entre 1998 e 2012, a primeira constatação é que é elevada e crescente a proporção de êxitos dessas candidaturas.
Para não ficar somente nas eleições presidenciais, em que é de 100% (dois disputaram e ambos se elegeram), vejamos as outras.
Para
governador, fomos de 66% de reeleições, em 1998, para 81%, em 2010,
quando 11 tentaram e 9 venceram. O que era alto (dois terços de
vitórias) tornou-se quase universal (quatro resultados favoráveis em
cada cinco tentativas).
O mesmo aconteceu nas eleições de prefeito
de capital. Em 2000, cerca de 70% dos que buscaram novo mandato o
conquistaram. Em 2004, a proporção subiu para 73% e chegou a 95% em 2008
(20 procuraram e 19 foram bem-sucedidos).
Em 2012, a taxa caiu
(entre outros motivos pelo fato de que vários dos que disputaram tinham
assumido as prefeituras havia apenas dois anos, em função da renúncia do
titular), indo para 50%.
O certo é que ganhar é muito mais comum que perder. Por quê?
De
acordo com nossa experiência, a vantagem de um candidato à reeleição
pode advir de várias combinações de cinco fatores. Às vezes, um só
basta.
1º A “inércia”
Em geral, no mundo
inteiro, quem está no cargo tem vantagem. Para o cidadão comum, que
tende a ter interesse secundário por questões políticas, escolher o
conhecido é mais simples que buscar alternativas.
Some-se a isso o
estereótipo de que mudar implica desperdício. As pessoas acreditam que
quem chega interrompe o que o anterior fazia e demora a ter em mãos as
rédeas da administração. Como se percebe nas pesquisas qualitativas, os
eleitores preferem deixar as coisas como estão a se aventurar pelo
desconhecido.
2º A boa administração
Se o
governo é bem avaliado, a tendência natural é a continuidade. Argumentos
hipotéticos de que “tudo estaria melhor com Fulano” esbarram no
ceticismo popular em relação às “promessas dos políticos”.
Quanto
mais vota, mais o eleitor se convence de que mudar só é bom quando as
coisas vão mal (e, para derrotar quem está no exercício do cargo, têm
que estar muito mal).
3º A simpatia
As
pessoas podem gostar de um prefeito, governador ou presidente mesmo se
não o considerarem um gestor exemplar. Podem admirar suas qualidades de
caráter e personalidade, ter carinho por seu modo de ser, se emocionar
com sua trajetória.
4º A força do símbolo
Já
tivemos muitos governantes eleitos e reeleitos pelo simbolismo do que
representavam: o “homem do povo” que enfrenta a “elite”, o “fraco” que
desafia o “forte”, o desprivilegiado que confronta o privilegiado.
Na
reeleição, candidatos com esse perfil são julgados com critérios
distintos dos que os eleitores - com razão - aplicam aos “poderosos”.
Têm, por exemplo, mais prazo para “mostrar seu trabalho”.
5º A fragilidade dos adversários
Perante
oponentes fracos, todo candidato se fortalece. Nada melhor que lutar
contra adversários desconhecidos, que andam em má companhia ou de
biografia incipiente.
Qualquer um desses fatores, mesmo que
sozinho, pode explicar uma reeleição, até a pura e simples inércia. Mas
isso raramente acontece. O mais comum é que ela seja acompanhada de,
pelo menos, mais um ingrediente.
Quando vários se conjugam, temos os grandes favoritos. Desde 1998, todos esses terminaram vencendo.
E Dilma?
Tem
a inércia a favor. Faz a mais bem avaliada administração de nossa
história em momento igual. Goza do respeito e do afeto de mais de 80% da
população.
É a primeira mulher a chegar à Presidência. Contrapõe-se a candidatos regionalmente circunscritos e de agenda limitada.
Vai ganhar? Certeza, só teremos em 2014. Mas é favoritíssima.
Marcos Coimbra é presidente do Instituto Vox Populi de Pesquisas.
Blog do Noblat em O Globo
O que o tucano relator da PEC 33 falou sobre a polêmica
sugerido por Amália Renan Chaves, via Facebook
O SR. JOÃO CAMPOS (PSDB-GO. Sem revisão do orador.) —
Sr. Presidente, apesar da exiguidade do tempo, vou procurar falar sobre
dois assuntos, de forma muito breve. PEC nº 33, admitida, ontem, pela
CCJ, de autoria do Deputado Nazareno Fonteles e da qual tive a honra de
ser Relator.
Preocupa-me, porque setores da imprensa nem sequer leram o texto,
tampouco alguns constitucionalistas, e se apressam em omitir opinião.
A PEC nº 33 não tira do Supremo Tribunal Federal nenhuma atribuição.
Já ouvi manifestações, hoje, de que a PEC tira a atribuição do Supremo
de julgar determinados crimes, dificulta o julgamento. Isso é uma
falácia, uma mentira.
A PEC nº 33 não trata disso. A PEC nº 33 trata de estabelecer um
quórum diferenciado para o julgamento de ação direta de
inconstitucionalidade, que, hoje, é apenas a maioria absoluta.
Uma emenda constitucional, Deputado Amauri Teixeira, é aprovada nesta
Casa e na outra, em dois turnos, por três quintos, um quórum
qualificadíssimo. O Supremo pode considerá-la inconstitucional por
metade mais um, ou seja, seis Ministros.
A PEC está elevando esse quórum, para ser mais qualificado, dada a importância da matéria.
Isso não fere a separação dos Poderes, o equilíbrio entre os Poderes,
ao contrário, dá mais segurança jurídica e permite que o Supremo seja
mais criterioso na avaliação da constitucionalidade ou não de uma
matéria.
A PEC propõe que, nas hipóteses de emenda constitucional, o Supremo
não possa suspender a eficácia monocraticamente. Observem: uma emenda
constitucional, aprovada pela Casa, com os critérios conhecidos, pode
ser contestada no Supremo por um Ministro, sozinho, que suspende os
efeitos da emenda constitucional. Isso não me parece razoável.
Isso ofende o princípio da separação dos Poderes? Jamais. Isso ofende
cláusula pétrea? Jamais. Isso tira a competência do Supremo? Nenhuma.
Então, estão fazendo um cavalo-de-batalha desnecessariamente. Estamos
fortalecendo os pressupostos para a edição de súmula vinculante. Após
isso, há algumas situações, que estão na PEC nº 33, do Deputado Nazareno
Fonteles, que devem passar pelo crivo do Parlamento.
Esse ponto merece, sim, um debate mais acurado, com
constitucionalistas, daí por diante. De outro lado, a PEC vai permitir
um bom diálogo entre o Parlamento e o Poder Judiciário.
Vamos debater o princípio da separação dos Poderes; os mecanismos de
freios e contrapesos; os princípios da legitimidade democrática; o
ativismo judicial, que o Supremo vem praticando, principalmente depois
de 2004, com intervenções indevidas na atividade do Poder Legislativo.
Mas é um debate qualificado.
Temos certeza de que iremos aprimorar os pressupostos constitucionais
de harmonia e de equilíbrio entre os Poderes. Então, quero fazer este
breve registro, dada a exiguidade do tempo.
Viomundo
Fonteles: PEC responde à “ferocidade autoritária” do Judiciário
por Luiz Carlos Azenha
O deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), autor da PEC 33, reagiu hoje às
críticas que recebeu de articulistas da grande mídia e do ministro do
Supremo Tribiunal Federal, Gilmar Mendes.
Na Folha, por exemplo, a colunista Eliane Cantanhêde
especulou que ele teria tramado uma dupla retaliação: contra a
condenação dos réus do mensalão e a aprovação da união gay pelo STF.
Fonteles informou ao Viomundo que a PEC 33 tem dois anos de idade, ou seja, começou a tramitar muito antes das decisões mais recentes do STF.
Ele admite, porém, que a PEC nasceu de uma tentativa de frear invasão do Judiciário nas atribuições do Congresso.
“O Judiciário está violando a Constituição e invadindo a função legislativa já há muitos anos”, afirmou.
Citou exemplos: fidelidade partidária, verticalização das eleições,
número de vereadores, cotas, células tronco embrionárias, aborto de
anencéfalos, união homoafetiva, royalties do petróleo e PEC dos
precatórios.
Mas, o que busca a PEC 33? Aumentar de seis para nove o número de
votos necessários (entre onze ministros) para que o STF tome decisões
sobre inconstitucionalidade, emendas constitucionais e súmulas
vinculantes.
No caso de leis ordinárias ou complementares, os nove votos seriam suficientes.
No caso de súmulas vinculantes, o Congresso teria 90 dias para
analisar a decisão do STF; se discordar, a súmula do STF se mantém mas
deixa de ser vinculante, ou seja, deixa de ser imposta a tribunais
inferiores.
No caso de emenda constitucional, a decisão do STF seria analisada
pelo Congresso por um prazo máximo de 90 dias; em caso de discórdia, a
decisão seria levada a consulta popular.
“Se um dia essa emenda vier a ser aprovada, é melhor que se feche o
Supremo Tribunal Federal”, afirmou Gilmar Mendes a respeito da PEC,
segundo o diário conservador Folha de S. Paulo.
Reagindo, o deputado disse que isso demonstra “como o Senado tem sido
negligente com um ministro desses, que tem a esposa trabalhando no
escritório do [advogado] Sergio Bermudes”, numa referência à
possibilidade de cassação de Gilmar Mendes.
Fonteles disse que a PEC é uma forma de coibir a “ferocidade
autoritária, quase fascista do Judiciário”, ao invadir a função
legislativa.
Sobre a sugestão da colunista Cantanhêde de que, como “deputado
cristão”, ele estaria se insurgindo contra decisões vistas como
progressistas do STF — células tronco, aborto de anencéfalos e união
homoafetiva, por exemplo –, o deputado disse que o STF é “um poder de
origem monárquica”, que serve ao interesse conservador mas usa algumas
de suas decisões para se apresentar como “moderno”.
Deu como exemplo duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADINs)
movidas pelo ex-procurador-Geral da República, Cláudio Fonteles, a
partir da mesma data, em 2005. Segundo o deputado, o STF decidiu sobre o
uso de células tronco em pesquisas mas até hoje não se manifestou sobre
os transgênicos, porque “mexe com os interesses da Monsanto”, a
gigantesca transnacional do agronegócio.
O STF, segundo o petista, funciona em função das “bancas ricas de advogados, que só os ricos podem bancar”.
Trechos:
“Existem 60 milhões de processos acumulados parados nos tribunais do
país, segundo o Conselho Nacional de Justiça. O que é que este pessoal
quer mexendo na função dos outros se estão sendo negligentes,
incompetentes e irresponsáveis no julgamento das causas, o que é seu
dever constitucional?”
“Agora quer holofote? Vai atrás de voto, larga a magistratura, vai
ser candidato, funda um partido e não se aproveite de uma conjuntura em
que a mídia oligárquica que nós temos em boa parte deste país faz, junto
com o Supremo, uma espécie de braço político auxiliar da oposição, que
foi derrotada nas urnas”.
Viomundo
A era neoliberal pode estar próxima do fim
Do site Resistir.info
Quatro sinais de que o neoliberalismo está (quase) morto
Sameer Dossani [*]
Embora Margaret Thatcher já não esteja entre os
vivos, sua ideologia permanece. Essa ideologia – conhecida hoje como
neoliberalismo,"fundamentalismo de mercado livre" na frase cunhada por
George Soros – é singularíssima. Além das crenças religiosas, não há
qualquer exemplo de uma ideologia que tenha sido tão amplamente refutada
e ainda assim mantenha uma aura de respeitabilidade.
A premissa básica do neoliberalismo – que "mercados livres" conduzem a melhor crescimento, mais prosperidade e mesmo mais igualdade – sempre foi ficção. Como Ha-Joon Chang, economista de Cambridge, reiteradamente apontou, não há tal coisa como um mercado livre. Nem há qualquer exemplo de um país que se tenha desenvolvido seguindo os dogmas neoliberais da privatização, liberalização e cortes orçamentais. Ao invés disso os países tradicionalmente têm utilizado uma combinação de subsídios, tarifas e investimento financiado por dívida para impulsionar indústrias e aproveitar sua vantagem comparativa para a produção de mercadorias mais avançadas.
Apesar da história, neoliberais argumentam que só os mercados deveriam determinar coisas como salários e que as corporações e seus proprietários deveriam poder operar como quisessem. Países desenvolvidos que adoptaram dogmas neoliberais depois de 1980 viram os salários estagnarem quase tão rapidamente quanto os lucros das corporações disparavam.
No mundo em desenvolvimento era muito pior. A África sofreu duas décadas de estagnação económica como resultado directo de ser forçada a seguir estas políticas, com os latino-americanos e asiáticos a fazerem não muito melhor. A década passada viu alguma melhoria, mas a comunidade global ainda está bem atrás de onde deveria estar em termos de erradicar a fome e doenças evitáveis.
Mas a era neoliberal pode, finalmente, estar a aproximar-se do seu fim há muito esperado. Eis porque:
1) O FMI admitiu que cortes orçamentais nem sempre são a resposta.
O FMI durante mais de três décadas forçou países a reestruturarem suas economias a fim de se alinharem aos dogmas neoliberais. Eles, em particular, obrigaram países endividados a cortarem orçamentos antes de poderem tomar emprestado junto a mercados de capitais para reembolsar credores. As frases que burocratas e políticos inventaram para vender esta ideologia são agora clichés: "Governos não podem gastar mais do que ganham", "Todos nós precisamos apertar os cintos", etc, etc. Com o corte da despesa do governo, continua a estória, os países abrem espaço para aumento dos gastos do sector privado e a economia cresce.
Embora estudos anteriores do FMI tenham chegado a conclusões semelhantes, só em Janeiro de 2013 o economista chefe do FMI publicou o que equivale a um "mea culpa". Descobriu que diminuição do investimento público é realmente um caminho muito bom para prejudicar perspectivas de desenvolvimento económico ao invés de aumentá-las. Uau!
E há uma outra faceta na estória. Durante os últimos anos, decisores têm citado um documento de economistas de Harvard que sublinham ostensivamente os perigos de países tomarem demasiado emprestado a fim de financiar despesas públicas. O documento sugere especificamente um ponto de ruptura – quando a dívida atinge os 90% do PIB – para além da qual as economias sofreriam devido às suas despesas excessivas. O documento tem sido citado por responsáveis públicos de todo o globo a fim de justificar cortes orçamentais. Mas verificou-se que as conclusões do documento resultavam de uma série de erros, um dos quais foi esquecerem-se de actualizar um cálculo numa folha de Excel. Quando os dados correctos são colocados no lugar, as conclusões mais ou menos desaparecem. Duplo uau!
2) A conferência do desenvolvimento de Doha está morta
Em Novembro de 2001 a Organização Mundial do Comércio lançou a sua "Conferência do desenvolvimento de Doha" ("Doha development round"). Apesar do seu nome, a conferência de Doha acerca de tudo menos desenvolvimento. Em lugar alto na agenda havia coisas como remover protecções sociais e ambientais, eliminar subsídios para agricultores pobres e assegurar que grandes companhias farmacêuticas pudessem manter patentes (e aumentar muito o custo das mesmas) sobre remédios salvadores de vidas.
Com a ajuda de activistas progressistas de Seattle a Hong Kong, e devido à enorme revolta de países em desenvolvimento na conferência ministerial de Cancun da OMC, Doha está mais ou menos morta e a OMC está num impasse. Isso é uma grande notícia para aqueles que querem ver o comércio justo como oposto ao "livre comércio" e pretendem acordos comerciais que colocam o desenvolvimento e os direitos humanos em primeiro lugar. O desafio agora é propor uma estrutura (e talvez mesmo um mecanismo) para a regulação multilateral do comércio global que dê mais prioridade a direitos humanos do que a lucros corporativos.
3) Países estão cada vez mais a comerciar em divisas locais
Além do FMI, um meio de os EUA manterem seu controle sobre o sistema económico global é a supremacia do US dólar. Certas transacções devem ser feitas em US dólares – comprar petróleo por exemplo – e o US dólar ainda é visto como a divisa global mais segura. O resultado é que o valor do dólar permanece artificialmente alto, aumentando o poder de compra dos consumidores estado-unidenses e o desejo de toda a gente em vender aos EUA.
Esta situação não beneficia quase ninguém (nem mesmo os consumidores dos EUA) e alguns governos começaram a procurar alternativas. Acordos para começar a comerciar em divisas locais foram negociados entre o Brasil e a China, a Turquia e o Irão, a China e o Japão, e os países BRICS. Embora alguns destes acordos estejam apenas a iniciar, se implementados eles representam um desafio significativo ao status quo.
4) A crise de 2007-2008 demonstrou sem qualquer dúvida que mercados não se regulam a si próprios. E a Islândia provou que há um outro caminho.
A crise financeira de 2007-08 está longe de ser a primeira crise financeira da era neoliberal. De facto, seria rigoroso chamar a era neoliberal de "era das crises financeiras". Desde o México em 1982, a outros países latino-americanos logo após, ao colapso das bolsas de valores dos EUA em 1987, ao Japão em 1990, à crise financeira asiática de 1997, à da Rússia e do Brasil em 1998-99, à Turquia e Argentina em 2000-2002, ao colapso da bolha da dot.com, dificilmente houve algum momento desde 1980 em que não houvesse uma crise financeira a acontecer em algum lugar. O que habitualmente acontece em tais tempos é que governos adoptam medidas para proteger as elites (habitualmente os banqueiros que realmente provocaram as crises) e comutam o fardo do pagamento dos seus custos para o público em geral. A crise actual é um bom exemplo.
Mas, ao contrário das crises anteriores, há indicações de que desta vez podemos estar a ver uma mudança de sistema. A primeira delas é simplesmente a escala da crise. A bolha habitacional dos EUA que entrou em colapso representou cerca de US$8 milhões de milhões (trillion) em riqueza artificial. Isso é mais de 11% do PIB global e sem contar com as bolhas habitacionais que entraram em colapso na Europa e alhures. Isto é um fracasso do mercado numa escala maciça.
Desta vez há também um exemplo de um país que protegeu os seus cidadãos, prendeu os seus banqueiros e está a obter resultados muito melhores. O país, a Islândia, junta-se à Argentina como um dos únicos países a incumprir dívidas resultantes de crise financeira. Os desastres que "toda a gente" estava à espera (não acesso a mercados de divisas, investidores pondo a Islândia na lista negra, etc) nunca se materializaram, mostrando que mesmo pequenos países podem enfrentar o cartel internacional de credores e viver para contar a história.
A Islândia demonstra que não há nada de natural acerca do neoliberalismo. A decisão de proteger elites dos efeitos dos mercados enquanto utiliza-se aqueles mesmos mercados para punir todas as outras pessoas é uma injustiça política, não uma lei natural.
E é esta injustiça que assegura que o neoliberalismo seguirá o mesmo caminho do pássaro dodó. Em última análise, mercados são apenas um contrato social, como o casamento. E assim como o movimento rumo à igualdade no casamento agora parece inevitável, a reforma drástica do modo como nos relacionamos com mercados está a caminho.
A premissa básica do neoliberalismo – que "mercados livres" conduzem a melhor crescimento, mais prosperidade e mesmo mais igualdade – sempre foi ficção. Como Ha-Joon Chang, economista de Cambridge, reiteradamente apontou, não há tal coisa como um mercado livre. Nem há qualquer exemplo de um país que se tenha desenvolvido seguindo os dogmas neoliberais da privatização, liberalização e cortes orçamentais. Ao invés disso os países tradicionalmente têm utilizado uma combinação de subsídios, tarifas e investimento financiado por dívida para impulsionar indústrias e aproveitar sua vantagem comparativa para a produção de mercadorias mais avançadas.
Apesar da história, neoliberais argumentam que só os mercados deveriam determinar coisas como salários e que as corporações e seus proprietários deveriam poder operar como quisessem. Países desenvolvidos que adoptaram dogmas neoliberais depois de 1980 viram os salários estagnarem quase tão rapidamente quanto os lucros das corporações disparavam.
No mundo em desenvolvimento era muito pior. A África sofreu duas décadas de estagnação económica como resultado directo de ser forçada a seguir estas políticas, com os latino-americanos e asiáticos a fazerem não muito melhor. A década passada viu alguma melhoria, mas a comunidade global ainda está bem atrás de onde deveria estar em termos de erradicar a fome e doenças evitáveis.
Mas a era neoliberal pode, finalmente, estar a aproximar-se do seu fim há muito esperado. Eis porque:
1) O FMI admitiu que cortes orçamentais nem sempre são a resposta.
O FMI durante mais de três décadas forçou países a reestruturarem suas economias a fim de se alinharem aos dogmas neoliberais. Eles, em particular, obrigaram países endividados a cortarem orçamentos antes de poderem tomar emprestado junto a mercados de capitais para reembolsar credores. As frases que burocratas e políticos inventaram para vender esta ideologia são agora clichés: "Governos não podem gastar mais do que ganham", "Todos nós precisamos apertar os cintos", etc, etc. Com o corte da despesa do governo, continua a estória, os países abrem espaço para aumento dos gastos do sector privado e a economia cresce.
Embora estudos anteriores do FMI tenham chegado a conclusões semelhantes, só em Janeiro de 2013 o economista chefe do FMI publicou o que equivale a um "mea culpa". Descobriu que diminuição do investimento público é realmente um caminho muito bom para prejudicar perspectivas de desenvolvimento económico ao invés de aumentá-las. Uau!
E há uma outra faceta na estória. Durante os últimos anos, decisores têm citado um documento de economistas de Harvard que sublinham ostensivamente os perigos de países tomarem demasiado emprestado a fim de financiar despesas públicas. O documento sugere especificamente um ponto de ruptura – quando a dívida atinge os 90% do PIB – para além da qual as economias sofreriam devido às suas despesas excessivas. O documento tem sido citado por responsáveis públicos de todo o globo a fim de justificar cortes orçamentais. Mas verificou-se que as conclusões do documento resultavam de uma série de erros, um dos quais foi esquecerem-se de actualizar um cálculo numa folha de Excel. Quando os dados correctos são colocados no lugar, as conclusões mais ou menos desaparecem. Duplo uau!
2) A conferência do desenvolvimento de Doha está morta
Em Novembro de 2001 a Organização Mundial do Comércio lançou a sua "Conferência do desenvolvimento de Doha" ("Doha development round"). Apesar do seu nome, a conferência de Doha acerca de tudo menos desenvolvimento. Em lugar alto na agenda havia coisas como remover protecções sociais e ambientais, eliminar subsídios para agricultores pobres e assegurar que grandes companhias farmacêuticas pudessem manter patentes (e aumentar muito o custo das mesmas) sobre remédios salvadores de vidas.
Com a ajuda de activistas progressistas de Seattle a Hong Kong, e devido à enorme revolta de países em desenvolvimento na conferência ministerial de Cancun da OMC, Doha está mais ou menos morta e a OMC está num impasse. Isso é uma grande notícia para aqueles que querem ver o comércio justo como oposto ao "livre comércio" e pretendem acordos comerciais que colocam o desenvolvimento e os direitos humanos em primeiro lugar. O desafio agora é propor uma estrutura (e talvez mesmo um mecanismo) para a regulação multilateral do comércio global que dê mais prioridade a direitos humanos do que a lucros corporativos.
3) Países estão cada vez mais a comerciar em divisas locais
Além do FMI, um meio de os EUA manterem seu controle sobre o sistema económico global é a supremacia do US dólar. Certas transacções devem ser feitas em US dólares – comprar petróleo por exemplo – e o US dólar ainda é visto como a divisa global mais segura. O resultado é que o valor do dólar permanece artificialmente alto, aumentando o poder de compra dos consumidores estado-unidenses e o desejo de toda a gente em vender aos EUA.
Esta situação não beneficia quase ninguém (nem mesmo os consumidores dos EUA) e alguns governos começaram a procurar alternativas. Acordos para começar a comerciar em divisas locais foram negociados entre o Brasil e a China, a Turquia e o Irão, a China e o Japão, e os países BRICS. Embora alguns destes acordos estejam apenas a iniciar, se implementados eles representam um desafio significativo ao status quo.
4) A crise de 2007-2008 demonstrou sem qualquer dúvida que mercados não se regulam a si próprios. E a Islândia provou que há um outro caminho.
A crise financeira de 2007-08 está longe de ser a primeira crise financeira da era neoliberal. De facto, seria rigoroso chamar a era neoliberal de "era das crises financeiras". Desde o México em 1982, a outros países latino-americanos logo após, ao colapso das bolsas de valores dos EUA em 1987, ao Japão em 1990, à crise financeira asiática de 1997, à da Rússia e do Brasil em 1998-99, à Turquia e Argentina em 2000-2002, ao colapso da bolha da dot.com, dificilmente houve algum momento desde 1980 em que não houvesse uma crise financeira a acontecer em algum lugar. O que habitualmente acontece em tais tempos é que governos adoptam medidas para proteger as elites (habitualmente os banqueiros que realmente provocaram as crises) e comutam o fardo do pagamento dos seus custos para o público em geral. A crise actual é um bom exemplo.
Mas, ao contrário das crises anteriores, há indicações de que desta vez podemos estar a ver uma mudança de sistema. A primeira delas é simplesmente a escala da crise. A bolha habitacional dos EUA que entrou em colapso representou cerca de US$8 milhões de milhões (trillion) em riqueza artificial. Isso é mais de 11% do PIB global e sem contar com as bolhas habitacionais que entraram em colapso na Europa e alhures. Isto é um fracasso do mercado numa escala maciça.
Desta vez há também um exemplo de um país que protegeu os seus cidadãos, prendeu os seus banqueiros e está a obter resultados muito melhores. O país, a Islândia, junta-se à Argentina como um dos únicos países a incumprir dívidas resultantes de crise financeira. Os desastres que "toda a gente" estava à espera (não acesso a mercados de divisas, investidores pondo a Islândia na lista negra, etc) nunca se materializaram, mostrando que mesmo pequenos países podem enfrentar o cartel internacional de credores e viver para contar a história.
A Islândia demonstra que não há nada de natural acerca do neoliberalismo. A decisão de proteger elites dos efeitos dos mercados enquanto utiliza-se aqueles mesmos mercados para punir todas as outras pessoas é uma injustiça política, não uma lei natural.
E é esta injustiça que assegura que o neoliberalismo seguirá o mesmo caminho do pássaro dodó. Em última análise, mercados são apenas um contrato social, como o casamento. E assim como o movimento rumo à igualdade no casamento agora parece inevitável, a reforma drástica do modo como nos relacionamos com mercados está a caminho.
22/Abril/2013
[*] Trabalha na ActionAid Internacional, uma organização global anti-pobreza. Desde 1966 tem feito campanhas contra políticas neoliberais nos EUA, Canadá, Índia e Filipinas. Os pontos de vista supra não reflectem necessariamente os da sua organização.
O original encontra-se em www.counterpunch.org/2013/04/22/four-signs-neoliberalism-is-almost-dead/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Blog do Luis Nassif
domingo, 28 de abril de 2013
CartaCapital: “A central de grampos de Marconi Perillo”
Recomendo a todos a leitura da reportagem de capa da CartaCapital desta semana. O texto diz que um universitário prestou serviços como hacker a pessoas ligadas ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). É claro que, no restante da grande imprensa, não houve repercussão, repetindo o que ocorre quando denúncias envolvem os tucanos.
Segundo a revista, por meio de dois jornalistas e dois integrantes do primeiro escalão da administração goiana, o estudante de medicina operou entre 2011 e 2012 – época em que Perillo foi investigado na Operação Monte Carlo – uma rede ilegal de grampos telefônicos em favor do tucano.
O objetivo, acrescenta a CartaCapital, era invadir contas de adversários e até mesmo aliados do governador por meio de perfis falsos na internet. Segundo a revista, o hacker atuava a partir de encomendas de um casal de radialistas de Goiânia, Luiz Gama e Eni Aquino.
“O hacker montou um fenomenal arquivo de informações retiradas de computadores invadidos e telefones celulares grampeados. Pelos serviços, recebia entre 500 e 7 mil reais, a depender da complexidade do trabalho e do alvo em questão. O dinheiro saía de duas fontes antes de passar pela mão do casal de radialistas, segundo documentos obtidos por CartaCapital. No início, o responsável pelos pagamentos era o jornalista José Luiz Bittencourt, ex-presidente da Agência Goiana de Comunicação. Na fase seguinte, a operação passou a ser de responsabilidade de Sérgio Cardoso, cunhado de Perillo, atual secretário estadual extraordinário de Articulação Política”, conta a reportagem.
A revista também afirma que teve acesso a 450 mensagens trocadas entre os radialistas e o hacker. A CartaCapital ainda diz que os grampos revelam que o governo de Goiás teria usado hackers de São Paulo e Minas para as espionagens
A reportagem acrescenta que o hacker também tinha a função de montar perfis falsos nas redes sociais para apoiar Perillo durante a CPI do Cachoeira, em 2012.
Um dos alvos da espionagem foi o publicitário Gercyley Batista, vice-presidente do PRP de Goiás. O material foi entregue pelo próprio hacker a ele. O motivo, disse, teria sido o temor com a consequência dos grampos. Mas a revista conta que os pagamentos atrasados teriam sido o real motivo.
Batista, então, levou os arquivos para o Ministério Público. Como o caso envolve o governador de Goiás, o material foi encaminhado à Procuradoria-Geral da República.
A revista ainda detalha alguns dos conteúdos dos grampos.
O governo de Goiás nega ligações com o grampo e diz nunca ter criado perfis falsos.
Blog do Zé Dirceu
Vendilhões do tempo
Mauricio Dias
A oposição
fará um novo esforço, agora no Senado, para derrubar o projeto aprovado
na Câmara dos Deputados pela base governista, na terça-feira 23. Ele
impede que os partidos criados a partir de agora se beneficiem do tempo
de rádio e televisão, além dos recursos do Fundo Partidário, por meio
dos parlamentares agregados à nova sigla após se desligarem de outra já
existente.
O tempo no rádio e na tevê tem sido um fator de estratégia eleitoral
para uns e de sobrevivência para outros. É negociação política entre os
grandes e os pequenos. Nesse último caso, aqueles que dispõem de um
tempo abaixo de 1 minuto no horário da propaganda eleitoral gratuita.
São
quase 20 (tabela), considerando a representação eleita em 2010.
O novo Movimento Democrático, MD, fusão do PPS com o PMN não escapou
dessa situação. A soma do tempo das duas agremiações alcança somente 78
segundos e 78 décimos. O crescimento mais visível é na bancada da Câmara
dos Deputados, do número de vereadores e prefeitos.
Há um mercado eleitoral milionário em torno da “venda” do
tempo nas coligações. Oficialmente, o tempo é cedido para financiar
candidaturas dos partidos menores que não conseguem doações no mercado
nem acesso ao dinheiro do Fundo Partidário.
Problema existente. A legislação permite a cessão do tempo, mas
proíbe a transação em dinheiro. A proibição é atropelada. Os candidatos e
os próprios programas eleitorais dos “nanicos” são financiados pelos
partidos maiores: PT, PSDB, PMDB e DEM, entre alguns outros, e já agora o
pudico PSB. Os socialistas andam à caça de aliados em busca de apoio
para a eventual candidatura do governador pernambucano, Eduardo Campos.
É dessa transação por baixo do pano que nasceu o escândalo
inadequadamente chamado de “mensalão”. O PT, conforme afirmou Roberto
Jefferson, acertou ceder recursos para a campanha eleitoral do PTB, em
2004. Jefferson admitiu ter recebido 4 milhões de reais dos 20 milhões
acertados.
O projeto aprovado agora, de certa forma, põe um pouco de
“ordem na casa”. Paralelamente, no entanto, cria uma contradição com a
decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal, em 2011, na criação do PSD
do ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab.
No entendimento do STF, o mandato pertence ao partido. Do ventre
dessa decisão nasceu um monstrengo chamado “portabilidade”. Ou seja,
fica com o deputado a possibilidade de transferir o tempo e o porcentual
do Fundo Partidário para a agremiação que migrou. Curiosa contradição: o
mandato é do partido e o tempo é do candidato.
A nova situação criada pelo projeto atinge e talvez inviabilize
esforços como os da ex-ministra Marina Silva e do sindicalista Paulinho,
que trabalham na formação de novos partidos. A oposição montou na
oportunidade para atacar o governo em geral e a presidenta Dilma em
particular.
Desarmar a criação de novos partidos pode ser um golpe no processo de
“mutirão” sonhado pela oposição. Mais candidatos na disputa de 2014
(Marina, principalmente) pode ser a oportunidade, senão a única, de
provocar um segundo turno na eleição presidencial.
A dúvida da oposição é legítima. O governo nega esse objetivo. O choro é livre.
Andante mosso
Calma, Henrique I
Após um período de
letargia, o Congresso se movimentou para resguardar o papel de
legislador, perdido, em parte, para o Supremo Tribunal Federal.
Esse é o espírito do Projeto de Emenda Constitucional, aprovado na
CCJ da Câmara, que submete certas decisões do STF ao crivo do
Legislativo.
Henrique Alves, presidente da Casa, para acalmar o Judiciário, desconsiderou sua ignorância ao considerar a decisão “inusitada”.
Nada há de diferente do que é adotado, por exemplo, nos Estados Unidos.
Calma, Henrique II Diz o professor Stephan Gardbaum, da Universidade da Califórnia (Ucla), no artigo “Limitando direitos constitucionais”, em livro publicado recentemente no Brasil:
“O Congresso e os estados (…) possuem um poder geral de limitar ou
anular direitos constitucionais tais como definidos pela Suprema Corte
(…) Esse poder geral é uma característica central (…) do direito
constitucional norte-americano. Ele permite ao Congresso e aos estados
anular direitos constitucionais sem lhes conferir autoridade de fixar
seus sentidos”.
Efeitos da violência
O nome do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, provável candidato a
vice-governador na chapa de Pezão (PMDB), confirma um efeito provocado
pela violência, no estado do Rio de Janeiro, nos últimos 20 anos.
Após passar pela Secretaria de Segurança ou pela chefia da Polícia
Civil, os ex-secretários buscam a política e são, em geral,
bem-sucedidos. Alguns exemplos:
General Nilton Cerqueira, secretário de Segurança, Hélio Luz, Polícia
Civil (governo Marcelo Alencar), coronel PM Josias Quintal, secretário
de Segurança, Álvaro Lins, Polícia Civil (governo Garotinho), Zaqueu
Teixeira, Polícia Civil (governo Benedita), delegado PF Marcelo Itagiba
(governo Rosinha).
Compra e venda Aécio Neves, senador e líder do PSDB, anuncia a decisão de propor o fim da reeleição. Por que jogar dinheiro fora?
Afinal, a aprovação da emenda da reeleição foi comprada no Congresso,
a peso de ouro, para favorecer a permanência de FHC no poder.
Retórica de perdigotos O cancelamento das justificativas dos votos de Celso de Mello (60,2%) e Luiz Fux (38,8%) alcança exatos 99,0% do total de vetos no Acórdão da Ação Penal 470.
Sem provas, eles foram os maiores responsáveis pelos discursos de
degradação dos réus. A retórica teve a duração da vida dos perdigotos
diante das câmeras de tevê.
Juízes, juízo! I Duas associações de juízes (Ajufe e AMB) entraram com ação no Supremo Tribunal Federal contra a resolução do Conselho Nacional de Justiça que limitou o valor de patrocínios a, no máximo, 30% para reuniões de magistrados.
Alegam que a decisão fere o direito de liberdade de reunião.
Juízes, juízo! II
O ex-presidente da
OAB-RJ Wadih Damous avaliou a decisão: “Ao liberar o patrocínio privado
de até 30% nas festas da magistratura, o CNJ produziu um feito inédito:
regularizou a meia virgindade”.
A defesa deve ser feita pelo advogado Sérgio Bermudes, que tem
contrato com a Ajufe para atuar em processos da associação junto ao STF.
Responderá ao ataque do ministro Joaquim Barbosa, que anda preocupado com certos comprometimentos da Magistratura.
Comunicações: Plim Plim… Plip
Entra em campo, neste mês de maio, a Campanha para Expressar a Liberdade, com Projeto de Lei de Iniciativa Popular (Plip) regulamentando artigos da Constituição que tratam da comunicação social.
O objetivo é recolher 1,5 milhão de assinaturas e encaminhar o projeto ao Congresso. A campanha, integrada por mais de 20 entidades, trata prioritariamente do rádio e tevê abertos.
“O Legislativo e o Executivo têm de discutir um projeto de lei que
ocupe o espaço do Código de 1962”, explica Marcos Dantas, diretor da
União Latina de Economia Política da Informação e Comunicação.
Segundo ele, o projeto “separa as atividades de produção/programação
das de transporte/difusão”. Dantas compara isso com a estrada de
rodagem: o concessionário da estrada não é sócio das linhas de ônibus, e
vice-versa.
O documento, garante, é “juridicamente consistente, não ignora os
avanços econômicos e tecnológicos das comunicações e contempla as
reivindicações históricas pela democratização das informações e a
diversidade informativa e cultural”.
Carta Capital
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