Não se iludam os Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) com a
aparente unanimidade da mídia em relação ao julgamento do mensalão. O
enquadramento das redações e colunistas impediu manifestações maiores de
dúvida sobre a isenção dos magistrados. Fosse em tempos de maior
pluralidade, a mídia teria servido de freio a alguns abusos cometidos.
Além disso, todo tema complexo permite o exercício do arbítrio pelo
especialista – pela óbvia dificuldade em se entrar nos meandros da
discussão e identificar as vulnerabilidades das conclusões.
Quando os primeiros questionamentos foram feitos – ainda em plena
efervescência do julgamento -, não foram levados a sério por indicarem
inconsistências tão absurdas, que soavam inverossímeis.
Muitas pessoas com quem conversei, simpáticas a uma condenação
exemplar, acreditavam que entre as dezenas de milhares de páginas do
inquérito haveria evidências capazes de derrubar as críticas.
A questão é que o tempo passou, houve a oportunidade de trabalhos
mais alentados e meticulosos sobre o inquérito. E as críticas, em vez de
esclarecidas, foram aprofundadas.
Cada vez mais é evidente que a
análise das acusações tem produzido dúvidas cada vez maiores nos
colunistas que efetivamente contam.
Mesmo com a imensa dose de cautela, compreensível nesses tempos
bicudos, houve a manifestação de Elio Gaspari, avalizando o trabalho em
que Raimundo Pereira desconstrói as acusações contra João Paulo Cunha.
Direto, Jânio de Freitas explicita as enormes dúvidas em relação as
acusações contra Henrique Pizzolatto.
Nenhum dos dois pode ser acusado de petista, assim como outros
jornalistas de renome que, fora das grandes redações, puderam exercitar
livremente sua opinião.
A indignação decorre do abuso de poder. E, como tal, são
caracterizadas as ações em que os magistrados colocam sua vontade acima
dos fatos analisados.
É bem possível que as agências de publicidade tivessem pago pedágio
ao PT, pelas contas conquistadas. Mas não foi isso o que a acusação
apurou.
Tratou como desvio a verba de publicidade da Visanet ignorando um
relatório detalhado do Banco do Brasil indicando todas as fontes de
aplicação dos recursos.
Atribuiu a responsabilidade total da destinação das verbas a Henrique
Pizzolatto, ignorando documentos que demonstravam expressamente que as
decisões eram colegiadas, com a participação de representantes de outros
sócios da empresa.
Salta aos olhos de qualquer jornalista o absurdo de considerar,
exclusivamente nas operações da Visanet, os BVs (bônus de veiculação, o
dinheiro que as agências recebem dos órgãos de mídia onde anunciam) como
indício de corrupção. E não estender esse julgamento a todo o universo
de BVs. Ou não exigir a devolução do dinheiro dos beneficiados – grandes
órgãos de mídia.
No caso de João Paulo Cunha, tratou como ocultação o fato de não ter
ido receber pessoalmente os R$ 50 mil do PT, mas enviado a esposa, que
apresentou RG e assinou o recibo. E ignorou totalmente a comprovação do
uso dos recursos para pesquisas eleitorais.
A postura de Joaquim Barbosa – impedindo prazo maior para a
apreciação da defesa – não se deve ao seu conhecido espírito de
torquemada. É mais que isso: é receio de que as inconsistências das
acusações sejam expostas agora, não mais em matérias de blogs, mas nos
próprios autos do processo.
É paura, medo de uma discussão na qual o clamor da mídia não servirá mais de respaldo para o uso do poder imperial.
Blog do Luis Nassif
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