Coluna Econômica
O principal argumento dos defensores da alta da Selic é que seria a
única maneira de atacar de forma generalizada a inflação através da
redução da demanda e do nível de emprego. Com menos atividade
econômica, haveria desestímulo às altas de preços.
O argumento é falso por inúmeras razões.
O ponto principal, é que a Selic é absolutamente ineficaz para o controle da demanda agregada.
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Meio ponto ou mesmo um ponto na taxa, ou mesmo 3 ou 5 pontos a mais,
não têm nenhuma influência nem sobre crédito ao consumidor nem sobre os
estoques das empresas.
Se se quiser atuar sobre o crédito, há formas muito mais eficientes e
muito mais baratas para o Tesouro (e, obviamente, muito menos rentáveis
para os especuladores).
Tome um bem de consumo financiado por 24 meses a uma taxa de 4% ao
mês. Se custar R$ 1.000,00, cada prestação sairá por R$ 65,58.
Se a Selic aumentar em meio ponto e essa alta for integralmente
repassada para o custo do financiamento, a nova prestação será de R$
65,86. Alguém deixaria de tomar financiamento por conta de um aumento de
28 centavos?
Suponha que o Banco Central reduzisse o prazo máximo de financiamento
para 18 meses. O valor da prestação saltaria para R$ 79,00.
Suponha que a Selic aumentasse em 20 pontos (!). O valor da prestação
iria para R$ 76,26, ainda assim inferior à mera redução de 6 meses no
prazo de financiamento.
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No caso de capital de giro, suponha uma empresa que tome recursos a
2% ao mês, por prazos de 3 meses. Com o repasse da Selic, haveria um
aumento de 0,04% no custo de carregamento dos estoques. Se fosse
repassar para os preços, a alta não chegaria a 0,01%.
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Onde a Selic funciona? Apenas no campo psicológico, das expectativas - ou, em palavras mais chãs, da especulação.
Funciona assim:
A confraria da Selic bota a boca no trombone sobre a suposta perda de controle da inflação. A mídia reverbera.
Cria-se a ideia de que o governo é leniente com a inflação. E a única maneira de demonstrar cuidado seria aumentar a Selic.
Algumas grandes empresas de varejo são influenciadas por esse clima.
Mesmo sabendo que a Selic não interfere em nada nos dados reais do
mercado, tratam de aumentar os preços porque não sabem qual será o
comportamento de outros agentes. É aquela história: alguém grita "fogo"
no cinema. Tenho certeza de que não há fogo. Mas se não sair correndo
poderei ser atropelado pelos que não sabem que não existe fogo.
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A maneira de romper com essa chantagem seria acabar de vez com o
sistema de metas inflacionárias como balizador da inflação (por esse
sistema, o BC precisa aumentar a Selic toda vez que o mercado acredita
que a inflação subirá acima da meta).
Tem que abrir a discussão sobre a ineficácia da Selic e sobre a
eficiência maior de outros instrumentos tradicionais de política
monetária - as tais medidas prudenciais, o compulsório etc.
Mas o BC, que demonstrou coragem e determinação quando apostou na
queda da Selic em agosto de 2011, não parece disposto a arriscar saltos
maiores - ainda que inevitáveis.
Delfim Netto, que sabe de tudo, já alertou: se ceder à chantagem do mercado agora, não terá como enfrentar chantagens futuras.
Blog do Luis Nassif
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