O risco é grande e, pior ainda, crescente. O que pode suceder quando um
alvejado por agressões orais do presidente do Supremo Tribunal Federal
usar o direito de reagir à altura, como é provável que acabe
acontecendo? Em qualquer caso, estará criado um embaraço extremo. Não se
está distante nem da possibilidade de uma crise com ingredientes
institucionais, caso o ministro Joaquim Barbosa progrida nas investidas
desmoralizantes que atingem o Congresso e os magistrados.
O fundo de moralismo ao gosto da classe média assegura às exorbitâncias
conceituais e verbais do ministro a tolerância, nos meios de
comunicação, do tipo "ele diz a coisa certa do modo errado" --o que é um
modo moralmente errado de tratar a coisa errada. Não é novidade como
método, nem como lugar onde é aplicado.
Nem por isso o sentido dos atos é mudado. "Só se dirija a mim se eu
pedir!" é uma frase possível nas delegacias de polícia. Dita a um
representante eleito da magistratura, no Supremo Tribunal Federal, por
seu presidente, é, no mínimo, uma manifestação despótica, sugestiva de
sentimento ou pretensão idem. Se, tal como suas similares anteriores,
levou apenas a mais uma nota insossa dos alvejados, não faz esperar que
seja assim em reedições futuras desses incidentes.
Afinal, quem quer viver em democracia tem o dever de repelir toda
manifestação de autoritarismo, arbitrariedade e prepotência. É o único
dever que o Estado de Direito cobra e dele não abre mão.
FACILITÁRIO
A Câmara avança no projeto de tornar obrigatória a liberação, pelo
governo federal, das verbas correspondentes às chamadas "emendas
parlamentares". São as verbas destinadas, no Orçamento da União, às
finalidades desejadas por cada deputado e cada senador. Na sua origem,
as emendas eram um dispositivo de atendimento a necessidades e
reivindicações mais conhecidas pelo parlamentar da região do que pelo
governo federal.
Eis no que deram: na megaoperação feita anteontem em 12 Estados, pelo
Ministério Público, contra a corrupção, em 79 cidades foram reprimidas
fraudes e desvios de verbas provenientes, todas, de emendas
parlamentares. Se a investigação continuar, chegará a parentes, sócios e
laranjas dos parlamentares. Não é por outro motivo que desejam a
obrigatoriedade da liberação de suas emendas pelo Tesouro Nacional.
POR UMA VEZ
Parte das tevês e dos jornalistas esportivos valem-se de uma CBF chegada
ao "é dando que se recebe", como atestam as longevidades de João
Havelange e Ricardo Teixeira, incólumes, na presidência da entidade.
Mas, se é para substituir o não menos deplorável José Maria Marin,
talvez pudessem concordar, desta vez, com alguma dose de decência no
comando do decomposto futebol brasileiro.
Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha,
é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com
perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve na
versão impressa do caderno "Poder" aos domingos, terças e
quintas-feiras.
Folha de São Paulo
Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário