Coluna Econômica
Trava-se um jogo pesado em torno da taxa Selic.
O aumento da Selic é ruim para a economia, para as grandes empresas
anunciantes de jornais, para o emprego e para os investimentos.
Beneficia a tesouraria, especialmente dos grandes bancos de investimento
que deverão desempenhar papel relevante na reestruturação de capital de
grupos de mídia.
São perfeitamente mensuráveis os ganhos desses grandes grupos com
meio ponto a mais de Selic . Apenas isso pode explicar o terrorismo
reiterado em relação à inflação, sustentando manchetes diárias e até
identificando "sinais de hiperinflação" em um índice que está em 6,5% ao
ano e tende a cair nos próximos meses.
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O futuro grande impasse econômico é de outra ordem: a produção
interna não consegue acompanhar o aumento do consumo devido,
fundamentalmente, ao fator câmbio.
Tem-se um mercado de trabalho aquecido, salários ainda crescendo, mas
o aumento do consumo sendo absorvido por exportações, gerando déficits
crescentes nas contas externas. A médio prazo, tem-se um quadro
insustentável.
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As empresas investem em função dos seguintes fatores:
1. Demanda assegurada.
2. Taxa de retorno superior ao custo de oportunidade.
O objetivo maior do aumento da Selic seria (teoricamente) reduzir o
consumo. Quebraria o primeiro pilar para novos investimentos.
O efeito colateral seria elevar o custo de oportunidade, levando as
empresas a eliminar todos os investimentos que não apresentem
perspectivas de rentabilidade superiores às da Selic.
Mais ainda.
O efeito imediato do aumento da Selic seria atrair dólares
especulativos, apreciando mais o câmbio, barateando mais as importações
e, consequentemente, acelerando ainda mais a deterioração das contas
externas.
Em suma, tem todas as contraindicações e nenhuma indicação positiva.
Se o caminho fosse, de fato, desaquecer o consumo, o Banco Central
dispõe de um arsenal muito mais efetivo e sem contraindicações - como
restrições ao crédito e aumento do compulsório.
***
A criação do grande mercado de consumo interno criou uma enorme
oportunidade e um imenso risco. A oportunidade será a de abrir espaço
para a oferta interna de bens e serviços, completando o ciclo de
consumo-investimento da economia. O risco é da produção não acompanhar o
consumo, gerando desequilíbrios externos e o esgotamento do modelo
econômico.
Apenas uma grande desvalorização cambial resolverá esse nó górdio.
De um lado reduzirá o consumo de produtos importados, preservando o
espaço para os produtos nacionais. Haverá uma queda inicial no poder de
compra dos salários que será compensada, no momento seguinte, pela
recuperação da produção e do emprego internos.
Seguirão alguns meses de inflação, que terão que ser enfrentados de
forma severa até os preços de estabilizarem e o país rumar para novo
patamar. Ai se terá entrado definitivamente na rota do crescimento
sustentado.
Mas certamente não será tarefa para um ano pré-eleitoral.
O país atravessou 8 anos de FHC, 8 anos de Lula e, provavelmente, 4
anos de Dilma, com o câmbio demolindo a estrutura industrial.
Como candidata favorita à sua reeleição, seria conveniente que, desde
já, o governo Dilma começasse a incluir o câmbio na estratégia do
segundo mandato.
Blog do Luis Nassif
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