Agora, quando a lama da trinca Cachoeira-Demóstenes-Veja se
aproxima de sua cadeira, Gilmar Mendes busca a sua defesa dizendo que há
um ataque à instituição do STF
Editorial da edição 484 do Brasil de Fato
Reza
uma história, provavelmente fictícia, sobre Tomás de Aquino, um dos
maiores filósofos da Idade Média, que, com muita facilidade e
ingenuidade, tornava-se a vítima preferida das brincadeiras dos outros
frades. Contam que Tomás estava estudando quando um jovem frade veio
chamá-lo para ver uma vaca que estava voando. O filósofo apressou-se
para chegar até a janela e vasculhar os céus em busca da vaca. Quando se
voltou, desapontado com a inexistência do fenômeno, enfrentou a
gargalhada coletiva dos frades, com a ferina frase: “Achei que seria
mais fácil ver uma vaca voar do que um frade mentir”.
O
ensinamento do santo da Igreja Católica deveria estar fixado em local
de muita visibilidade no STF, nossa mais alta Corte Judicial. Se é
inconcebível imaginar um frade mentir, o que pensar de um membro do
Supremo?
A história contada pelo ministro Gilmar
Mendes, sobre a conversa que manteve com o ex-presidente Lula no
escritório do jurista Nelson Jobim, é tão inconsistente, contraditória e
inverossímil que não necessita nem mesmo que a única testemunha do
encontro ateste sua falsidade.
A blogosfera progressista já se encarregou de desmascarar a farsa montada (sempre!) com a ajuda da revista Veja.
Na
medida em que a farsa foi sendo desmontada, restava o desafio de
desvendar o objetivo que moveu a revista direitista do grupo Abril, o
ex-presidente do STF e o ex-governador José Serra, a protagonizar mais
uma cena patética no cenário político do país. Estes sim, verdadeiros
aloprados da política brasileira.
Além de tentar
atingir a imagem do ex-presidente da República, não restam dúvidas de
que foi mais uma das tentativas de desviar o foco das investigações da
CPMI do Cachoeira que, a cada nova investigação e informação divulgada
causa tremores no prédio do grupo Abril e na pernas de uma das cadeiras
do Supremo.
Ou serão apenas suspeitas infundadas
as informações que apontam que as relações do ministro Gilmar Mendes com
o senador Demóstenes Torres (ex-Dem) vão além de uma saudável amizade, e
os aproximam na penumbrosa trama montada pelo crime organizado de
Goiás?
O ministro Gilmar Mendes, pródigo em
ocupar espaços na mídia patronal, a quem não esconde sua condição de
partido de oposição ao governo Dilma, tem repetido inúmeras vezes que
não possui um histórico de mentiras. A partir de quando ele poderá
incorporar esse legado em seu curriculum vitae?
Na
eleição de 2010 ele atendeu um telefonema do candidato tucano José
Serra (sempre!) pedindo para interromper o julgamento de um recurso do
PT contra a obrigatoriedade de apresentação de dois documentos na hora
de votar. O ministro atendeu o amigo. O senador Álvaro Dias (PSDB/PR)
não viu nenhuma interferência de poderes, muito menos pediu uma CPI para
investigar a pressão exercida sobre o STF. A Veja silenciou. A única
exceção foi um jornalista da Folha de S.Paulo que registrou o momento do
telefonema. Depois, tudo voltou à normalidade da dupla: tanto Serra
quanto Mendes negaram a existência do telefonema. Esse fato não poderia
contar para o curriculum mencionado?
Ao dar uma
entrevista para o jornal Nacional da rede Globo para explicar seu
encontro com Lula, Gilmar Mendes estava tão inseguro e nervoso que, num
trecho de 3 minutos da entrevista, foram detectados pela empresa Truter
Brasil, que faz análises de arquivos de voz, 11 ocorrências de alto
risco – alto risco é a maneira de dizer que a pessoa está mentindo. Não
deixa de ser um feito surpreendente para quem não tem um histórico de
mentira.
O Ministro Gilmar Mendes e o senador
Demóstenes denunciaram, ainda no governo Lula, que seus telefones foram
grampeados pela Agencia Brasileira de Inteligência (Abin), presidida
pelo delegado Paulo Lacerda. Mendes usou o fato para dizer que iria
“chamar às falas” o presidente da República. O delegado Lacerda perdeu o
cargo na Abin. A Veja usou seus informantes privilegiados para fazer
mais uma das suas matérias sensacionalistas, sem nenhum compromisso com a
verdade e a ética jornalística. Mais tarde, a investigação da Polícia
Federal comprovou que não houve nenhum grampo. Esse fato também não deve
entrar para o curriculum, uma vez que a mentira pode te sido dita pelo
Demóstenes e o Gilmar apenas a ouviu.
O ministro
aproveitou a invencionice do grampo telefônico para contratar um
especialista em serviços de inteligência, um personal araponga.
Contratou o ex-agente da Abin, Jairo Martins, o que prestava o mesmo
tipo de serviços para Carlinhos Cachoeira e foi quem gravou o vídeo da
propina que originou a denúncia do mensalão. Hoje, esse araponga está
preso, juntamente com o Carlinhos Cachoeira e o sargento aposentado da
Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá – prisões que desfalcaram a equipe
de fontes e pauteiros das principais “reportagens” bombásticas da
revista Veja.
Agora, quando a lama da trinca
Cachoeira-Demóstenes-Veja se aproxima de sua cadeira, Gilmar Mendes
busca a sua defesa dizendo que há um ataque à instituição do STF. Seria o
mesmo que Demóstenes dizer que quem está sentando no banco dos réus na
sua pessoa é o Senado Federal.
Quem atenta contra
o STF é o próprio Gilmar Mendes quando faz denúncias vazias e
irresponsáveis, como ataque que fez ao presidente da Venezuela, dizendo
que Hugo Chávez “prende juiz”.
Já antes de
assumir uma cadeira do STF, quando era Advogado da União no governo de
FHC – que nos legou esse ministro – Gilmar Mendes recomendava aos
agentes do Poder Executivo a não cumprir determinadas ordens judiciais.
Como
Advogado da União, quando sofria derrotas judiciais, esse ex-presidente
do STF não hesitava em afirmar que o sistema judiciário brasileiro era
um “manicômio judiciário”. Quem, sistematicamente, atenta contra as
instituições democráticas do país?
Profético foi o
artigo do jurista Dalmo Dallari, escrito em 2002 na Folha de S.Paulo:
“Se essa indicação [a de Gilmar Mendes] vier a ser aprovada pelo Senado,
não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção
dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade
constitucional”.
Quinze senadores votaram contra a
indicação de Mendes para o STF. Mas prevaleceu o rolo compressor de FHC
e ele assumiu uma cadeira na Corte mais alta do sistema que ele
considerava ser um manicômio.
Até quando esse senhor continuará tripudiando das instituições e atentando contra a democracia do país?
Brasil de Fato
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