Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram na tarde
desta quarta-feira 6, em reunião administrativa, marcar para 1º de
agosto o início do julgamento do chamado “mensalão”, suposto esquema de
compra de votos em troca de apoio ao Planalto no Congresso descoberto em
2005. O anúncio termina com a incerteza sobre a análise do processo
ainda este ano. É possível, portanto, que a decisão seja lida a poucas
semanas das eleições de outubro, o que deve dominar o debate eleitoral.
Após desencontros sobre como o processo seria dividido e o tempo que
levaria, os ministros separaram o caso em duas partes: as exposições do
relator do caso no Supremo, ministro Joaquim Barbosa, seguida pela
sustentação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e a defesa
dos réus, ocorrem até 14 de agosto.
Os votos dos ministros começam a partir de 15 de agosto. A logística é
especial pois o processo é considerado um monstro jurídico. São 234
volumes, 50.119 folhas, 600 testemunhas e 38 réus. Entre os réus estão o
ex-ministro José Dirceu (PT), o ex-presidente do PT José Genoíno, o
ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o empresário Marcos Valério.
Este também é réu no chamado valerioduto mineiro, que teria sido a
origem do esquema utilizado pelo PT.
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Todo o cronograma está, porém, condicionado à entrega do voto do
revisor do processo, ministro Ricardo Lewandowski, o que ainda não
ocorreu. Na reunião dos ministros desta quarta, Lewandowski foi o único
ausente por estar em viagem. O ministro estava, no entanto, ciente e de
acordo com as deliberações. Por isso, há um compromisso para que
entregue seu voto antes de 1º de agosto.
O cronograma prevê que, em 2 de agosto, a defesa dos réus comece a
sua sustentação, que deve levar uma hora para cada acusado. As sessões
ocorrerão todos os dias a partir das 14h e com duração de cinco horas
por dia. Em 3 de agosto, uma sexta-feira, não haverá sessão. As
atividades serão retomadas no dia 6 ainda com a apresentação das
defesas, que segue até 14 de agosto. A partir do dia 15, os ministros
iniciam os seus votos, a começar pelo relator e revisor,
respectivamente. Depois os votos partem dos ministros com menos tempo no
STF, ministra Rosa Weber, e terminam com o decano Celso de Mello. Neste
período, as sessões ocorrem às segundas, quartas e quintas e não têm
hora para terminar.
Clima quente antecede o julgamento
As semanas anteriores à definição do julgamento foram marcadas por
tensão, com reiteradas acusações de que o PT estaria tentando atrasar o
julgamento. A mais grave delas foi feita no final de maio. O ministro do
STF Gilmar Mendes disse à revista Veja ter se encontrado em 26
de abril com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no escritório
do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim. Segundo a revista, Lula teria
pressionado Mendes para adiar o julgamento do mensalão em troca de
“blindagem” na CPI do Cachoeira, que investiga as relações políticas do
bicheiro Carlinhos Cachoeira. No encontro, uma viagem do ministro para
Berlim, supostamente paga pelo bicheiro, teria sido lembrada por Lula.
Jobim confirma o encontro, mas não a versão de Mendes. Lula disse poucos
dias depois estar “indignado” com a versão apresentada por Mendes. Em
outra oportunidade, afirmou que precisa “ter cuidado” com uma minoria
que não gosta dele.
A denúncia
O Ministério Público Federal acusa integrantes do PT de montarem um
“plano criminoso voltado para a compra de votos dentro do Congresso
Nacional”. O suposto esquema foi revelado pelo deputado Roberto
Jefferson (PTB-RJ), desafeto do governo, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em 2005.
De acordo com a denúncia, feita em 2007 pelo então procurador-geral
Antonio Fernando Souza, o esquema teria começado com a vitória de Luiz
Inácio Lula da Silva em 2002.
O objetivo, diz a PGR, era garantir a continuidade do “projeto de
poder” do PT por meio da compra de apoio político e financiamento de
campanha.
Os 38 réus são acusados de diversos tipos de crimes e fizeram parte,
ainda de acordo com a Procuradoria, de “uma sofisticada organização
criminosa, dividida em setores de atuação, que se estruturou
profissionalmente para a prática de crimes como peculato, lavagem de
dinheiro, corrupção ativa, gestão fraudulenta, além das mais diversas
formas de fraude”.
A defesa dos acusados nega a existência do esquema e contesta a
versão de que o governo precisaria pagar mesada a parlamentares da
própria base (ou do próprio partido, como o então presidente da Câmara, o
petista João Paulo Cunha). Delúbio Soares, em sua defesa, afirma, por
exemplo, que não houve uso de dinheiro público para o pagamento do que
chamou de “recursos não contabilizados” (caixa 2) da campanha eleitoral
de 2002.
Carta Capital
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