terça-feira, 5 de junho de 2012

Paulo Teixeira: Ataque de Gilmar Mendes a Lula revela intranquilidade do ministro com a CPI

 
por Conceição Lemes

Na semana passada, a CPI do Cachoeira aprovou:

1. A quebra de sigilos da matriz da Delta Construções e de outras empresas mencionadas nas investigações da Polícia Federal e supostamente ligadas aos negócios do bicheiro.
2. A quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico, de e-mail, SMS e skype do senador Demóstenes Torres (sem-partido GO).
3. A convocação dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e Distrito Federal, Agnello Queiroz (PT), para prestar esclarecimentos. Perillo confirmou para 12 de junho, Agnello, para 13.
Curiosamente, a julgar pelo noticiário da chamada grande imprensa, a CPI vai de mal a pior.  É tudo de ruim: vai acabar em pizza, é lerda, entre outras depreciações. O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), eleito na semana passada vice-presidente da CPI, discorda dessas avaliações.
Viomundo – Por quê?
Paulo Teixeira – Não há na CPI qualquer objetivo de fazer dela uma pizza. Pelo contrário. Ela está andando com precisão. A CPI já quebrou os sigilos fiscal, bancário e telefônico de empresas e pessoas envolvidas com a organização criminosa do Carlinhos Cachoeira.
Acontece que essa organização criminosa enredou setores importantes do PSDB e do Democratas, e a CPI inexoravelmente vai chegar mais fortemente na oposição do que já chegou.
Daí a grita de setores da sociedade, inclusive da grande mídia. Estão irritados justamente por causa do objeto da CPI — a organização criminosa do Carlinhos Cachoeira, as empresas e os agentes públicos envolvidos.
A grande mídia está contra, porque essa CPI implica a oposição, sua aliada, além de segmentos da própria mídia. Ao ridicularizar a CPI, a grande mídia revela a sua predisposição em relação à CPI.
Viomundo –  Há quem defenda que as acusações do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes ao ex-presidente Lula também sejam objeto dessa CPI. Concorda? 
Paulo Teixeira – Primeiro, a fala do ministro Gilmar Mendes é muito estranha. Supondo que tivesse havido qualquer tipo de ameaça, pressão, por parte do ex-presidente Lula, ele tinha a obrigação denunciar prontamente o que ele disse que teria havido. E não o fez. A conversa entre o ex-presidente Lula, o ex-ministro Jobim e o ministro Gilmar Mendes aconteceu no dia 26 de abril. Ele só falou sobre este tema um  mês depois.
Segundo, ele fala que depois da conversa com o ex- presidente alguns jornalistas disseram-lhe que  Lula teria dito isso, aquilo, aquilo outro.  Ou seja, ele pode ter sido enredado numa teia de fofocas, de boatos.
Terceiro, há o precedente de que, no passado, o ministro Gilmar Mendes disse ter sido vítima de escuta telefônica, o que, de fato, não aconteceu. Portanto, a forma como o ministro Gilmar investiu contra o ex-presidente Lula demonstra desequilíbrio, confusão.
Viomundo – No seu entender, revela o quê?
Paulo Teixeira — Intranqüilidade do ministro Gilmar Mendes com a CPI, porque ele acaba se debruçando sobre o tema CPI longamente. Até porque dos três presentes à conversa, dois desmentiram o seu conteúdo.
Viomundo – Mas a CPI deveria ou não tratar desse fato?

Paulo Teixeira – Acho que não, a CPI tem coisas muito importantes para investigar. Além disso, eu não creio que o Supremo Tribunal Federal estivesse vulnerável a qualquer tipo de pressão, ainda que eu não acredite que tenha havido qualquer tipo de pressão por parte do ex-presidente Lula.
Na verdade, tanto a mídia quanto a oposição querem desviar o foco de si próprias. Eu creio que esse fato não deveria fazer parte da CPI. Esse fato terá espaço na política brasileira como um embate entre um ex-presidente da República e um ministro do STF.  Cada brasileiro fará o julgamento que achar desse ataque do ministro Gilmar Mendes ao ex-presidente Lula.
Consequentemente, na minha opinião, a CPI deve se preocupar com o seu foco inicial, que é o de investigar essa organização criminosa e dar conta dela e não se permitir o desvio de rota por conta desse fato.
Toda a crônica tem sido na direção de desacreditar a CPI, de forçá-la a desviar o seu foco. Afinal, o foco dela é, digamos assim, muito destrutivo, tendo em vista que revela uma grande maracutaia, um grande esquema envolvendo partidos de oposição com o crime organizado.
Insisto. O ministro Gilmar Mendes está dedicando muito tempo à CPI. Na verdade, na sua fala, ele dedica um grande tempo do seu ataque para explicar as suas relações  com o senador Demóstenes Torres.  Desse modo, caberá à sociedade brasileira julgar se essa relação era ou não adequada.
Na minha opinião, o Gilmar Mendes desferiu um ataque inaceitável ao ex-presidente Lula e agora ele não consegue mais controlar.

Viomundo

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