por Conceição Lemes
Na semana passada, a CPI do Cachoeira aprovou:
1. A quebra de sigilos da matriz da Delta Construções e de outras
empresas mencionadas nas investigações da Polícia Federal e supostamente
ligadas aos negócios do bicheiro.
2. A quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico, de e-mail, SMS e skype do senador Demóstenes Torres (sem-partido GO).
3. A convocação dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e
Distrito Federal, Agnello Queiroz (PT), para prestar esclarecimentos.
Perillo confirmou para 12 de junho, Agnello, para 13.
Curiosamente, a julgar pelo noticiário da chamada grande imprensa, a CPI vai de mal a pior. É tudo de ruim: vai acabar em pizza, é lerda,
entre outras depreciações. O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP),
eleito na semana passada vice-presidente da CPI, discorda dessas
avaliações.
Viomundo – Por quê?
Paulo Teixeira – Não há na CPI qualquer objetivo de
fazer dela uma pizza. Pelo contrário. Ela está andando com precisão. A
CPI já quebrou os sigilos fiscal, bancário e telefônico de empresas e
pessoas envolvidas com a organização criminosa do Carlinhos Cachoeira.
Acontece que essa organização criminosa enredou setores importantes
do PSDB e do Democratas, e a CPI inexoravelmente vai chegar mais
fortemente na oposição do que já chegou.
Daí a grita de setores da sociedade, inclusive da grande mídia. Estão
irritados justamente por causa do objeto da CPI — a organização
criminosa do Carlinhos Cachoeira, as empresas e os agentes públicos
envolvidos.
A grande mídia está contra, porque essa CPI implica a oposição, sua
aliada, além de segmentos da própria mídia. Ao ridicularizar a CPI, a
grande mídia revela a sua predisposição em relação à CPI.
Viomundo – Há quem defenda que as acusações do ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes ao ex-presidente Lula
também sejam objeto dessa CPI. Concorda?
Paulo Teixeira – Primeiro, a fala do ministro Gilmar
Mendes é muito estranha. Supondo que tivesse havido qualquer tipo de
ameaça, pressão, por parte do ex-presidente Lula, ele tinha a obrigação
denunciar prontamente o que ele disse que teria havido. E não o fez. A
conversa entre o ex-presidente Lula, o ex-ministro Jobim e o ministro
Gilmar Mendes aconteceu no dia 26 de abril. Ele só falou sobre este tema
um mês depois.
Segundo, ele fala que depois da conversa com o ex- presidente alguns
jornalistas disseram-lhe que Lula teria dito isso, aquilo, aquilo
outro. Ou seja, ele pode ter sido enredado numa teia de fofocas, de
boatos.
Terceiro, há o precedente de que, no passado, o ministro Gilmar
Mendes disse ter sido vítima de escuta telefônica, o que, de fato, não
aconteceu. Portanto, a forma como o ministro Gilmar investiu contra o
ex-presidente Lula demonstra desequilíbrio, confusão.
Viomundo – No seu entender, revela o quê?
Paulo Teixeira — Intranqüilidade do ministro Gilmar
Mendes com a CPI, porque ele acaba se debruçando sobre o tema CPI
longamente. Até porque dos três presentes à conversa, dois desmentiram o
seu conteúdo.
Viomundo – Mas a CPI deveria ou não tratar desse fato?
Paulo Teixeira – Acho que não, a CPI tem coisas
muito importantes para investigar. Além disso, eu não creio que o
Supremo Tribunal Federal estivesse vulnerável a qualquer tipo de
pressão, ainda que eu não acredite que tenha havido qualquer tipo de
pressão por parte do ex-presidente Lula.
Na verdade, tanto a mídia quanto a oposição querem desviar o foco de
si próprias. Eu creio que esse fato não deveria fazer parte da CPI. Esse
fato terá espaço na política brasileira como um embate entre um
ex-presidente da República e um ministro do STF. Cada brasileiro fará o
julgamento que achar desse ataque do ministro Gilmar Mendes ao
ex-presidente Lula.
Consequentemente, na minha opinião, a CPI deve se preocupar com o seu
foco inicial, que é o de investigar essa organização criminosa e dar
conta dela e não se permitir o desvio de rota por conta desse fato.
Toda a crônica tem sido na direção de desacreditar a CPI, de forçá-la
a desviar o seu foco. Afinal, o foco dela é, digamos assim, muito
destrutivo, tendo em vista que revela uma grande maracutaia, um grande
esquema envolvendo partidos de oposição com o crime organizado.
Insisto. O ministro Gilmar Mendes está dedicando muito tempo à CPI.
Na verdade, na sua fala, ele dedica um grande tempo do seu ataque para
explicar as suas relações com o senador Demóstenes Torres. Desse modo,
caberá à sociedade brasileira julgar se essa relação era ou não
adequada.
Na minha opinião, o Gilmar Mendes desferiu um ataque inaceitável ao ex-presidente Lula e agora ele não consegue mais controlar.
Viomundo
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