Da Folha de S. Paulo
JANIO DE FREITAS
Um dos seus compromissos eleitorais foi cumprido: não se pôs a serviço dos donos do ilegal Paraguai
A falta de explicação convincente por parte da repentina aliança
parlamentar que derrubou Fernando Lugo tem, ela própria, explicação
simples. E íntima das relações comerciais verdadeiras entre o Brasil e o
Paraguai.
É óbvio que não foi o choque de lavradores e polícia o motivador, em
apenas 30 horas, da união repentina dos congressistas paraguaios e da
derrubada do presidente.
Polícia e lavradores são indígenas contra indígenas, situação
historicamente incapaz de provocar qualquer comoção ou atitude no
Congresso do Paraguai.
Fernando Lugo, muito pouco ativo quanto a muitos dos seus
compromissos de campanha, cumpriu um deles sem concessão: não criou
oportunidades para a corrupção e não fomentou a produção e o comércio
ilícitos. Rompeu assim com a tradição das presidências locais e dos
apoios parlamentares, sociais e judiciais que lhes permitem existir.
As fábricas de produtos falsificados estão, sem mascaramentos, na própria capital Assunção, como pelo Paraguai todo.
Os nossos carros roubados destinam-se, em grande parte, à receptação
permitida e estimulada no Paraguai, onde podem trafegar mesmo com a
placa brasileira. Os cigarros e tantos outros produtos brasileiros que
chegam ao Paraguai beneficiados, no preço, pelas isenções para
exportação, voltam ao Brasil como contrabando e enchem o comércio de rua
e inúmeras lojas de nossas cidades.
O pequeno Paraguai é o maior centro conjunto de falsificação e
comércio ilegal de produtos. Nos últimos anos, uma inovação constatada:
com os produtos que transitam pelo Paraguai e entram no contrabando para
o Brasil, muito da produção falsificada no próprio Paraguai traz o
registro "made in China".
É incalculável o custo, para o Brasil, do contrabando e da receptação
de carros e motos roubados aqui, o que está obrigando à criação de uma
nova rede policial-militar de proteção da fronteira.
E ainda há o narcotráfico. A Bolívia e a Colômbia ficam com a culpa
toda, mas o Paraguai não é menos fornecedor que ambas, com suas rotas de
contrabando, e é provável que já seja o maior canal de entrada de
drogas variadas.
O pequeno Paraguai é, proporcionalmente, o maior centro de receptação
de roubo, produção de falsificados e contrabando. Com participação
importante no narcotráfico.
No país de maioria tão pobre, quem possui e quem controla o sistema
imenso dessas atividades ilegais? Quem pode fazê-lo sem preocupação
alguma com problemas de ordem legal? E quem são os políticos, os
congressistas desse país triste e infeliz?
Um dos seus compromissos com o eleitorado, Fernando Lugo cumpriu-o:
não se pôs a serviço dos donos do ilegal Paraguai. À primeira
oportunidade, caiu.
Blog do Luis Nassif
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