Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A baixa escolarização da população brasileira e a falta
de mão de obra qualificada para diversas atividades produtivas são
ameaças ao desenvolvimento do país, afirma o engenheiro e economista
Antonio Dias Leite, ex-presidente da Vale e ex-ministro de Minas e
Energia entre 1969 e 1974, no período do chamado milagre econômico
(governo Médici).
“Eu diria que esse é o ponto trágico nosso: o despreparo da
população para o mundo, que evoluiu para ser mais complicado, mais
técnico”, disse ele, em entrevista à Agência Brasil. Em sua opinião, o país errou por não priorizar, na década de 1970, a universalização do ensino básico de qualidade.
“Erramos naquela época – e eu fiz parte daquele período e reconheço
o erro. Não foi dada a importância que deveria ter sido dada à educação
de base; aquela que forma um cidadão, uma pessoa letrada para pelo
menos tomar parte nas operações mais simples. Isso foi um erro capital”,
afirmou o ex-ministro.
Naquele momento, ressaltou Dias Leite, o governo optou pelo
investimento na educação superior, imaginando que isso alavancaria mais
rápido o desenvolvimento. “A ideia que prevaleceu é que se deveria
investir na educação universitária e que, se se elevasse a massa de
preparados no terceiro nível [graduação em curso superior], daí
resultaria a ação deles na promoção do primeiro e segundo níveis
[ensinos fundamental e média]”.
Apesar de ter semeado um sistema de ensino superior que hoje coloca o
país em 13º lugar em produção científica (produção de artigos), a opção
feita pelo regime militar retardou a universalização do ensino (obtida
apenas no final dos anos 1990) e ainda compromete a qualidade do ensino
(a nota nacional do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica –
Ideb/2009 é abaixo da média: 4,6). “O investimento em educação leva anos
para dar retorno. Mas, se formularmos uma estratégia [de
desenvolvimento],o ponto chave tem que ser uma virada na educação e no
treinamento.”
Aos 92 anos, Antonio Dias Leite lançou o livro Brasil País Rico: O Que Ainda Falta,
no qual analisa as chances de o Brasil se tornar, de fato, uma potência
econômica com crescimento sustentado. Para ele, o desafio está além da
economia. “Não é propriamente a equação econômica, mas falta um quadro
institucional que permita que a gente realize um programa econômico”,
explicou.
Dias Leite aponta ainda "a incapacidade de decisão e execução do
governo, devido ao seu gigantismo”. Para ele, há muitos ministérios em
funcionamento – “para o mesmo assunto tem mais de um ministério”. E há
também o problema do loteamento entre os partidos políticos. “Um
ministério é do partido tal, o outro, do partido qual. Não haveria
problema se, ao se tornarem ministros, os escolhidos fossem ministros do
governo. Mas não. Fica a batalha entre partidos dentro da
administração.”
Ele defende a continuidade das políticas de distribuição de renda,
mas ressalta que apenas os programas sociais são insuficientes, e não
acredita que o incentivo ao consumo, por meio de corte de impostos,
renegociação de dívidas e redução de juros, vá gerar resultados
duradouros.
“No livro, eu trato da armadilha do problema financeiro – armadilha
que se montou depois do Plano Real: juros, câmbio, balança de pagamento e
dívida interna. Essa armadilha não está desmontada. Houve baixa dos
juros, mas foi uma baixa de juros voluntariosa. Vamos baixar os juros,
mas não está equacionado o modelo para funcionar nessas bases. Continua
amarrado uma coisa a outra”, concluiu.
Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário