A situação criada com as numerosas manifestações, no Brasil, nas
últimas semanas, não se resolverá com a reunião realizada ontem em
Brasília, da presidente Dilma Rousseff, com governadores e prefeitos de
todo o país — embora o encontro seja um importante passo para atender
às reivindicações dos que foram às ruas.
Seria fácil enfrentar a questão se as
pessoas que vêm bloqueando avenidas e rodovias — levantando cartazes com todo o
tipo de queixas — fossem apenas multidão bem intencionada de brasileiros,
lutando por um país melhor.
A Polícia Civil de Minas Gerais já descobriu
que bandidos mascarados, provavelmente pagos, recrutados em outros estados, têm
percorrido o país no rastro dos jogos da Copa das Confederações, provocando as
forças de segurança a fim de estabelecer o caos.
Mensagens oriundas de outros países, em
inglês, já foram identificadas na
internet, como parte da estratégia que deu origem às manifestações.
É preciso separar o joio do trigo. Além do
Movimento Passe Livre, com sua postulação clara e legítima, há cidadãos que ocupam
as ruas, com suas famílias, para manifestar repúdio à PEC-37, que limita o poder do
Ministério Público, ou para exigir melhoria na saúde e na educação.
E
há outros que pedem a cabeça dos “políticos”, como se eles não tivessem sido
legitimamente eleitos pelo voto dos brasileiros. Esses pregam a queda das
instituições, atacam a polícia e depredam
prédios públicos, provavelmente com o intuito de gerar material para os
correspondentes e agências internacionais, e ajudar a desconstruir a imagem do
país no exterior.
O aumento brusco do dólar, a queda nos
investimentos internacionais, a
diminuição do fluxo de turistas em eventos que estamos sediando, como a visita
do papa, a Copa e as Olimpíadas, não prejudicarão só o governo federal, mas
também as oposições, que governam alguns dos maiores estados e cidades do país,
e dependem da economia para bem concluir
os seus mandatos.
Os radicais antidemocráticos se infiltram, às centenas, no meio das
manifestações e nas redes sociais, para pregar o ódio irrestrito à atividade
política, aos partidos e aos homens públicos, e a queda das instituições
republicanas. Eles não fazem distinção, posto que movidos pela estupidez, pelo
ódio e pela ignorância, entre situação e
oposição, entre esse ou aquele líder ou partido.
Eles apostam no caos que desejam. Querem
ver o circo pegar fogo para, depois, se refestelarem com as cinzas. Não têm a
menor preocupação com o futuro da nação ou com o destino das pessoas a quem incitam
à violência agora. Agem como os grupos de assalto nazistas, ou os fascistas
italianos, que atacavam a polícia e os partidos democráticos nas manifestações,
para depois imporem a ordem dos massacres, da tortura, dos campos de extermínio,
dos assassinatos políticos, como o de Matteotti.
Acreditar que o que está ocorrendo hoje
pode beneficiar a um ou ao outro lado do espectro político é ingenuidade. No
meio do caminho, como mostra a História, pode surgir um aventureiro qualquer.
Conhecemos outros “salvadores da pátria”
que atacavam os “políticos”, e trouxeram
a corrupção, o sangue, o luto, a miséria e o retrocesso ao mundo.
O encontro de ontem entre a chefe de
Estado, membros de seu governo e os governadores dos estados é o primeiro passo
em busca de um pacto de união nacional em defesa do regime democrático,
republicano e federativo. A presidente propôs consultar a população e a
convocação de nova Assembleia Constituinte a fim de discutir, a fundo, a
reforma política, que poderá, conforme as circunstâncias, alterar as estruturas
do Estado, sem prejudicar a sua natureza democrática.
É, assim, um entendimento que extrapola a
mera questão administrativa — de resposta às reivindicações dos cidadãos
honestos que marcham pelas ruas — para atingir o cerne da questão, que é
política. Há outras formas de ação da
cidadania a fim de manifestar suas ideias e obter as mudanças. A proposta
popular de emenda constitucional é bela, como no caso da Ficha Limpa. Cem mil pessoas que participam de uma
manifestação podem levantar 500 mil assinaturas em uma semana a fim de levar
ao Congresso uma sugestão legislativa.
Não
é preciso brincar com fogo para melhorar o país.
Jornal do Brasil
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