domingo, 23 de junho de 2013

Muito além dos centavos

 










Algo mais do que a redução da tarifa de ônibus

por Mauricio Dias — publicado 22/06/2013
 
Mídia Ninja
protesto
Protestos nas ruas, com ou sem violência, sempre são danosos aos governantes. Manifestações populares são comuns à democracia

Dilma precisa avançar e criar nova agenda inspirada, inclusive, em certas reivindicações de um movimento social confuso e errático.

O veto ao aumento das passagens nos transportes urbanos, estopim do movimento que se alastrou de São Paulo para outros pontos do País, foi atendido. Esse sucesso inicial pode ter impacto na mobilização e deixá-lo, por outro lado, numa encruzilhada. Avançamos ou nos retiramos?

Mas quem pensará isso se não há líderes?

A presidenta Dilma, diante da força numérica da mobilização, também está diante de fatos novos e precisa, por isso, criar e conduzir outra agenda de governo. Para tanto pode avançar apoiada em sinalizações difusas de manifestantes confusos e erráticos. 

Foram eles, de qualquer forma, que botaram o bloco na rua e exibem cartazes como esse que resvala no mau gosto: “Enfia os 20 centavos no SUS”. Esse outro não é menos sugestivo: “Queremos educação padrão Fifa”.

Quem nega que Ensino e Saúde são pautas prioritárias no Brasil? Há preocupação intensa, bem visível, em ligar as análises das marchas realizadas nas principais capitais brasileiras com as vaias à presidenta Dilma Rousseff na abertura da Copa das Confederações, em Brasília. Nesse cenário, ganhou força a ­divulgação de pesquisas indicando queda expressiva na aprovação do governo.

Emergiu, paralelamente, um aumento da inflação que mexeu com velhos fantasmas da classe média.Os números governam a política. Esses, divulgados agora, ajudam, por exemplo, a manter viva a esperança de alterar o rumo da disputa presidencial de 2014, que aponta vantagem folgada para a reeleição de Dilma.

Protestos nas ruas, com violência ou sem violência, sempre são danosos aos governantes. Ônus do poder. A mídia conservadora sobrevoa o assunto, como urubu sobrevoa carniça, e se encarrega de estimular os jovens com a bandeira, em frangalhos, da marcha pacífica.

Manifestações populares são comuns à democracia. Machado de Assis, mesmo emparedado por uma elite autoritária e reacionária, percebeu e estimulou as liberdades oferecidas pelo, então, novo regime republicano, em crônica de 1892:
“A liberdade não é surda-muda nem paralítica. Ela vive, ela fala, ela bate as mãos, ela ri, ela assobia, ela clama, ela vive da vida”.

O pacato Machado não apoiaria violência. Meditaria, porém, sobre o bom comportamento, incentivado pela TV Globo, em manifestações legítimas nas ruas.

A República está coalhada de protestos: “Revolta da Vacina” (1904), “Revolta da Chibata” (1910),  “Revolta das Barcas” (1959). Essa última, em Niterói (RJ), teve a força de levante popular motivado pelo custo da passagem e pelo péssimo serviço oferecido aos usuários. Tal como agora.

Nos anos 1960, jovens e velhos foram para as ruas com a bandeira das reformas políticas. Nos anos 1970, o fato estimulador era a ditadura. Em todos esses movimentos, porém, a política era o guia. Esse fator não aparece claramente agora.

Os manifestantes combatem politicamente com a suposição de que não fazem política. Logo, logo, no entanto, vão descobrir que, politicamente, estão a favor de alguém ou contra alguma coisa.

Versão incômoda I

O próximo 19 de agosto marcará o 10º ano da morte de Sergio Vieira de Mello, brasileiro, funcionário da Organização das Nações Unidas, durante atentado ao QG da ONU, no Iraque.
Celso Amorim, chanceler brasileiro na ocasião, joga um ponto de interrogação no episódio ao falar dos EUA, país responsável pela proteção aos funcionários da ONU.

Versão incômoda II

“Não sou dado a teorias conspiratórias, mas é difícil lembrar desse episódio sem me perguntar se o ‘ponto fraco’, pela ótica da segurança, não era deixado ‘fraco’ propositadamente, até para desviar os eventuais ataques do alvo mais pro­curado: a administração militar norte-americana” (Breves Narrativas Diplomáticas – Editora Benvirá)
A suspeita é diplomaticamente embutida numa ­pergunta.

Dilema de Eduardo

Em caso de alguém perguntar a ela se o governador Eduardo Campos (PE) será candidato a presidente, ouvirá da presidenta Dilma uma resposta, curta e curiosa, conhecida no círculo presidencial:
“Isso nem ele mesmo ainda sabe”.
Na pesquisa Vox Populi, publicada nesta edição de CartaCapital, na menção espontânea para presidente (sem indicação de nomes) o governador pernambucano bate um recorde: não alcança 1% das intenções de voto.
Por critérios estatísticos obteve zero.

Solar do Aécio

As redes sociais no Rio não dão sossego ao senador Aécio Neves.
Ele as procura e, por consequência, é procurado.
Está quase pronto o apartamento dele, de 250 m2, na Avenida Vieira Souto, em Ipanema. Há descrições deslumbradas da sala ­onde pontifica um quadro de Vik Muniz, o preferido da ­gente fina, e da mesa central ­capaz de acomodar até 20 pessoas.
Em tempos eleitorais é um espaço que, além das festas, pode promover reuniões políticas fechadas.

Vou de táxi

Comentário de um sábio motorista de táxi paulista para uma atenta passageira carioca:
“No Brasil, as autoridades, por ignorância ou cumplicidade, cometem um erro básico de administração: tentam lavar a escada de baixo para cima. A sujeira volta”.
Na faxina, limpeza benfeita é de cima para baixo.

Cautela não é crime...

As gravações das manifestações registradas demoradamente por emissoras de televisão podem virar arma perigosa na campanha de 2014.
Dilma pode ser o alvo preferencial. O movimento, dizem, é apartidário. Podem dizer, depois, que era mobilização contra o governo.
É preciso criar uma regulamentação para o uso dessas imagens nas eleições.
... dúvida também não
É preciso conferir se as manifestações de agora não serão encerradas concomitantemente com o final da Copa das Confederações.



Maurício Dias   -   Carta Capital

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