O dia de ontem marcou uma inflexão não nas
manifestações, que continuam no mesmo ritmo e crescendo, pacíficas, com
uma agenda ampla, com participação variada, incluindo desde movimento
como o Passe Livre até anarquistas, punks, jovens de classe média e da
periferia, profissionais, entidades estudantis, movimentos sociais e
populares, movimentos culturais e de protesto e luta de todos os tipos e
das redes.
A novidade, para pior, foi a tentativa de
virar o movimento contra o PT e seus governos, de levar para dentro do
movimento temas ausentes. A tentativa de dar uma guinada no movimento
conta com a cobertura – como não poderia deixar de ser – da mídia, a
mesma que pediu repressão contra “os vândalos e baderneiros” e foi
atendida. Foi a mesma repressão típica das ditaduras. O repúdio a essa
repressão foi uma das principais razões das manifestações gigantescas de
anteontem.
O problema, para a mídia, especialmente a Globo, é que ela é alvo das manifestações. E pior, a Copa é sua principal fonte de receita.
O mais grave foi a retirada ontem de
propósito da Polícia Militar da cidade de São Paulo e a depredação da
sede da Prefeitura e os saques na avenida Paulista e em outros locais da
cidade por grupos organizados, que podem ser identificados pelas
autoridades.
E mais grave ainda foram as TVs Record e
Globo, sem nenhum pudor, depois de exigir repressão e desqualificar os
protestos, de tentar virar e se apoderar os movimentos e transformá-los
em atos políticos contra o governo.
Frente a essa nova realidade, cabe ao PT e todos que apoiam e acreditam no nosso projeto político, e mesmo os insatisfeitos e críticos, cerrarem fileiras na defesa da democracia, já que não podemos vacilar.
O que
está em jogo é a democracia, ameaçada não pelas manifestações pacíficas –
onde muitos setores legitimamente são de oposição e críticos do governo
–, protestando contra a Copa, por melhores condições de transporte e
vida, por mais educação e saúde, contra a corrupção, contra o atual
sistema político.
O que, sim, nos importa é a tentativa
de usar e dirigir as manifestações não apenas contra os governos do PT,
mas também para desestabilizar, repito, a democracia brasileira.
Só
há uma maneira de responder a essa tentativa que nos remete ao passado,
quando a mídia manipulava movimentos de protestos contra governos de
esquerda de democráticos: ir para as ruas e ao mesmo tempo atender as
demandas das ruas, aprofundando as reformas e as mudanças no país.
Mudando radicalmente a política de transportes e de mobilidade, de
ocupação do solo, fazendo uma reforma tributária para destinar mais
recursos para a saúde e a educação, saneamento, transporte, lazer e
cultura. Para inverter o caráter regressivo e injusto, social e regional
de nosso sistema tributário, no qual quem ganha menos paga mais, um
resquício do passado.
E também fazendo a reforma política,
acabando com o predomínio do dinheiro nas campanhas, bandeira pela qual
o PT solitariamente tem lutado.
Avançar, e não recuar, no modelo de desenvolvimento, não aceitando em hipótese alguma a volta às políticas neoliberais em que o mercado e o rentismo – e não a nação, o Estado e o povo – são os beneficiados do crescimento e da riqueza.
Aproveito para sugerir a leitura de alguns artigos sobre as manifestações:
- Rodrigo Viana: O ataque à prefeitura de São Paulo
- Rodrigo Viana: O ataque à prefeitura de São Paulo
Blog do Zé Dirceu
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