quinta-feira, 20 de junho de 2013

Militantes de partidos e movimentos sociais viram alvo em São Paulo

Repórter relata violência de nacionalistas contra manifestantes organizados
 
por Piero Locatelli
 
Mídia NINJA
Militantes de partidos e organizações sociais fazem cordão para se defender
Militantes de partidos e organizações sociais fazem cordão para se defender na avenida Paulista, em São Paulo
 
Quando cheguei à avenida Paulista, em São Paulo, nesta quinta-feira 20, vi militantes do Juntos!, grupo de jovens do Psol que batucavam e chacoalhavam bandeiras do partido na praça do Ciclista. Ao lado, um homem com um chapéu estampado com a bandeira do Brasil gritava, nervoso: “Vai para Cuba! Vai para a Venezuela, c******! Vai para a p*** que o pariu!” Desde o começo do ato, organizado para comemorar a redução das tarifas em São Paulo, presenciei insultos e violência contra partidos e movimentos sociais organizados.

Na noite de quarta-feira 19, a direção nacional do PT havia chamado seus militantes às ruas, e o partido se fez presente no protesto. Mesmo tendo se oposto ao prefeito Fernando Haddad (PT), o Movimento Passe Livre (MPL), principal organizador das manifestações, prometia não restringir a presença de ninguém ligado a partidos. “O MPL nunca vai impedir ninguém de se manifestar. Somos apartidários, não contra os partidos", disse a militante Mayara Vivian durante entrevista na tarde de quarta-feira 20.

Vi muitas pessoas que tinham uma postura completamente distinta da defendida pelo MPL. Um homem, enrolado numa bandeira do Brasil, disse a outro que segurava uma bandeira de partido: “eu não gosto de violência. Mas isso é uma violência. Sai com essa bandeira daqui senão eu vou quebrar tudo”. Outras pessoas repetiam que “a única bandeira que pode é a do Brasil.” Do outro lado, um grupo do PT gritava “fascistas” repetidamente.

A situação ficou mais clara quando dois grupos se encontraram entre o Masp e o prédio da Fiesp, também na avenida Paulista. Os autodenominados “nacionalistas” vinham atrás. Na frente, movimentos sociais, sindicatos, entidades estudantis e partidos mostravam suas posições. 

Entre os dois, um grupo de militantes fazia um cordão e engolia em seco a maior parte das ameaças feitas do outro lado.
Um homem alto, branco, enrolado numa bandeira do Brasil gritava “mensaleiro” para um militante do PSTU, partido fruto de dissidência do PT e que sempre lembra o escândalo petista. “Não sou, cara, eu sou oposição”, gritava ele. “Mentira, filho da p***”, recebia em resposta. Eles também chamavam os militantes de movimentos sociais de "oportunistas".

O grupo de trás gritava “se a bandeira não baixar, ole, ole, olá, o pau vai quebrar”. Os militantes começaram a ser agredidos. A promessa de intolerância foi cumprida logo em seguida, eles avançaram sobre os militantes, que tentaram se defender com as hastes da bandeiras que carregavam. Um homem careca saiu sangrando da confusão.
Enquanto isso, sete policiais militares estavam atrás de uma banca. Militantes de movimentos sociais gritavam para eles, dizendo o que acontecia a poucos metros, mas eles preferiam ficar parados.

Problemas semelhantes aconteceram em outras cidades. Manifestantes tentaram impedir bandeiras de partidos políticos em Fortaleza. Em Florianópolis, eles foram vaiados e hostilizados. No Rio de Janeiro, também há relatos de militantes hostilizados.

Na confusão, encontrei um amigo militante que disse “perdemos , não tem como, é só ir embora.” Logo depois, não vi mais bandeiras de partidos e de movimentos sociais hasteadas. As únicas que restavam no caminho de volta à redação estavam sendo queimadas por pessoas que portavam bandeiras do Brasil.


Carta Capital

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