Luciano Nascimento
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O governo estuda a possibilidade de usar terras
confiscadas do tráfico para indenizar fazendeiros com propriedades em
áreas indígenas demarcadas, disse hoje (13) o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo. Ele ressaltou, no entanto, que a questão ainda precisa
ser mais bem avaliada, uma vez que o governo não dispõe de um
levantamento das terras que estariam disponíveis. “Há uma série de
propostas. Nós vamos pegar todas as áreas em conflito em Mato Grosso do
Sul e pensar como cada uma pode ser equacionada. Talvez não seja
possível uma equação uniforme para todos os conflitos no estado”, disse.
O ministro lamentou a morte do índio guarani-kaiowá, Celso Rodrigues,
atingido por dois tiros ontem (12), nos arredores da Aldeia Paraguaçu,
em Paranhos, a 477 quilômetros de Campo Grande, capital de Mato Grosso
do Sul. Celso Rodrigues é o segundo índio morto no estado em menos de 15
dias. “Ontem, infelizmente, houve mais uma morte de um indígena. Não se
sabe ao certo o motivo, se foi em razão de disputa de terras. Eu
solicitei que a Polícia Federal acompanhe a situação”, disse Cardozo,
para quem o momento é de apostar em uma solução dialogada para a
questão.
A polícia afastou inicialmente a ligação do crime com a disputa pela
posse da terra, mas o delegado Rinaldo Gomes Moreira, responsável pelo
inquérito instaurado para apurar os motivos do crime, disse à Agência Brasil que a polícia vai investigar todas as hipóteses possíveis para esclarecer o assassinato.
Cardozo falou sobre o assunto ao sair do Fórum de Assuntos Fundiários
no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), hoje (13), com a participação de
indígenas, fazendeiros e representantes do Judiciário, Ministério
Público Federal, do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da
Advocacia-Geral da União (AGU) e da Fundação Nacional do Índio (Funai).
A reunião é preparatória para o encontro que ocorrerá no próximo dia
(24), em Campo Grande, que debaterá a demarcação de terras indígenas.
“Estamos caminhando para a criação de um fórum que pode solucionar
definitivamente o problema de Mato Grosso do Sul e talvez do Brasil.
Para que o fórum dê certo é necessário tranquilidade e que não se
pratique, de lado a lado, atos de violência. Somente em um clima de
pacificação poderemos ter possibilidade de resolver a questão”,
destacou. O ministro acredita que o fórum pode criar um paradigma para
trabalhar os conflitos envolvendo a demarcação de terras indígenas no
país.
Cardozo rechaçou as iniciativas que visam a delegar ao Congresso
Nacional a responsabilidade sobre a demarcação de terras indígenas. Para
Cardozo, isto seria inconstitucional por ser uma atribuição
administrativa do Executivo e por ferir a cláusula de separação entre os
Poderes.
“O que é tradicionalmente ocupado pelos povos indígenas já é da
União. O que o Poder Executivo faz é, administrativamente, verificar
quais são essas terras e quais não são. Esta é uma função eminentemente
administrativa, disse. “Quando a Constituição diz que isso é do
Executivo e quando ela diz que o princípio da separação de Poderes é
cláusula pétrea, isto está petrificado. Por isso que eu digo que isso é
inconstitucional", completou Cardozo.
Agência Brasil
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