Jango
Começou na manhã de hoje, e prossegue amanhã, a exumação dos restos
mortais do ex-presidente João Goulart – o Jango – em São Borja (RS), sua
cidade natal, onde seu corpo foi sepultado sem que permitissem a
realização de autópsia e nem que o caixão fosse aberto no Brasil. A
determinação dos militares, durante a ditadura do general-presidente
Ernesto Geisel, sempre suscitou dúvidas.
A principal suspeita é que ele tenha sido envenenado (colocação de
uma cápsula entre os remédios que ele tomava para problemas cardíacos),
em 6 de dezembro de 1976, durante seu exílio na Argentina. Com a
exumação e as investigações que começam hoje, a dúvida histórica será,
finalmente, esclarecida.
Amanhã os restos mortais do ex-presidente Jango seguem para Brasília,
onde serão recebidos com honras de chefe de Estado pela presidente
Dilma Rousseff e ex-presidentes da República, na Base Aérea de Brasília.
Os ex-presidentes Lula, Fernando Collor de Mello e José Sarney
confirmaram presença. FHC ainda é dúvida porque continua com problemas
de saúde – diverticulite.
A exumação se dá a pedido da família de Jango e os trabalhos estão
sendo conduzidos por um grupo especial que envolve representantes da
Comissão Nacional da Verdade, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos
da Presidência da República, da Polícia Federal (PF) e especialistas
indicados pela família, dentre os quais, experts cubanos que dirigiram a
recuperação dos restos do Che Guevara na Bolívia nos anos 90. Também
participam uma Equipe Argentina de Antropologia Forense e representantes
da Cruz Vermelha Internacional.
“Estavam decididos a fazer de tudo”
Em entrevista à Carta Maior, João Vicente – filho de Jango – reitera a
suspeita de que seu pai foi vítima da Operação Condor, aliança entre as
ditaduras militares no Cone Sul, que tinha por objetivo assassinar a
esquerda e os opositores das ditaduras. “Parece bastante claro que as
ditaduras de Geisel e Videla atuaram em conluio para impedir a
realização de uma autópsia como costuma suceder quando morre qualquer
ex-presidente no exterior”, afirma João Vicente.
João Vicente também avalia que os generais ditadores Jorge Rafael
Videla (Argentina), Augusto Pinochet (Chile) e Ernesto Geisel, “estavam
decididos a fazer tudo, acho que até a eliminação física, para impedir o
retorno de meu pai (ao Brasil). Eles o viam como um risco à
estabilidade de uma ditadura cada vez mais questionada internamente”.
O filho de Jango conta que há papéis secretos ordenando a detenção
imediata de seu pai caso ele atravessasse a fronteira para retornar ao
Brasil. “Há pouco me fizeram chegar um documento de 1976, que tem a
marca d´agua do Exército, onde se ordena que os serviços de inteligência
reforcem sua perseguição na Argentina, ou seja: eles estavam
permanentemente em cima dele”.
Troca de remédios teria apoio da CIA
João Vicente também revela que um ex-agente da Inteligência uruguaia,
preso há mais de 10 anos em Charqueadas (RS), afirmou à PF que Jango
foi envenenado, “introduzindo comprimidos adulterados nos remédios que
tomava devido a um problema cardíaco, e que isto se fez com o apoio da
CIA, através de seu chefe em Montevideu em 1976, o agente Frederick
Latrash e de Sergio Paranhos Fleury, o caçador de opositores e chefe do
DOPS – Departamento Ordem Política e Social paulista. Além de sua
autonomia, a verdade é que Fleury era um repressor subordinado a uma
hierarquia da ditadura”.
Deposto pelo golpe militar de 1964, Jango viveu seu exílio no Uruguai
e na Argentina. Foi o único ex-presidente brasileiro a morrer no exílio
e o menos estudado na história, dentre todos os chefes de governo do
país porque os militares o estigmatizaram para a opinião pública. Num
curto intervalo de sete meses de 1976/1977, tiveram morte suspeita
Jango, o ex-presidente Juscelino Kubitschek e o ex-governador Carlos
Lacerda, os três maiores líderes opositores à ditadura.
Clique aqui e confira a entrevista de João Vicente Goulart.
Blog do Zé Dirceu
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