qua, 27/11/2013 - 06:00
- Atualizado em 27/11/2013 - 07:51
Ontem, em entrevista ao jornal El País, a
presidente Dilma Rousseff antecipou o que poderá ser anunciado pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no próximo dia 3
de dezembro: uma revisão do PIB (Produto Interno Bruto) de 2012, que
poderá passar de 0,9 para 1,5% ou mais um pouco.
Recentemente a LCA Consultoria fez um
estudo sobre a revisão do PIB sugerindo que poderia chegar a 2,5%. O
ex-presidente do Banco Central Chico Lopes também tem apontado
reiteradamente para a subestimação do crescimento.
Essas discrepâncias ocorrem em um quadro
de mudanças estruturais da economia. O PIB mede teoricamente todos os
bens e serviços produzidos por uma determinada economia. O cálculo se
baseia em uma pesquisa inicial, estimando o peso de cada setor na
composição final do produto. Periodicamente essas pesquisas são
revistas, para levar em conta as mudanças ocorridas no período.
***
Quatro tipos de dados serão revistos
pelo IBGE: a Pesquisa Industrial Mensal, a da Produção Agrícola
Municipal, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios e a Pesquisa
Mensal de Serviços (PMS/IBGE). Essa última pesquisa foi criada
recentemente e engloba vários serviços, como Transporte de carga e de
passageiro, serviços prestados às empresas e às famílias etc.
***
Dilma sugeriu alta de 0,6% com a
revisão. Eximiu-se de abrir a fonte. Alegou serem estudos do Ministério
da Fazenda. Dias atrás, circularam os primeiros rumores de que poderiam
ser as informações oficiais do IBGE. Só se saberá nos próximos dias.
***
A comemoração de Dilma deve-se ao fator
“rating” brasileiro. As agências de risco analisam o rating em cima da
relação dívida x PIB. E projetam os dados correntes para os próximos
anos, para analisar a relação dívida/PIB.
Vamos a uma conta simples, em cima das estimativas do Banco Itaú para a relação dívida pública líquida / PIB.
Sua última projeção mostrava a seguinte evolução:
Em 2010 estava em 39,1%. Em 2011 caiu para 36,4%; para 35,2% em 2012; para uma estimativa de 36,2% em 2013 e 37,1% em 2014.
Supondo, na hipótese mais conservadora,
que o PIB estivesse subestimado em 0,5 ponto percentual desde 2012. A
situação ficaria assim:
Em 2012 a relação cairia para 35%; para 35,9% em 2013 e para 36,5% em 2014.
Supondo uma subestimação de 1 ponto, a série ficaria assim: 34,9% em 2012; 35,5% em 2013 e 36% em 2014.
Em se tratando de percentual do PIB, é uma diferença significativa.
***
Houve algum descontrole, de fato, mas
nada que comprometesse a solidez fiscal. Ao longo das últimas décadas o
país criou anticorpos poderosos contra desequilíbrios fiscais e
inflação. Basta sair um pouco das expectativas para despertar uma grita
geral.
A grande dificuldade do governo Dilma
não são os atos, mas as palavras. Há uma dificuldade generalizada de
conversar com clareza com o mercado.
Nos últimos dias, o governo deu início a
um discurso segundo o qual o estímulo ao consumo, e um certo desleixo
fiscal, seriam heranças do governo Lula. Num segundo governo Dilma, tudo
seria diferente.
Não é por aí. Nas últimas semanas a
Fazenda já deu curso a um novo arrocho fiscal. Basta manter a coerência e
desenvolver um discurso com credibilidade. O problema é a insistência
em minimizar a importância da interlocução.
Blog do Luis Nassif
Nenhum comentário:
Postar um comentário