publicado em 28 de novembro de 2013 às 14:42
Aécio, os cartéis e as borboletas
por Paulo Teixeira
Dirceu Borboleta foi um personagem singular da teledramaturgia
brasileira. Cidadão pusilânime, vacilante, incapaz de enfrentar a
realidade, comungava com os malfeitos de Odorico Paraguaçu, prefeito da
cidade de Sucupira, na novela “O Bem Amado”, exibida em 1973.
Nesta semana, 40 anos depois, quem fez uma bela homenagem a Dias
Gomes foi o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Diante de tantos desmandos e
malfeitos do governo tucano do Estado de São Paulo, o senador reuniu sua
tropa de choque e partiu para cima do juiz, do delegado, do promotor,
enfim, de todos aqueles que tomaram providências para apurar as
denúncias, acusando-os de “utilizar o governo para tentar prejudicar o
PSDB”.
O senador deixou de lado as fartas evidências da corrupção praticada
pelo seu partido em São Paulo. Esqueceu até que uma das empresas, a
Siemens, já assumiu a participação em conluios para a formação de
cartel. Não se lembrou também que a justiça suíça condenou a Alstom por
prática de corrupção junto ao governo tucano.
Aécio Neves protagonizou, no mínimo, um cena de ingenuidade política:
acusou o deputado petista Simão Pedro de adulterar documento; o
ministro da Justiça, de encaminhar o tal documento para a Polícia
Federal; e o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade), de utilizar o cargo para prejudicar o PSDB. Nem uma palavra
sobre formação de cartel, corrupção e outros desmandos praticados ao
longo de 15 anos de reinado tucano em São Paulo.
As acusações de Aécio são dignas de um capítulo da novela “Bem
Amado”. Sem apresentar provas ou perícias, a acusação desconhece que
eram dois documentos, um dirigido à direção da Siemens no exterior e o
outro, às autoridades brasileiras. Pouco importa se eram dois
documentos. Bastava ao senador Aécio ler a versão em inglês, que
descreve de maneira pormenorizada a sofisticada rede de corrupção, dando
inclusive nomes às empresas envolvidas.
Para que essa encenação não fique com cara de tentativa de desviar a
atenção do mau cheiro que exala do Palácio dos Bandeirantes, o senador
Aécio Neves tem o dever de mostrar ao País que conhece de política mais
que de lepidópteros (borboletas), cobrando a investigação das denúncias,
a responsabilização criminal dos envolvidos e a devolução dos recursos,
para destiná-los aos transportes públicos de São Paulo – de onde,
aliás, foram desviados por seguidas reencarnações de Odorico Paraguaçu.
Paulo Teixeira é deputado federal (PT-SP).
PS do Viomundo: O Aécio sabe ler em inglês? Foi assim que tudo começou:
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