30 de Dezembro de 2013 | 14:39 Autor: Miguel do Rosário
(Tradução: Confie em mim – o júri gosta de você).
Esse post do Kotscho, publicado há pouco em seu blog, reflete uma coisa que eu também penso. O julgamento do mensalão foi tão grotescamente midiatizado, que os ministros aplicaram penas igualmente grotescas a personagens menores, que nada tinham a ver com as escaramuças pelo poder travadas pelas diferentes forças políticas.
Os petistas presos podem ser inocentes dos crimes de que são
acusados, mas ao menos eram protagonistas da luta política entre PT, de
um lado, e oposição e mídia, de outro. Alguns réus, nem isso. Simone
Vasconcelos, por exemplo, era secretária de Marcos Valério, e foi
condenada a 12 anos por participar de uma “quadrilha” cujo maior
objetivo era comprar o voto de deputados para que aprovassem a… reforma
da previdência!
Enquanto isso, Pimenta Neves, réu confesso no assassinato de sua
namorada, ficou mais de dez anos livre; foi preso e agora está livre
novamente.
Enquanto isso, Arruda, personagem central no escândalo conhecido como
“mensalão do DEM”, está livre, leve e solto e pensa em se candidatar
outra vez.
Enquanto isso, Simone, avó, tenta aproveitar ao máximo o banho de sol na prisão.
*Toda a tristeza do mundo na foto da avó na prisão
Simone Vasconcelos é a primeira à direita na foto.
Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho.
De tudo que li, vi e ouvi nas duas ultimas semanas sobre os
prisioneiros do mensalão no Presídio da Papuda, nada me tocou mais do
que a foto de Dida Sampaio, do Estadão, publicada na quarta-feira,
mostrando toda a tristeza do mundo estampada no rosto de uma senhora de
óculos escuros, que caminhava com uma garrafa de água na mão, no pátio
da cadeia.
O nome dela é Simone Vasconcelos e dela pouco se sabe, além do fato
de ser casada, ter dois filhos e um neto, ex-funcionária da SMPB de
Marcos Valério, encarregada de entregar envelopes com dinheiro a
políticos em Brasília, e por isso condenada a 12 anos, 7 meses e 20 dias
de prisão, pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e
evasão de divisas. Trata-se de uma pena maior do que a dos políticos
condenados no processo.
Ao fazer a sustentação oral no STF, no dia 7 de agosto do ano
passado, o defensor de Simone Vasconcelos, Leonardo Yarochewsky, afirmou
que a ré era “simples empregada, e o dinheiro não lhe pertencia”. Para o
advogado, “isso remonta à idade medieval, em que o indivíduo era punido
pelo Código de Hamurabi. O que mais se faz nesse processo é culpar
pessoas pelo cargo que ocupavam, ou porque ocupavam cargo em determinado
banco, ou em determinado partido, ou em determinada agência de
publicidade”.
Yarochewsky argumentou que Simone não conhecia nem sabia quem eram os
parlamentares que recebiam dinheiro. “O que o patrão faz com o dinheiro
não cabe ao funcionário questionar”.
Até ontem, Simone estava presa, junto com Katia Rabello,
ex-presidente do Banco Rural, condenada a 14 anos e 5 meses de prisão,
numa cela do 19º Batalhão da Polícia Militar, instalado dentro do
Complexo Penitenciário da Papuda, onde Dida Sampaio fez a fotografia que
me chamou a atenção, no período de duas horas a que elas tinham direito
a tomar sol. A cela tem beliches, um cano de água fria que serve de
chuveiro e uma privada sem assento.
Por ordem da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, anunciada
nesta quinta-feira, as duas agora serão levadas para a Penitenciária
Feminina da Colmeia, embora seus advogados tenham pedido transferência
para Belo Horizonte, onde moram suas famílias. Simone quer trabalhar
para reduzir sua pena e poder sair do regime fechado antes de completar
60 anos.
No meu tempo, nem faz tanto tempo, dizia-se que uma fotografia vale
por mil palavras e, como já escrevi mais de 400, vou parando por aqui,
deixando apenas uma pergunta no ar: que perigo estas duas mulheres podem
representar para a sociedade, a ponto de serem condenadas a penas de
prisão tão longas, em regime fechado, enquanto homicidas e estupradores
andam à solta por aí e mais de 800 políticos aguardam julgamento no
Supremo Tribunal Federal?
Com a palavra, os nobres ministros do STF.
*
PS Tijolaço: Eu conheço um pouco da história da
outra mulher da foto, Katia Rabello. Era bailarina, não entendia nada de
mercado financeiro. Os acertos com Marcos Valério foram feitos por sua
irmã. Quando esta faleceu, Katia voltou de Londres para assumir o banco.
Foi muito mal assessorada por Marcio Thomas Bastos, que ganhou R$ 10
milhões em honorários e entregou sua cliente às feras.
Tijolaço
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