Mas, para Franco, não compensa. "Não estamos dispostos a seguir cedendo nossa energia. E prestem bem atenção que uso a palavra ceder. Porque o que estamos fazendo é ceder ao Brasil e à Argentina, nem sequer estamos vendendo", bradou. Sem citar, obviamente, que o governo de Fernando Lugo – o legítimo, democraticamente eleito, que seus pares derrubaram no tapetão – conseguiu triplicar o valor pago pelo Brasil na eletricidade de Itaipu.
"Devemos procurar trazer o que é nosso de Itaipu e Yacyretá, criar fontes de trabalho para evitar mais migrações. Para isso, a única alternativa é criar condições de segurança para poder industrializar o país", completou Franco referindo-se a um acordo fechado para a construção da linha de transmissão entre Itaipu e Assunção que levará o país a utilizar mais energia a que tem direito na usina. Ele avalia que esse projeto possibilitará a instalação de mais indústrias no país que contarão com um preço mais conveniente de energia.
Ora, o ditador legal do Paraguai está no direito dele. Pode ficar com toda energia que comprar de Itaipu, como o Brasil já faz, se não continuamos com o direito de comprar pelos preços de mercado, como faz a Argentina. O resto, meus caros, é conversa fiada. Está tudo garantido nos contratos assinados pelos governos e pelo Estado paraguaio. E vejam que nem o argumento de que era uma ditadura ele pode usar, já que ele mesmo não passa de um usurpador.
Rio Tinto Alcan
Após ter usurpado a presidência paraguaia por conta de um golpe do Congresso daquele país, Franco iniciou negociações com a multinacional Rio Tinto Alcan para a instalação de uma fábrica de alumínio no Paraguai. A negociação, porém, havia sido interrompida devido a divergências sobre o preço da energia elétrica que seria fixada.
Sobre este acordo, Fernando Lugo, presidente deposto do Paraguai, em uma entrevista imperdível publicada no Carta Maior foi categórico: “Como é possível quererem produzir alumínio no Paraguai se a matéria-prima e o mercado estão no Brasil? Estão negociando que o preço da energia para essa empresa fique por 30 anos sem reajuste, uma perda de 14 bilhões de dólares".
Após o golpe, Lugo se tornou um dos principais articuladores da unidade da esquerda paraguaia. Na entrevista, ele analisa as origens do golpe orquestrado pelo Legislativo que o retirou do poder, e comemora o fortalecimento da esquerda reunida na Frente Guasú, criada em março deste ano.
A Frente reúne partidos de esquerda e centro-esquerda e tem como meta as eleições gerais de abril de 2013. Além da conquista da presidência, o foco está em eleger o maior número de cadeiras no Congresso Nacional. Para tal, Lugo poderá ser indicado a encabeçar a lista de candidatos ao Senado, um direito que lhe foi garantido pela Corte Suprema do país.
“A sociedade paraguaia está mais polarizada do que nunca”
O presidente deposto também ressalta o desapontamento da direita paraguaia que “acreditava que seria muito fácil executar o golpe” e frisa que o que realmente incomodou no seu governo foi o potencial de transformação da sociedade paraguaia que ele representava e estimulava. Quanto ao golpe, Lugo é categórico: “Foi pensado por muito tempo”.
Leia a entrevista clicando aqui e veja também o que diz Lugo sobre o papel que a imprensa paraguaia desempenhou no golpe dado pelo Congresso daquele país. Você, leitor, certamente identificará coisas muito semelhantes aqui mesmo em nosso país.
(Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)
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