Por IV Avatar do Rio Meia Ponte
Do O Cafezinho
Por Miguel do Rosário
Na porta do STF, há uma estátua: uma figura com uma banda nos olhos,
representando a imparcialidade da justiça. Nunca gostei muito desse
símbolo, por achá-lo irreal e negativo. A justiça deve ser imparcial
sim, mas jamais cega. Ela deve enxergar muito bem as entrelinhas por
onde as piores injustiças se escondem, sobretudo nos dias de hoje.
Além do mais, é uma imagem irreal e por isso ineficiente. Os
ministros do STF não são cegos, nem transitam no meio de cegos. Eles
frequentam vôos comerciais, a zona sul do Rio, aberturas de exposição,
lugares frequentados sempre pela elite. Esta é a força dos meios de
comunicação. Eles não conseguem mais eleger ninguém porque não
influenciam mais o voto popular, determinante em qualquer eleição, mas
continuam influentes, talvez mais do que nunca, nas altas rodas, que é a
esfera onde quase todo mundo aspira chegar, de ministros de STF a
cantores de música sertaneja. Todo mundo quer se dar bem na vida – isso
não é pecado, pelo contrário, desde que seja honestamente, óbvio. E se
dar bem significa ter status, dinheiro, fama ou poder, esses quatro
fatores muitas vezes coincidem ou ajudam uns aos outros.
Só agora, que a campanha eleitoral atinge momentos decisivos, percebi
o prejuízo causado pelo julgamento do mensalão à democracia brasileira.
Ao ocupar as principais páginas políticas com a monótona rotina das
votações do STF, a mídia está sonegando informações fundamentais para
que os brasileiros façam um debate político qualificado e escolham seus
candidatos com base num conjunto denso e variado de informações.
A faca no pescoço de Lew, abreviatura carinhosa para Lewandowski, um
ministro pelo qual tenho simpatia, até parece nome de peça de Bertold
Brecht… Nem estou fazendo nenhum juízo de valor sobre a decisão dos
ministros. Só apontando essa fragilidade fundamental da nossa
democracia: a fragilidade de um indivíduo, seja ele cantor de pagode,
artista plástico ou ministro do supremo, com suas vaidades e vícios,
contra esse leviatã cada vez mais articulado, poderoso e totalitário,
que meus colegas blogueiros apelidaram, genialmente, de PIG!
Essa fragilidade do indivíduo é a característica que transforma a
mais singela dignidade, a mais verdadeira imparcialidade, numa espécie
de heroísmo. A mídia tem poder sobre a rotina mesquinha do dia a dia.
Uma nota em jornal confere prestígio efêmero a alguém, mas essa mesma
vaidade pesará no lado mau da balança mais importante de todas. A
justiça da História, diferente daquela sentada em frente ao STF, não é
cega!
Reparem só na sequência de notas abaixo, sempre na coluna de Ancelmo
Gois. Ela exemplifica bem a pressão psicológica algo assustadora que a
mídia exerce sobre os juízes do STF. A narração platinada permitirá ou
não ao juiz ser aplaudido ou vaiado, nas estações ipanemas da vida… Será
motivo de chacota ou elogio justamente nos ambientes onde eles mais
circulam, a depender da maneira como é caracterizado, ou caricaturizado,
nas páginas de um colunista influente.
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Blog do Luis Nassif
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