Por alfeu
No dia 6 de agosto de 1945, é lançada sobre Hiroshima a bomba
atômica, pelos norte-americanos; 3 dias mais tarde é a vez de Nagasaki.
Do Hum Historiador
Em agosto o mundo relembra com muito pesar os 67 anos do maior crime
de guerra já desferido contra a humanidade: o holocausto nuclear contra
as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Crime do qual seus
culpados jamais foram sequer acusados, muito pelo contrário, foram
saudados como heróis por terem vencido e acabado com a guerra. Mais do
que isso, graças a uma eficiente campanha de propaganda, tiveram êxito
em fazer com que muitos não vissem os ataques nucleares como crimes de
guerra e, por incrível que possa parecer, desconsiderassem o fato de
que, em toda a história da humanidade, eles foram a única nação a
despejar bombas atômicas em civis. Estamos falando, é claro, dos Estados
Unidos da América.
Este post vai tratar brevemente do assunto e utilizará como referência O livro negro dos Estados Unidos,
de Peter Scowen, que pesquisou sobre os crimes perpetrados contra
Hiroshima e Nagasaki em documentos públicos estadunidenses considerados
ultra-secretos e que foram há alguns anos, abertos à população.
150 mil civis inocentes são condenados à morte por Harry Truman.
Em Agosto de 1945 os Estados Unidos da América entraram para a
história mundial por ser a primeira e única nação a despejar o terror
atômico sobre enormes populações de civis. Com a II guerra mundial
praticamente acabada e sem ter podido justificar o gasto de 2.6 bilhões
de dólares no Projeto Manhattan (projeto de construção da bomba
atômica), Harry Truman busca oportunidades para jogar uma, ou quem sabe
até mais, de suas bombas envenenadas sobre cidades inimigas e demonstrar
ao mundo o tamanho do poder que os Estados Unidos detinham na mão.
O povo estadunidense já estava sendo “envenenado” há muito
tempo por sua mídia tendenciosa que os fazia crer que a bomba atômica
daria fim a uma guerra e salvaria vidas, já que seus filhos retornariam
ao seus lares. De acordo com Peter Scowen:
“(…)para os estadunidenses, a detonação das bombas em Hiroshima e
Nagasaki foram ações militares realizadas contra uma nação despótica
que só podia culpar a si mesmo pelo sofrimento de seu povo. (…) Havia
até um fervor religioso no desempenho estadunidense, pelo menos na
cabeça de Truman: “… Agradecemos a Deus por [a bomba] ter vindo a nós ao
invés de nossos inimigos; e oramos para que Ele nos guie para usa-la a
Sua maneira e com Seus propósitos…” .
Pior que isso, só mesmo uma reveladora pesquisa que mostra o desejo
dos estadunidenses em substituir um genocídio por outro. Ainda de acordo
com Scowen, “…Uma pesquisa do Gallup feita em dezembro de 1944
revelou que 13% dos estadunidenses eram a favor da eliminação do povo
japonês por meio do genocídio…” (Fonte: LIFTON, Robert Jay; MITCHEL, Greg. Hiroshima in America: Fifty years of denial. Nova York: HarperCollins, 1996, p. 133)
Infelizmente para os planos de Truman, a Alemanha havia assinado
rendição incondicional em Maio de 1945 logo após o suicídio de Adolf
Hitler. A Itália já havia se rendido anteriormente quando da prisão e
assassinato de Mussolini. Naquele momento só restara o Japão. Ao ver-se
sem muitas alternativas para concretizar seus planos, Truman se apega na
última oportunidade que lhe apareceu ao alegar a não rendição
incondicional do Japão, que insistia em manter seu reverenciado
imperador. Grandes estrategistas de guerra desaconselharam o presidente a
utilizar as armas atômicas, propondo como alternativa um grande
bloqueio marítimo, aliado à entrada da Rússia na frente do Pacífico e
mais os bombardeios focados em alvos militares.
De acordo com esses especialistas, essas manobras seriam suficientes
para acabar com a guerra até Julho de 1945. Mesmo assim, Truman
simplesmente ignorou-os e, utilizando o mote da não rendição
incondicional, decidiu o destino de duas cidades e centenas de milhares
de vidas humanas.
Alvos escolhidos: Hiroshima e Nagasaki
O plano original previa ataques com bombas atômicas a
quatro cidades japonesas. O comitê de alvos do projeto Manhattan
decidira atacar Hiroshima, pois segundo as minutas das reuniões desse
comitê, em razão de seu tamanho e planta, “… grande parte da cidade seria extensamente danificada…”, Nagasaki e Kyoto, pois, ainda de acordo com essas minutas, Kyoto “…era um centro intelectual do Japão e seu povo é mais capaz de avaliar o significado de uma arma assim…” 1
Foi assim que, no fatídico dia 06 de Agosto de 1945, movidos além de
tudo por um sentimento indissimulável de vingança pelo ataque japonês à
base militar de Pearl Harbor, aviões estadunidenses se aproximaram do
primeiro alvo a sofrer os horrores das armas nucleares. Hiroshima, a
então sétima maior cidade japonesa, com 350 mil habitantes, foi atacada
por Little Boy, que até o fim do ano de 1945, decretou a morte de aproximadamente 150 mil japoneses, dos quais apenas 20 mil eram militares.
Não satisfeitos com tamanha atrocidade e apenas três dias depois do
primeiro ataque, como se fosse possível preparar uma declaração total de
rendição incondicional em três dias, os estadunidenses atacaram a
segunda cidade-alvo no dia 09 de agosto. Nagasaki e seus 175 mil
habitantes foram a vítima de Fat Man, segunda e
mais poderosa bomba, que vitimou aproximadamente 70 mil seres humanos
na contabilidade macabra feita em dezembro de 1945.
Em uma comparação meramente ilustrativa, é como se nos ataques de 11
de Setembro, ao invés de terem morrido três mil pessoas, aproximadamente
quatro milhões de nova-iorquinos tivessem perdido sua vida no World Trade Center.
E isso não é tudo, pois os efeitos da bomba não são apenas a morte e a
destruição imediatas. Até hoje continuam morrendo pessoas vítimas de
câncer herdado geneticamente de seus pais e avós, além de ser possível
encontrarmos ainda hoje, milhares de pessoas com deformações físicas,
câncer congênito, problemas de esterilidade e outras doenças decorrentes
da liberação radioativa sobre essas cidades em 1945.
De acordo com estudos realizados nos escombros das cidades,
praticamente todas as pessoas que estavam até 1 km do centro da explosão
foram mortas instantaneamente (86%). As bombas explodiram nos centros
das cidades e pulverizaram escolas, escritórios, prisões, lares, igrejas
e hospitais. No centro do ataque, tudo virou pó, não havia cadáveres.
Mais longe do ponto zero havia corpos espalhados por toda parte,
inclusive de bebês e crianças.
Peter
Scowen, conta em seu livro que o exército japonês enviou Yosuke
Yamahata para fotografar Nagasaki no dia seguinte ao bombardeio.
“Suas fotos mostram uma cidade completamente aplainada,
homogeneamente alisada. (…) Ele tirou fotos de uma mãe morrendo de
envenenamento radioativo e amamentando seu bebê, também à morte; fotos
de fileiras de cadáveres, pais tentando, inutilmente, cuidar das
queimaduras no corpinho de seus filhos. Yamahata morreu de câncer em
1966, com 48 anos”.
As vítimas da radiação apresentam febre e hemorragias arroxeadas na
pele, depois surge a gangrena e o cabelo cai. Esta morte dolorosa, tão
parecida com o envenenamento por gás mostarda na tortura lenta que
provoca, não era coisa na qual os estadunidenses desejariam que o
público se concentrasse após o lançamento das bombas, afinal, os Estados
Unidos da América haviam assinado tratados em 1889 e 1907 que baniam o
uso de “armas envenenadas” na guerra. Pior que isso, os Estados
Unidos haviam concordado com uma resolução de 1938 da Liga das Nações
que tornava ilegal o bombardeio intencional a civis. Ou seja, com os
ataques de Hiroshima e Nagasaki, os Estados Unidos simplesmente ignorou
todos os tratados que haviam assinado até então.
Os motivos por trás do bombardeio
Os objetivos por trás dos bombardeios de Hiroshima e
Nagasaki ficaram obscuros durante muito tempo. Na época foi alegada a
resistência dos japoneses em aceitar rendição incondicional, já que os
Estados Unidos exigia a deposição do imperador japonês e eles não
aceitavam essa condição. Dwight Eisenhower, general americano que
futuramente se tornaria presidente, disse que “O Japão estava
buscando alguma forma de render-se com uma perda mínima de aparência (…)
não era necessário golpeá-lo com aquela coisa” 2.
Com a recente liberação de documentos e diários antes considerados
ultra-secretos, hoje já se pode concluir documentalmente que o principal
objetivo por trás dos ataques a Hiroshima e Nagasaki foi a necessidade
de enviar uma mensagem clara à União Soviética, que vinha se expandindo
pelo leste europeu (Polônia, Romênia, Hungria), de que os Estados Unidos
tinham em mãos uma arma poderosa e que não hesitariam em utilizá-la
caso fosse necessário. Ainda de acordo com Peter Scowen, “… já em
1944 os americanos haviam considerado a arma um trunfo em suas relações
com Stalin e Truman acreditava que uma exibição pública da capacidade da
bomba iria tornar a URSS mais manejável na Europa…”.
Quanto a motivação do ataque, o próprio governo estadunidense acaba
por se contradizer na hipótese de que teria sido a não rendição
incondicional do Japão. No dia 10 de agosto, apenas um dia após a
explosão de Nagasaki, o Japão entrega sua rendição assinada e os Estados
Unidos abandonam a idéia da rendição incondicional alegando que se o
imperador continuasse no poder isso permitiria uma ocupação mais ordeira
pelas tropas estadunidenses.
Ironicamente, ao contrário do que desejavam os estadunidenses
liderados por Harry Truman, a demonstração pública do poder da bomba
atômica fez os líderes de todas as nações tremerem, mas, ao invés de
ficarem sentados esperando que os Estados Unidos deixasse seu poder
nuclear nas mãos da ONU, todos queriam ter tal poder nas mãos,
especialmente a União Soviética que, liderada por Josef Stálin, deu
início a Guerra Fria e a corrida armamentista nuclear, que só iria
arrefecer praticamente 45 anos após os bombardeios, com o fim da União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas sob a liderança de Mikail
Gorbatchev.
Notas:
1 – Citado por Peter Scowen em O Livro Negro dos Estados Unidos, p. 49
2 – Citado por Peter Scowen em O Livro Negro dos Estados Unidos, p. 51
1 – Citado por Peter Scowen em O Livro Negro dos Estados Unidos, p. 49
2 – Citado por Peter Scowen em O Livro Negro dos Estados Unidos, p. 51
Por C B
Eu encontrei um blog com algumas fotos dos resultados do atentado.
Uma das coisas mais revoltantes que já vi foram reproduções de fotos do
Enola Gay autografadas pela tripulação. Infelizmente, na prática, parece
que só são considerados criminosos aqueles que estão do lado derrotado
da guerra. Em um segundo o comandante do avião exterminou mais gente do
que um comandante de campo concentração nazista tinha capacidade de
fazer em dias de trabalho sujo.
Blog do Luis Nassif
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