Do G1
Câmara 'devolve' mandatos de deputados do PCB cassados em 1948
Familiares de Jorge Amado e Mariguella participaram da homenagem.
Parlamentares tiveram mandatos cassados no governo Eurico Gaspar Dutra.
13/08/2013
Em
uma sessão solene, a Câmara devolveu nesta terça-feira (13), de forma
simbólica, o mandato de 14 deputados do antigo Partido Comunista do
Brasil (PCB) que haviam sido cassados, em 1948, durante o governo Eurico
Gaspar Dutra. Entre os parlamentares contemplados, o escritor Jorge
Amado e o ex-guerrilheiro Carlos Mariguella.
Além deles, também tiveram seus mandatos reconhecidos simbolicamente
os ex-deputados Maurício Grabóis, João Amazonas, Francisco Gomes,
Agostinho Dias de Oliveira, Alcêdo de Moraes Coutinho, Gregório Lourenço
Bezerra, Abílio Fernandes, Claudino José da Silva, Henrique Cordeiro
Oest, Gervásio Gomes de Azevedo, José Maria Crispim e Oswaldo Pacheco da
Silva.
Em março, a Câmara aprovou projeto de resolução que
declarou nula a resolução da própria Casa que tirou os mandatos dos
parlamentares comunistas. A cerimônia foi proposta pela deputada Jandira
Feghali (RJ), do PC do B, legenda que se considera herdeira política do
PCB.
Dezenas de familiares e amigos dos antigos parlamentares do PCB
ocuparam o plenário principal da Câmara para acompanhar a homenagem ao
grupo. Na plateia estavam, entre outros, a filha de Jorge Amado, morto
em 2001, e a neta de Mariguella, assassinado em uma emboscada durante o
regime militar.
Para Paloma Jorge Amado, herdeira do imortal da Academia Brasileira
de Letras, a solenidade desta terça, além de repor a memória dos
parlamentares cassados, também serve de pedido de desculpas aos
eleitores destes 14 deputados.
“Essas 14 pessoas que foram cassadas foram eleitas pelo povo e foram
excelentes deputados. Deram tudo de si e foram vilmente alijados. Com
isso, se estava atacando o povo que os elegeu.
Me sinto homenageada,
mas, sobretudo, homenageada por viver em um país em que isso é possível
acontecer”, disse ao G1 a filha de Jorge Amado.
A neta de Mariguella, Maria Mariguella, foi a primeira a receber das
mãos do presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), o diploma e
o boton de deputado federal do avô.
Após receber os objetos simbólicos,
Maria foi aplaudida de pé pelo plenário. Da Mesa Diretora, ela gritou:
“Esses deputados amaram o povo brasileiro”, referindo-se aos 14
parlamentares cassados.
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Desculpas
Em seu discurso, Henrique Alves pediu desculpas, em nome da Câmara dos Deputados, aos comunistas que perderam os mandatos.
Em seu discurso, Henrique Alves pediu desculpas, em nome da Câmara dos Deputados, aos comunistas que perderam os mandatos.
“Resgatamos a dignidade do parlamento frente a esse episódio que fez
parlamento sangrar e deixou parcela da população sem representação
política. Em nome da mesa diretora da Câmara dos Deputados e de todos os
513 deputados que fazem parte deste parlamento, peço desculpas a eles
pelo grave equívoco, pela grave violência cometida em 1948”, enfatizou o
presidente da Casa.
Líder da bancada do PC do B, a deputada Manuela D’Ávila (RS)
ressaltou a demora do Legislativo em admitir seu erro. “Foi um erro ter
retirado a voz de 14 deputados desta Casa. Levamos mais de meio século
para ouvir de um presidente da Câmara esse pedido formal de desculpas”,
destacou.
Cassação
A extinção dos cargos parlamentares
ocorreu, em maio de 1947, depois de o Superior Tribunal Eleitoral ter
cancelado o registro do Partido Comunista do Brasil. Os comunistas
cassados haviam sido eleitos, em 1945, para integrar a Assembleia
Constituinte de 1946 e também para a Câmara dos Deputados.
À época, o PCB recorreu da decisão ao Supremo Tribunal Federal,
porém, em 1948, foi editada a Lei 211/48, que extinguiu os mandatos de
parlamentares vinculados a legendas partidárias com registro cassado.
Em 1988, os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concederam
o registro definitivo do Partido Comunista do Brasil. A Justiça
Eleitoral, entretanto, não recuperou os mandatos dos parlamentares
comunistas que haviam sido cassados em 1948.
Blog do Luis Nassif

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