publicado em 8 de agosto de 2013 às 13:31
por Luiz Carlos Azenha
O livro acabara de ser escrito quando explodiram as manifestações de junho de 2013, inicialmente em São Paulo.
O autor, economista João Sicsú, doutor pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro — onde leciona — não precisou alterar o texto. Pelo
contrário: segundo ele, o conteúdo já apontava para a nova pauta dos
trabalhadores e da sociedade brasileira. Os consumidores agora querem
ser cidadãos plenos e, portanto, exigem serviços públicos de qualidade.
Porém, depois das conquistas dos últimos dez anos, obtidas como
resultado de um pacto em que tanto trabalhadores quanto capitalistas
ganharam, Sicsú acha que “a nova pauta exige enfrentamento”.
Exemplo? Para melhorar o serviço público de saúde, será preciso
enfrentar o corporativismo e os interesses das grandes empresas de saúde
privada.
Sicsú contesta a ideia de que falta dinheiro ao Estado brasileiro
para atender às demandas da população. É preciso, isso sim, realocar os
recursos — reduzindo, por exemplo, o pagamento de juros da dívida
interna.
O livro “Dez Anos que Abalaram o Brasil“, que está
chegando às livrarias, é um balanço das mudanças econômicas que
aconteceram no Brasil desde o início do governo Lula.
Para o autor, o gráfico acima, que aparece na página 62, é essencial para entender a profundidade das mudanças.
Sicsú acha que o que ele expressa é mais relevante até mesmo que os
dados do Índice de Gini, que registra aumento ou diminuição da
desigualdade entre os trabalhadores.
Já a relação entre massa salarial/Produto Interno Bruto é um raio X do bolso dos brasileiros.
E o gráfico acima comprova que, se os capitalistas ganharam muito
dinheiro sob Lula, os trabalhadores ganharam relativamente mais.
Em 2009 os salários passaram a representar mais da metade do PIB, 51,4%.
O balanço que Sicsú colocou em livro é uma tentativa de evitar que
aconteça o que parece desejar a elite brasileira, que se manifesta
diariamente através de sua mídia: apagar a história econômica da última
década, ou atribuí-la apenas à continuação das políticas de Fernando
Henrique Cardoso e sua turma.
O leitor Antonio Machado detectou isso num recente artigo do presidenciável Aécio Neves, na Folha de S. Paulo.
Levando em conta que fiz a entrevista com João Sicsú instalado no
bairro do Higienópolis, em São Paulo, incorporei uma entidade tucana e
fiz algumas perguntas provocativas a Sicsú.
Exemplo: não é verdade que FHC debelou a inflação e abriu as portas para o crescimento da era Lula?
Sicsú reconhece a importância do controle inflacionário, mas situa
historicamente o que aconteceu no Brasil com esforços paralelos que
também ocorreram na Argentina e no Equador.
Afirma que o controle da inflação não teve as repercussões sociais
que pretendiam os presidentes dos três países, tanto que Fernando De La
Rua foi expulso da Casa Rosada, o equatoriano Lucio Gutiérrez fugiu de
helicóptero e Fernando Henrique Cardoso sofreu derrota política
fragorosa.
Quem assentou as bases para um verdadeiro crescimento com
estabilidade, argumenta Sicsú, foram justamente os governos de coalizão
liderados pelo PT.
Não por acaso, apagar a memória do sucesso econômico deles é
fundamental para o futuro do PSDB, diz o autor: “São anos que não
interessam às elites brasileiras. O povo apareceu. Teve emprego e renda.
Isso transformou os aeroportos, por exemplo, em espaços
‘desconfortáveis’”.
O Brasil, afinal, deixou de ser um país organizado apenas para servir às elites, argumenta João Sicsú.
Clique abaixo para ouvir toda a entrevista.
Viomundo
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